Pará Ilustrado - Junho 1942
, 1 1 --- ~- , . ~nu1:n □ÊnTg tÍ 'I ' AílTOíli O.TA\ 18.RílARD ·· • • flll'.i9~"!f'IF'_M_,_l!a_l!!ll!!!!!l!!!!~•~!!!!!!!!!!!!!!!!!!!l!!!!!!!!l!!!!!!!!!!I _.,., ~- n R.Jofio nt ,oo.49~ 00 20 _ 6 - 19½2 . Corno o -cigarro lhe 1:uzesse ·, :bos labios q r e Ia d os um gosto amargo ;· a · fel. lançou-o ao chão, re~mungando obscenidades. Foi a!é á janela. Fõra, a noite gravida de tem– pestade, boquejava resrnungos sur– dos de trovões, golfava nuvens teuebrosas. cuspilhava um chuv1séo morno e espaçado . . . - Raios de mau !empo l - re– gougou. A um canto da salinha pauper– rirna. desforrada e suja. a mulher, magra e palida. os cabelos repu– xados para traz nurn desleixo de– sanimado, costurava aos vasquejos da lamparina pousada sobre · a mesa. enquanto junto ás suas sai~s. no chão, encaslt lando caixas de.: fosforos va!lias João, o lllho uni- · co do casal. brincava. De tjuando em quando. a medo.. os olhos dizendo da grande von– tade que a bôca linha de falar. lançava ao . marido mal humorado e grosseirn um olhar logo apa– gado pelo hétixar cios cílios lóngos. X X X fiss~. corno lodos os de sua es– pecie. era uma la r miseravel, sem esperanças de melhoria. a braços · sempre depoi-s -de consurnad a perversão, .e nunca jámais como preservativo ou barreire á propa– gação dela . . A Sociedade. ali. envia os seus juizes, mas não manda professores e muito ·me:1os padres; mele-os em cadeias, e não os atrae pora a escola ou para o templo. E. de geração em geraçliõ. como !ara maldita tra~smilida pela ht'redita– ri_edade. tal es!ado de coisas per– severa e!erno emquanto durar a desidia dos responsa vei perpE– luando. em pleno seculo vinte, se– culo em que se acendeu ou incre– mentou-se o archo te multiluminoso da democracia absoluta e perfeita, a casta dos parias. a casta · para quem debalde são derrubadas Bas– lilhas e proclamados os Direitos do Homem. a casta dos que só na aparenci·a .todos são iguais peran– te a lei•. a cast a pa ra quem .niio • alvoreceflil ctreze de Maio •. a cas– 'ia dos que são ol vidados pelas plataformas politica-s. a casta . fi. : nalmente. dos que. nossos legiti– mas irmãos pela rõça e pela !err.a · natal. tem de confessar: • - .Nós não sabe"!os ler. -. !!: l( X " . A ignorancia e o analfabetismo representam atraso, pobresa e inferioridade de um.a nação 1 1 ( Palavras que deveriam estar escritas em Iodas as esquinél'S ). com a penuria. O chrfe - orole– tario e bebado nas horas vagas, -a mulher - apagada . insigni fic ant e. qua si tisica ticei!ando resignad çi o quinhã0 mesquinho que lhe cou– bera na parlilha dos dest inos, ro– lando por dias egua is. de uma sor- . d ide z irnuta vel. inlerpcet ando o drama horrivel conquan to ba na l. que se desenrola . ignoto. por tra z dos paredes desses co'r!iços. igno– beis - valas-comuns de vive ntes. onde seres humanos se ilmon!oam em miscelanea repug na nt e, em pro– miscuida de ab jeta . como detritos num monluro , sem o a po io de uma ass istencia moral. verdadeiros tu– mo res de podridões encravados no o rganismo dé nações que se pre– sam de civilisadas por gas!ar Tios de d inheiro em enscenações apara– tosas no estrangeiro. su~das com– pletamente aos ra, os gritos de alarme erguidos pe las testemunhas de tal descalabre. A Lei . matrona cega e cegada, quando ali peneira . é apenas para castigar. pMa ar– rancar o réo do homisio. isto é, PARA' ILUSTRADO ' · Po r fim. despeiando-se do reM ce io a voz limida da 'mu lher. disse:' - J a ngo é preciso você resol– ver-~e sobre '.se o J oãozinho va i pa rá a esco l~ ou põra a o fic ina. • - Já reso lvi . Vai 1:Jtir a a o fi c ina. - Mas ... - Não tem mas, ·aem m.e io ma~. Ouern mar.da. s't>u · eu , e •acabou75e, pepois . o . me~•. filbo- .'·lêt'n que,.' ser · ana lfabetó cerne o _pa i. Filho· de . pobre não . tem· lutto . ·_E· , prn; ·Ira- · · balh o~ é •pr9 , . o'ftcio. Isso .de le~ . lrB's . é só e pró~ ricaços .... . -~·•.: A mulher d~s:i!ou a chorar . o carpo esqualido sac uêl icro po r ·sO:. luços. conhecendo a · teimo.siá .irre– dutivel do companheiro. sabendo · que, por isso. o fiJ ho: para- ·q~em sonhara, como lodas as mães. um futuro esplendido · e glori-0so, esla– va condenado á mesma gril heta que prendia o progenitor. Encolcrisado , Jango largou forte punhada sobre a mesa , cobriu-a de apodos, ameaçou espanca-la. ( Conlinúa na f)iJgina .30) - 7 - J.. • • , . ' • •
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