Pará Ilustrado - 1943

O::::::::::::::::.:::::::::::::::::::::::::::::::::::.:;:::::::::::::;::::::::::::::::.:;:::::::::::::;::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::_!O ~ ( De Manáus, Especial Para PARA' ILUS~ADO ) Lá fóra, entre o arvoredo, entôa a venqmia º' ICIDA oe OURIUes N.o silêncio da noite uma canção funérea,• DE- E parece que vem da vastidão etérea Um queixume qualquer . .. Profunda nostalgia . .. Ernesto Macciani De repente a procela estala. A mataria Agita-se, febril, numa batalha aérea, Trabalha em prata. ouro e platina- Executa qualquer serviço com perfeição e a preços modicas Quebrando de um só golpe a quietude e a féria Das noites de verão, tão cheias de alegria ! Vôam ninhos pelo ar. . . Palpitam as vidraças Ao fragor dos trovões, e a estrada lamacenta E' o espirito da noite a ·predizer desgraças . . ·. Oficiais habilitados para dourar e gravar forno elefrico para fundição de platina RUA 13 DE MAIO N. 271 De um relámpago a luz ilumina os espaços e RUA PADRE PRUDENCIO N. :;o E clarêia esta alcôva, onde em fúrias rebenta O louco furacão dos teus beijos e abraços . .. Telefone, 122 Pará-Brasil HIWEBRANDO OLIVEIRA (Continuação da página 25 COMENDADOR : Pelo meu bo . . . ? file tira o boné, exami– na. o l:nter!or, ttra um bilhete que o lê pondo– o no bolso do colête; e como Tótó ri-se ás gar– galha.das, furioso com um olhar o faz calar e, gesticulando, percorre o palco. Bonito!. . . vou eu agora a servir de caixa. do correio e d-e car– teiro. Parando e severamente. Póde agora a se– nhor-a dizer-me como velo aquilo parar no meu boné?.. . · z:ez:t: O papal prometeu não se zangar. . . só as– sim eu contarei. . . O comenda.dor sossega-. o H-enrlque vem aqui duas vezes por semana, pa– pal faz sua partida d-e gamão; ma,mãe não nos tira os olhos de cima; é lmposslvel engana-la; foi por Isso que imaginamos o seguinte: Hen– rique esconde seu 'bilhete no boné do papal, no cabide; e eu ... tirando o avental e baixando a ca,beça: eu. . . ponho a resposta no mesmo la– gar . Tótó está. se torcendo de riso numa cadei– ra. O comendador !furioso, passeia gesticulan– do . COMENDADOR : Está. bem ! está. bem !. . . Em aparte. Bo– nita astucia ! -P.asseando . Que patifaria ! Sor– rindo. Tambem eu, quando namorava a Zefl– r-lna ... TóTó: . · Que ouviu. Que fazia o ,papal ?... COMENDADOR: Em aparte,. caindo em si. . . Estou a me lembrar de cousas ! .. . Logo que pedi a sua mão em casamento, tive minhas entradas na casa de minha noi– va; ai a encontrava e conversava com ela em daxmos a trocar b!lhetlnhos ás escondidas; era presença dos pais; não nos era preciso an– assim na nossa geração; mas vocês ... TóTó: Ora, papal ! Nós nascemos no século do progresso ... COMENDADOR: Bonito progresso ! Ouve-se a vóz de D . Ze– flrina. ralhando uma criada. Lá. vem a sua mãe, mudemos de conversa, senão as causas não hão de corr-er como vocês querem. D . Zeflri– na. fica parada á porta, com a ·cara zangada, tendo na cabeça uma touca ,posta á banda. Es– tão em exame na Academia, já prestastes al– gum? TóTó: Sim; papai ... já fiz duas provas escritas, e amanhã tenho outra. D. zeflrlna aproxima-se . com um papel na mão; com um gesto impera– tivo faz sair os fllhos. C-SNA II O COMENDADOR - D. ZEFIRINA COMENDADOR. : Em aparte. Ela vem com a touca de ban- da; temos cousa grossa !... Prepare.tru>-nos pa- ra aguentar o temporal .. . ZEFIRI~ A: Preciso falar-lhe a sós ... COMENDADOR: Que aconteceu, minha querida ? -36- D. Z E FIRN A Furibunda, avançando um passo. Agitan– do o papel que tem na mão. Você conhece Isto ? . . . Monstro ! . . . O comendador recúa. Perfldo !. . . O comendador recúa. Traídor- !. .. O comendador recuou, chegou a mesa e espan– tado apoia riela as duas mãos por detraz, meio sentado; ela lhe agita o papel debaixo do na– riz. COMENDADOR: Eu? ... · D.ZEFIRINA: Sim ! você ! grande desavergonhado 1. .. - Quando fizer suas asneiras !