Pará Ilustrado - Março 1942

• , ' . . ,· • Creança ainda e Fausto logo sentir.a e experi– menta ra os mais crueis revezes do mundo, de um mundo cheio de fantasmas e miserias. _ Infeliz desde os albores da meninice, os seus labi os quasi não conheceram risos. O mundo o apontava s empre. distinguindo-o da bonança, se– parando-o do conforto mes~o· pequeno. Não co– nh ecera pa is nem ami gos. Só. Absolufamenfe só. A desgraça o havia isolado do resto da humani– dade. Ninguem so fria como f aus to. Luf ando sempre e in!emeratamente contra todos os des ígni os da sorte ingrata, a cada passo sen– tia qu e a vida o sufoca va, apa gando-lhe da men te as– pi rações as mais modestas e por isso mesmo doloro– samente sinceras. Os ho– rizontes que se lhe defron– tavam eram todos nubla- ~ · •dos, escuros, sem sopros · · de vid a nem raios de es– erança . P arecia viver ll ropri a morfe. igura desco lorida e ba– de ve rdadeiro pana . us fo a bandon ava a s i ~prio , e considera va-se en– tão o malogrado filho de uma civilização madrasta . de um mundo di verso qu e 1 a {udo re negava . Não po– d ia vive r do passado por– que não o tivera jamai s . O seu passado fôra vazio . cheio de maguas e de som- bras. Porque vi ve- lo então ? Recordflr se ria a umentar ll ~ua desd ila , o seu inforlu– nio. a s ua dôr. A su a grande e eterna dôr. Fausto camba leava enfre os homens, como que per– d ido e humilhado. Busca ndo os bancos dos jardins solitaríos, fa~a de les os confi denfes da s ua desventura . • Mu rmura va , fa lava baix inho, s ibil ava apenas . Te– mi a que a lguem so ubesse a s ua hi s tori a. Uma his toria tris te, s ub limente tri s te. cheirando a pa ixão e a saudade. Faus to pa recia a li viar os seus pe– t:ados. Os pecados do bem. Si m, Fa usto nunca fôra mau. A 's vezes, entretanto, blasfemava. blas– femava . . . Indagava de Deus o mo tivo daquele penar. Oue fizera? Porque aque la classificação hedionda qu e o atemorizava tanto. Oue ma l pra ti cara? Oueria saber! Oueria saber enfim • . . (D~aJffi1i.[D(D. . . . ·-<,. ··1 ' I • • • ~ . •• · ~ . . . . ._ .. , . r.í'\(DlllÍll □~ ... '-i ·; -~ • . . WJ ' wL!J e!) .; • ·.; ·: · .; f" ~ .. 1 • . ••• • •• . • • • •• ••• ! • .• . ( . • . , a razão da sua c-lesgr~~: Nunr.a fôra~ fefiz· ~~ ·. -: •. , :: 1 ' a maldade só está onde existe ieJicidad@-. · .' (, · Faus to chorava muito larrkP1 tando â s ua· .mis'~- . -<~:. · E d f'f, • d • . -L "' ··-, ria . queixava-se ~ .•1../f'J]s, os. an1os, ~s • • • · e - , . • ~- .. eus... • . . • · ." -.-.: · •·"'" '. ( Fausto desesperou. Des e1ava urr.a cr~z• . • v~J. • • ·· "l .-; . uma cruz, enfim, símbolo de fé, reduto cris- , .... ~ tão onde as almas como ·a,,..sua , em prl\:es .co- •· moventes, fogem ao turbilh ão da agoi;iia • pa ra encontrar o conforto da 9b~éil'vição . Fal.}~lo ,queria s er absolvido, ter redimidos os s eus · ptcados, os seus temíveis pecados. Procurou o Cnr-. zeiro . . Viu-o altivo como a promessa , forte como • ~ .' razão, grande comp a propria Fé . Fausto. aprcí- • xim'bu-se, então, c..1rvaRdo os joelhos sobre o pedestal ~o.. , siQ1bolo sagrado , mar.:. /..' ·. co · g.ue. ilumi na as esír~ ... ·,\. 411 d ;d p , ! . . . ; ,.. • : • • '·'• as o ara1so. -:'-;; · · -·: ·· ~· .·· · -, .. -\ ::."t- · ~ .' ... • . .. , . .. , "\ Oraçêje ·-:-· -~·-. ~~squeciíla \ •. - . • • salta~am\ _;m-~a ngalhos dos • • / labios d~Fa.sl,o, que ~co meça~éP nsentir go gua éJ 1~ ~esce r.~ el(,l ~< vind as do Céu. ·.Chovi . . . natureza chorav~ . soli d- ria á desventura "do iri fe!. li z. i • ~st9, s~ntia-se d~i ~ ;;p"' te•• ~rnnho , q1 · - -1 empolgado ~ai, lagre. · X . Os céus · de n ens e ssas. mamen -0 pôrec1a e ma ~rlrgem .ele !<) .- . Tudo escurecia-; · ameaçava. Trevões ronca– vam ao loti~ faze ndo sen– tir ao homem o poder de Ckus. D e repen. te ludo clareou em chamas. Um estrondo avassal ador fez tremer a terra , s acudi ndo-a desde os a licerces. Ti rano como as espadas, um raio desceu vio lento, pu jante, fazendo lombar, ao lado de Fa us to. arvores e ramais. O Cru~e iro . a ludo _res istia impassível ~ e fau_sto senbu ali t1 encenaçao da morte, 0 mais ternvel de todos os dramas. E isto era O qtl~ Fáusto desejava, entretanto, Fausto queria mor– rer ... -28 - PARA' ILUSTRADO 28 - 3 -- 1942 1. •

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