Pará Ilustrado - Março 1942

,1.. . I • / r-,. • • • • • • • • • • • '1'....... ~ •• -'i\:.. ---~-A ~ A- A~A " • • 000 "1° • ("\... .i<~. ~~ de. 1.JO -¼DG, _ a " (.A>l,eUe _ ~oea. - 11 1f1c'"4 ct~ r •flld . ·_ '.t!__~ á6 que~ - '}iãt,. ,equuuo.u ,ie,a.4",,,, io~,iuctta - Z_i~ct!' ·_,.· ~ t.~t~r-·"". a.o. w&u-~ ~Ide áa •• 11,,a,ja , e, ~ , /J,6t/a, ~ \ •-\J:- : Jenny é a .Colelle, carioca. disse-nos Nathalia Clifford Barhey. na nossa prosa de despedida lii em Paris. E aérescentou: .E· um tempe– ramento arlistico exuberante ; o sopro vivifirndor da Natureza ba– feja 6 sua ,obra . Não extranhe. Jen!!y, como .Colelle,, nasceu en– tre brenhos. E sente essa p:iixão pela sinceridade, esse amor pelo verdade. dos que se criaram com o rosto ao sol. em face ii pfenilu– de da vida . e não alraz dos vi– dros foscos de um aparlamenlo de • cdificio da cidade. ou nas trasei– ras de um desses eslobelecimenlos sombrios que recebem a luz indi– retamente, através dos cristais de uma claraboia. A •6m6zona,. minha maravilho– sa compatriota, que embelezou com o seu amor as ultimas horas do gtande fllestre Remy de Gourmonl. Nalha+ia Clifford Barney. ainda me disse mais: •Jenny. como cColetle.. é a replica vitoriosa iis Concordia Mer– rell. Delly. Berla Ruck, Zenaide . f leuriot e ' ouIras pobres mulheres que empregam os restos da sua agua de lavar pralos para escre– ver esses livrinhos t{ue el6s qua li– ficam modesl11mente de enovelas bra ncas,. Peneirei em um esfur.Jio de pin– tor em C opacabana . Urna forte • corrente de ar rnanlern a poria aberta de pnr em par. E o infe– rior é Ião semelhant e ao dos ama– dos esludios da •Sagrada Colina• que , por um momento. esse ar me parece o mesmo de Montmartre . - .Perdão, enganei.me• . digo em voz alia. retrocedendo. .Eu não procuro nenhJJm pintor. Eu . . • Mas .. . não me enganei . Esse es!ud io, com a elegancia boemia do de Picasso, é o de Jenny. Temos, como em •Colelt~ •. um caso de dupla personalidade arlis- • fica. De preferencia o ser acode– mica da frança e do Belgica, em vrz de •imortal convencional•. .Colelle• quiz ser donsarine , exi– bir as suas pernas impecavelmente torneadas. seu busto apetitoso e opulento , entre o lumulto de luzes de uma ribalta de •music-holl• . ' S e Jenny tivesse querido ... JENNY PIMENTEL DE BORBA Esl6 moren6, bonila e dengosa eomo Ct1rmen rediviva, espelacu– l6rmente formos6, que exilos não teria conquistado 6p6recendo onle as baterias do p6lco cenico ? lnlllginem-na. par um momento . repirnndo. com os dedos ngeis 65 castaRhol6s, lraç6ndo com os pés ligeiros os arnbescos d6 dansa. com o sorriso roub6ndo-lhe luz aos olhos agt1renos incomparaveis. Solta a mola de seda de seus ca– btlos, coleanle a cintura , excitada pelo ritmo c6ndente de fond6ngo , tremulas. 6nel6nles, as magnolias do buslo. magnifica e sensual como a Sulamil6 . . . Mas Jenny, grande premio in– disculivel de belez6. preferiu em (roca - quem chegará a compre– ender os caprichos da mulher? - a arle eslrilamenle reserv6da iis feia s. Ouiz penas, não p6ra enfei– t6r chapéus e sim p6ra escrever romances. As romancistas costumam ser umas mulheres potelicame.ite feias que se consolam dos seus fracas– sos sentimentais no mundo da realidade. imôginimdo episodios amorosos e escrevendo frases mei– gas que leriam gostado de pro– nunciar ele viva voz ao ouvido de um auten lico ga lã . Outras fazem-se pintoras. E re– produzem sobre a Ida a figura vi- RA' ILUSTRADO . • . 1- -t . . . , gorosa do homem sonh6do. •·qu 6nles se pttreci6 com Rodolfo Va lenlino e agora ~e asle~elb6 Robert T6y lor. Jenny. W61kyri6 --: Rainha , mu- .\ ' .._ lher vitoriosa. louçã -e mogniflc~ lt:ve a subl ,me, lemeraria •coragem_-~,·( de quebrar ess6 velha lraJição.. li-, _,, leraria. ..,,. E' impossivel que uma mulher bunila escreva como uma feia, como .tiio pouco Wilde. Ornusl ou Gide podem escrever comÕ Ücla– ve Feuillet. Georges Ohnet, ou Vicl o r Cherbuliez. Jenny não pinl6 g6lãs de fan~t ~- , . sia imaginali~. nem nos seu!;"' i=" vros nem nas suas telds." -Seus · i-._ · .' · « . . ) . . . .. pos, opos!os enlre si., mulliformet •, ricos em va!ied6fles. são oulros "' ,' .~– lanlos t val.wres» ' ~ue a escritora \ lomou ~a 'rea~aiTe. como o nalu.- . •,· ralisla q.it ,s~lhe 65• maripos~:; ou os coleó&le~os para cÕiQ':, '.!' ··.---P.!.– cnriquecer as suas ci,leções . • •As personngens d~s ~eus ro– mances,. disse-me Jenny, Pimentel de Borb6, •poderão ser encontrà- d6s mi€ de uma vez nos onibus • • nos c inos. nas repartiçws pub~ ca~. <ls leiiltos, em qualquer re~ · nião ·rmiTiar.. · f .Etl não posso declarar. _como .. ... ,. outras •rom6ncislas. que criei os :i. , tip~s de i:neus • romances. porq 4 e · ·' · seria mentir. Nao se pode copiir do natural sem modelo prév •' · · . Ouando~s personagenns são me: · ' ra criaç da fantasia. o romãnce deixa d ser aquele fi el reflexo da vida que queri6 Stendhal. e fica reduzido a um grotesco ·..guignol, cujos bonecos ~rilica forã m ilo bem em derru f ar a tiros.• .Porque as minhas personagens sã0 realmente de carne e osso. e falam. senlem e sofrem como O , • comum dos mortais, que_lhe Põre-"' : .. ce que chegaram a dizer ?. ../ •Üue a senhora não escreve ·ds seus livros,. apressei-me a repl "– car-lhe.. •Üue lem um autentisr, romancista enomorado. cativo _.Sm um subterraneo, e a quem só t'õn– cede um beijo quondo ele lhe en– lreg_a um capitulo de romance. d ~v1damente corrigido . E' 0 mes– mo que se disse de George Sond. (Con tinuo no pog. .J.J) 28 - 3 _

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