Pará Ilustrado - 1943

-~============~~==================• Jt\ YNlE Pt\ZUEllO & ·co.NlP~ 8HPORTADOR8S e com1ss1on1sTAS RUA 15 DE. NOVEMBRO. 157 BE.LE.M-PARA'-BRASIL CAIXA POST N_, 304 - Endereço Telegr_afico: - MARACAJA' . Deposito: Manoel Barata. 51. U.zina: 28 de Setembro, 537 TELE.FONES ( E.scrilorio. l Deposito, Uzina, 1640 1368 1129 CODIGOS : _ Borges. Mascolfe. A B C 5a ed. Bentley's Parliculares e Universal. •·===::=========================• (Para á tristeza de Nelde Sllva) Lafs e Renato! Pequenino e humilde roman - <lo passado ! Lendár!Ja fa,ntasta. de um modesto recanta á beira-mar, onde a vida. era UDl sonho suave ! Duas almas unidas por Deus. Dois sêres nasçJ.dos pare. o me.s– mo d-estlno !.. Amaram-se ainda no berço . PMSa.ram · <ks:ôno d-esi:,uldado da iMãncla para o sônho da adoles– cência. Lals, melga, sincera~ e bôa . Renato, alegre, Jea,l ~ descul– da,d~ . Filhos de gente mJOdesta, ti– nham, no entru:_ito, na. d'roD.te, au– réola das almas evoluídas. El, quando a tua, lá no céu. pra– teava a rolidão, ouvtam-se os ac·5r– des rna.v!osos de --Y..ózes,. um&- can– ~ de amôr fellz f-antâstand-0 o cenário delicioso daquela na.ti :, ,e- m ... -1:1- Um d.la (e talvez fôsse êste o mais infeliz para ~la) = gran– de embarcação aporta, áquel~..s p'.lá.ga.s humildes. Extrange.fros, a.rriba.dos, busca'Vl!m um timonei,· ro porque .falecêra e. bordo o ve• lho nauta, que durante m'll1to3 anoslvelejavà aqueles recanws ((e mares . Sentiu .Renato que a sorte !lhe 20- 2 -19+3 I sc.rria. Era esta a única oportuni- dade de sua, vida modesta. . Era ~ reallsação do seu. sônh0; navegar as águas misteriosas e pr~ndas do oceano, conhecei terras distantes e clv!l!sa.da.s. e, sobretudo, tornar-se g,r11,nd<-: aos olhos de Le.ís... E calcando o · coração, fazendo ln!finito sacrif!clo, contratou-se para bordo do vel~!ro. - 1:1- Foi tão triste - a despedida ! Lá fóra:, a nãu poderosa, toda- em- 1bandelrax:ra, enfunava as suas vé · las, prestei:, a sLngra1:. as á.guas do Gceano... Cá em terra, num pequeno ro– ohêdo á lbelra, da pi'a-là, tendo Re– nato· ao lado, 1.J!!.fs chorava cÓnvul– samente. -Vais partir; Rena.lo ... Partes, mas levas a minha vida., o meu coração. Quem ~ déra -morrer, neste mo_mento, ao receber o teu beijo de despedida,. - Cala-te, Dais ! Não procures interromper o meu destino . .. -<lnteNomper o teu destino, Renato ? Que ~ importam as gmJlldeZM ? De que· me BeI'VlrAo as que trouxeres? Não sou tão f('. 11z aqui, pqbre e selvagem, ao teu lado? - L-afs, pelo amôr de Deus, aju, da-me l Não me detenhas ! O destino me convida, e é por ti que ·eu parto,.. . f. minha ambt– çã:o és tú. Não te posso ter, !nut-11 como sou. Quando eu voltar, brev4'. homem tempel.1a.do_pela ~"1v1ll.:a– ção, constnt!remos nô.sso nlnno, um palá.'Cl.o todo en.,aalanadc re– las ilusões ... Quem,sou eu hoje? Pobre, desvM!do, slmp,les rutscador. Tú, que representas minha vida., terás que partilhar com a mlnhà sorte ! Sofire, poi,s, comigo ! va– mos tentar, com sacrift.c!o, reali– zar o nosso grano.e sônho de amôr! E ' por ti, apenas, que parto, que sou ambicioso ! Não vês como chó• ro? Lafs ! ! i -Amb!ÇM ! maldita ambição ! Renato ! Não ,j>rofánes ma.is o n<15..."'0 amôr. Amôr e humildade:-• els o que é a felicidade. '.Mias, si queres, partilho contigo o sofri– mento. -Laísi ·- Si voltares um d.la, Rena.to, estarei á tua espera, morta ou vive.. Si viva, contemplando estas va– gas, de hoje em ·diante, compa– nheiras illf..eparave!s da minha saudade. 