Pará Ilustrado - Maio 1942

,f I • • •• • • • • PROFESSOR CORNEL!O PEREIRA DE BARROS Na homenagem prestada na Escola Normal. ã m~moria do an(igo meslre, professor Cornelio Pereira de· Barros. com a inauguração do seu refrato nos salões . da Con– gregação, a professora Naide de Vasconcelos proferiu a seguinle oraç ão : Não está, hoje, a Escola Normal num dos seus dias festivos. Nem a louçania das flores... a so- n9rl~ade dos cânticos .. . a magn.ifi- cencia das orquestras. .. o ciciar dos risos . . . a ressonância das vozes. .. a expressão de transbordante alegria nas faces dos moços ou de discreta despreocupação nas dos que já dei– xaram a.trás o esplendor do meio– dia da Vida .. . Reveste-se de pesado luto ; envolve– se nas dobras de crépes austéros para lembrar, saudosa, comovida o que vem de a deixar para sempre. ' Se não junca de pétalas de goivos ou recama de lirios rôxos o logar que foi seu durante mais de quatro :lé– ~s. nesta Casa, a geito do que fa – ~m. nos tempos medievais, os Ca.a– leuos sobreviventes, glorificando o companheiro que tombãra, no decor– rer do prélio, homenageia-o de outro modo. Promóve, em sua memória esta sessão solene, da qual parti.cipain. os mesmos que o despediram ca rinho– samen te quando, após quarenta e tres anos de labor ininterrupto, se deci– diu a en cetar uma fase de mereci– do repouso, e o viram, compungidos, finar-se nesse tristissimo 19 de feve– reiro, bem próximo ainda. Está, pois, reunida a Congregação da Escola Normal a fim de prantear a perda de um dos seus mais emi– nentes membros - o professor Cor– nélia Pereira de Barros. E os que tntégram, aqui presentes ou repre– sentados, incumbiram-me de objeti– var, em palavras, o pesar que expe– rimentam por se verem privados dêsse colega leal e amigo verdadeiro. Desta fórma, sentimentos e atitu– des de um são de todos; e o que, par– ticularmente, significaria afeição in– dividual adquire fôrça e poder de so– Jidarledade coletiva. Não imprimimos na fisionomia tra– ços de impresmonante desolação .. . não derramamos lágrimas. . . não sol- 16- _,. J'~ ~fl,~ ~ - á. f ,u,,, ~ . fl-4 . . :- • ~ ~at • tamos exclamações lamentosas ou de– sesperadas . . . A água que se infiltra nas camadas profunàas do sub-sólo é bem ma4, !ímpida que a exposta à flôr da ten-a. A dôr que não extravasa do coração em superficialidades exageradas não raro é a mais intensamente sentida, a mais profundamente real. . . Agasalhamos, no intimo, a mágua que a ausência desse quasi-irmão nos t rouxe e pelo divino milagre da Sau– dade fa-lo-emos presente na lem– brança e no aféto. , "Hoje está vivo o homem, amanhã pode já não existir." Entretanto, o que se perde de vista poderá ser conservado na memória. •• ·* Se refletissemos com o maravilhoso autor de " Vozes interiores " , " Raios e sombras " , "Folhas do outono ", "Can– ções das ruas e dos bosques " - êsse grande espírito que encheu a França do século XIX com um mundo de obras do "lirismo mais generoso, da !nspiraçâo épica mais elevada , das có– leras e sátiras mais veementes " - iniciaríamos. a incumbência de agora, fazendo nossas as palavras de apre– sentação do herói de uma das suas narrativas célebres. "Uma vida - duas datas limitando uma sequência de acontecimentos dos quais o homem poucas vezes foi o a.gente e inúmeras, o paciente . .. Entre uma e outra - a do n ascimento e a da morte - catástrofes e felicidades entrando e saindo como personagens inesperadas " . . . E concluiríamos : uma biografia - conveniente colocação de acontecimen– tos festivos ou lutuosos em datas de– terminadas . . . disc1iminação cronoló– gica de atitudes ativas ou passivas de um exemplar da espécie humana, den– tro de um certo lapso de tempo, sem a preocupação, por parte de quem a executa, de analisar o sentido do que foi vivido ou de compreender a impor– tância do que foi renunciado . . . Mas . .. meditamos ; que vale locali– zar, com precisão, horas de goso ou dias de sofrimento . . . especular o que foi praticado ou recebido, provocado ou aceito, dentro dos limites duma vida que se extinguiu, para apresen- l tar, à moda de boletim estatistico a um público ondé o número de indi– . ferentes excede o de amigos " cem a um" ?.. . Os homens passam . . . Só a verda – de do Senhor permanece. · Convém recordar aqui, por de m:.us oportuna, a triplice inscrição das por-• ta? de uma das grandes Igrejas . da cristandade. A primeira contorna uma éor~1 de rosas e contém estas palav~~s · "}'tido o que nos agrada nãq aurQ se: 1 , nao um momento. " '\ ·· , A segunda, esculpida em redor de-• uma cruz diz · · • " Tudo ~ qu~ nos molesta vive, ape– nas, um instante ". . A última, na base de uma éstátua· de Nosso Senhor ressuscitado é. uma • sábia advertência : · • . "Só o que pertence a Deus é eter- I no". •. ,. . . Filho legítimo •cto major Cornélio . ·• Pereira de ~arros e de sua esposa, s.e.- nhora Rufma de Araujo Pereí.!-a ..... J. ,. Barros, nasceu o profess(;;, Cor.iello · • · Pereira de Barros Junior, aes 13 de dezembro de 1870 na então Jreiruézia • depois vila e m\is tarcte ' · ~ • ·: .; Abaeté, neste Estado, ~ oi::. f estudos primários na e~~ola p,L'. , do lagar de seu nasciment.."> e .. ~ ~.., cundá1ios no antigo e renomaaci s.:-~ minário Qt!_ Nossa Senhora do Carmo. Saído deste educandário em 1880 exerceu dm'ante alguns e v,,; , Q ~i:l!'l';Ó. de professor da escola pi' · ~ . •· - , ue fôra aluno, em criança, •t. • 'áfas– t~ndo, vol~táriamente, em 1893, a fim de matricular-se na Escola Nor~ mal, onde completou o t lrocinio. de professor ao fim do período letlv~ r.l · 1896. Nomeado em agosto de 1897 para reger interinamente a cadeira do ur- so superior masculino das Esc moclêlo, anexas à Escola Norma sempenhou com proficiência e tais funções até maio de 1900, época em que conco1Teu à primeira ce.aeira · . de Português dêste estabelecimento -~ conquistando-a depois de brilhaúte& ,~ · Jtt., .... provas. · (Confinúa na pagina, . ' .. . -~ -~r • • A professora Vasconcelos, discurso pronunciando o PARA' ILUSTRADO 2?1_- 5 - 1924 • •

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