óra da. casa, seria bom que não perdesse no corredor as cartas perfumadas de certa delamb!da ... .Leia ! En– trega o bilhete _e chasqueando~ Sr . Comenda– dor,... Don Juan de uma figa !. .. COMENDADOR: Percorrendo rap!dam'ente o bilhete e cain– do sentado Tindo as gargalhadas. Ah ! ah ! ah !. .. já com,preendo tudo ... D. Z E f I R I N A : Furiosa. E o miseravel está se rindo !. .. Havemos de nos divorciar ... Oh ! se have– mos ! . . . Cae numa poltroÍla soluçando. Sou bem desgraçada !... COMENDADOR: Em aparte. Oh ! que idéia !. . . Tira do bolso o bilhete que era para Zézé e aproxima– se de Zeflrina. . E. V. Mcê, Dona Zefii"lna, póde dar-me explicações a respeito desta beleza ? ... D. Z E f I I{ I N A: Pegou no bilhete, leu; ,pond:o os óculos, le– vantou-se e faceira vai no esp!!lho concertar o cabelo, dizendo: E' para 14e provar que não sou tão caco velho como já me disse na ca– ra !.·.. que há. ainda rapaz de muito gosto . .. não leu então ? Lendo: . Querida Zézé . Foi ontem bem -cruel a Sra.; esperei até ás onze horas debaixo de sua ja– nela; á noite era medonha; trovejava-e chovia a cantruros, e nem assim apareceu .pára dar– me as bôas noite. Henrique. O comendador torce-sé de risos. Ao co– mendador.· Ouviu ? quer mais provas ? COMENDADOR: Fazendo esforços para guardar o sér-io. V . Mcê leu este bilhete inteiro ? Mostra o que tem na mão. D. Z E f I R I N A: Não tinha os óculos, m'as li o bastante: Querido Tótó ! .. . COMENDADOR: Pois bem, ouça. Lendo : Querido Tótó_ Escrevo-lhe á pressa. Não venh.!l, hgj.e.:, amae sabe de "tudo e não me deixará mais ir à ja– nela. Lu!z!nha, nossa crladlnha, quebrou o lindo jarro que me déste no dia <:le meus anos . Ralhei-a muitlssimo e para se vingar foi con– tar nosso namôro par.a mamãe. Procura ar– r-anjar outro meio . . . Tua Margarida. Dando o bilhete. Leia e verifique ... D. Z E F I R I N A: Espantada. O que vem a ser isto? COMENDAD-OR: Carinhosamente. Minha bôa Zef!r!na. já se nos foi o tem,po de nos chamsrmos Tótó e ·Zézé; há um bom- paa- de anos que legamos êste., apelidos aos nossos filhos ... PARA' ILUSTRADO D. Z E f I R I N A : Zangada . Já. percebo ... êstes pirralhos es– tão namorando !. . . espera, que já. os ensi– no . . . Zeflr!na ! . . . Antonico ! ... COMENDADOR: Não, minha bôa mulher, não vás molestar estas crianças ... deixa que -eu me entenda com êles ... c i;: NA m COMENDADOR - D. ZEFIRINA - TóTó - z !'!: z !'!:: Entrpn. Tótó e Zézé, fingindo de acanha– dos . TóTó : Mamãe nos chamou. COMENDADOR: Fui eu. . . Ouçam lá, meus filhos . Ambos são muito novos para estarem a assumir ares– ponsabll!dade de uma familia. Nós cá, sua. mãe e eu, de namoricos. em casa, não os queremos; cousas que lhes esvoêjam lá. por cima, por en– tre nuvens .. . não está direito. Não se lhes deixa colorir a Ilusão"; vocês crearam uma si– tuação que não se deve prolongar ? Eis o que d:cidimos eu e a v~a mãe : Anto,nlo Irá. para Sao Paulo concluir seus dois últimos anos de direito; Henrique, por sua vez e por um perlo– do igual, !ré. assumir a direção da nossa agen– cia, em Manáus . E se, passados estes dois anos de prova, ainda guardarem .os mesmos senti– mentos, será., para seus pais, uma gr.ande satis– fação casa-los com os -eleitos de seu coração. TóTó-Z:tZ:E: Obrigado -papal ! · Obrigado mamãe ! Abra– ços. CO -MENDADOR: Apenas me resta acrescentar algumas pa– lavras sobre o perigo da janela. . . Há pouco, sua mãe queria se diyorciaT ... Z :ll: Z:t -·T ó T ó : Mamãe? · - - COMENDADOR-: Sim. O Sr . Tótó perde no corredor da casa um bilhete de ·sua Margarld-a; sua mãe o acha; tambem Tótó era meu apel!do antiga1I1Jente, de modo que ... A mamãe pensou !. . . Bôa I quá ! quá. quá. ! Cal sentada numa cadeira rindo. TóTó : ... que o pwpai estava namorando !. .. quâ ! quá I quá ! quá ! cal numa cadeira se torcendo é os pais se olham estufactos. C O M E N 0--A D O R: - Em_aparte-.--Já- se -v!u isto ? ... Então estes pequenos julgam que não seria mais capaz ... Z. Z E F I R I N A : Que ouviu, beliscando-o. Bem sei, seu maga.não I E' por isto que estou sempre de ata– laia !. .. COM EN D A D O R : A! ! a.! 1 EsfTega o braço, e vendo rir ainda as crianças, _za-ngado, marcha pa,ra elas, depoi.'; pára, sorr!ng.o. Está bem, está. bem ! . . . Ao _públ!co. Não há mais crianças 1... Corre o pano. DR . A. STIÉVENART. Junho - 1919. 20-2-1943

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