51 morta, ao pé deste roohêdo, oontemplanclo em esplr!to a vas• tldáo dos mares, em busc::a do teu ba~l. depositãrio' das minhas ilu– sões' -Vo~tarei, La.is Deus é justo · e bond=. · Jura, sêlbre este C."ll– c!fixo, meu amôr, que esperarás, con!tiante, no meu regresso.. . Beija esta imagem, La.is, para, se– lar o teu juramento. . . - Juro, perante Deus que nos ouve, que esperarei e te ~erei f!él eternamente... E, todos os dias, ao cair da tar– de, 1á estava a fig:uTa tristonha de Laf.s, procurando divisar ao longe a sllhuêta do batél ausente . .. Fa.zla orações a Netuno, ped1n– . d'O-lhe que lhe enviasse o seu · querido batél. Passaram-se inverno, primavera e outôno e a roda g!ga,ntêsca do tempo continuâ.va a girar no va– sto de sua alma. E ela. ali estava, alquebrnda e triste, vencida, pela saudade, quss! céga pela ação inclemente do f:.'.>l a e•,pelhar-se sôbre as águas . .. Al! estava a sonhar com o ~u amôr, a ·evocar o seu sonho - juramento lfe!to á ,beira-mar, no a>l<tar da dôr ! -1:1- Três anos eram passados ! Trê.s ,anos de dôres e d~ tonnento& ! E lá estaiva a figura. do martí– rio, a saudade, sôbre o rochêdo das tlusões, a susp!ra,r. . . a sus– pirar .. . Ha/tlltuarnm-se os pescadores com aquele vulto contemplativo e triste. Denominaram-no a Fada . Gertc dia otaram esses homens do mar que a JF1ada, que durante tanto tempo se prostrava em vi– g!l!as no roahêio, ali não esta– va,. • • Souberam logo que esta a:– doeêêra,.... E o Oceano, como si sentbse a falta dessa figura amiga., enca– pe-lára-se por mµ!tos dias, raivo– so, indômito. PARA' ILUSTRADO Maa eis que, num dia límpld.:i de prima.vera, lá ao longe, no ho– rizonte, um pen~l:l ele vélas bran– cas, como cisne . E aos poucos o' penfil se agigante e um barco o barco de Renato, a,vança. lenta• menta para o porto ! ... Era a náu extrangeira que aca– bava de ancorar... E, neste mesmo dia, vencendo a fraquesa,, Lais, por um extraor– dinário pressentimento, ampa1·a– da em /braços amigos, escalára •o pequeno rochêdo, e assistia, emo– clona<ia, á >Qhegada da embarca– ção. Nem um sorriso. . . Nem uma. lágrima. . . . Seus olhos oontemp1a– vam extáticos toda a cêna que ~e desencadee.ya. Olhava Óomo si esperasse um grande aoontec!mento -.::: desem– lba.rcar o ISe'U querido Renato ... Mas o ~~e. não se realisa- va... Tudo era silêncio .. • E dominada pela emoção recos– . tau-se á pedra e meditava... De repente, sentiu que lhe to- cavam o ombro. .. . tAlg'llem, -paternalmente, retendo á custo as lã.,<>rlma&, murmuraVl9., oompassadamente : ~ "Trago-te, pequena, o último beijo de Renato. Ao morrer, os– culou demoradame,nte este cruci– : fl.xo, <ilzendo rer êle o depositário do seu último beijo de amôr... Oh ! Como eu o tenho guardado para conservá-lo puro como, o recebi ... º Um grito lúgubre ecõou no es – paço I Láís, toda desgrenhada, beijava a Imagem, rasga.ndo as carnes n.um ,a.ssômo de loucura .. . Com o seu amôr extlngu!ra-sc– lhe a ramo! -J:J- No dia seguinte, um ataúde co– b.er' to de flôres, ,;.U1bh1 lentamente a colina agora sol!tária... Mãos -piedosas iam ali deposi– t!lT o corpo da pequena fada, p!lra que ela., em esp!rito, continuasse tía sua. eterna vigília pelos anos sem <fim .. . Conta a lenda que, durante muitos anoo, ao pôr do sól, .um beija.-flôr dardejava fel!z, oscu– ,lando as lfllôres, e qued'ava-se tris– te e. oo•ntemplatlv<i', sôbre uma grande roseira, ao pé do sepúl·· cro. E dlz!a,m: "'Era a alma de Renato enc:an~ ta.da n'l.lIIl pássaro, beijando a alma de Laís encantada, numa fÍôr ... " ONEIDE LOPES r

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0