Pará Ilustrado - Janeiro 1942

· ,Ando derramando lagrimas pe- : • '-'- tas ruas. Não . Com certeza é a • •• ' . . ·çhuva. Sim. Certamente é o orva– Jho das madrugadas, o sereno da tarde , talvez. Tudo me comove agora . Estas lagrimas vem de lon– ge e eu' não sei afirmar de onde provém, se de uma alegria anliga ou de uma lrisleza recenle. As ar– vores me falam, es tendem os ga– lhos carinhosamente. No ar. a imensa amargura da~ coisas mor– ta5 e sofridas. Tai vez seja o Ou- enn T n tono que chega . E' em vão que . procuro fal ar a mim mesmo; no enlanlo ouço a voz das coisõs e a propria põisagem imponderavel e fluidica me acena. Rosas secas neste iardim trazem pesac!as recor– dações de out ros jardins que ficam no outro lado dõ vidii já definili– vamenle morta. Gosla ria de ficar aqui elerna– men!e , ouvindo es ta musica delica– da e terna até que a morte me viesse arrebatar para muilo longe, porque aqui aonde estou escreven– do, estou apenas esperando a morle. Em torno de mim ouço ri– sadas altas, palestras alteradas. descuidadas, um despreendimento de lodos pela minha agonia. Estou em um bar. Ninguem me conhece. Ninguem sabe da minha tortura infernal. Nenhum dos presentes, com cerlezá , s upõe o que penso , o que sinto , o que escrevo. Em frent e, um pequeno calice. Alcool. S inonimo de morle. Decerto pen– sarão que eslou embriagado , ou que me embriago . Nada disso . Aguardo apenas , filosoficamente. a mort e. Agora quasi nenhuma espe- - rança de sal vação conservo em mim . Ha mesmo absoluta certeza de que vou morrer. Antevejo, entre sombras pardas de uma fumaça extranha , (será apena s a fumaça do meu flórida ?} os meus algozes . .os fuzis modelo mil novecentos e • .\..º~to apontados para o meu cora– J~ao. Ouço lambem os di sparos e . antes a voz lugubre e imperali vt1 ~· de um tenent e coma nda ndo: fo go 1 • E o meu grilo pt1 1·oroso de dôr e fi na lment e a queda do meu corpo. Ant es d isso tudo vi slumbro um alaude sinistrame nt e neg ro, os co– veiros, as lagrimt1'! da minha mu- ••• lher, grilos dos me us filh os, uma nij' e esesperadamen le sil enciosa ~ eu m duv ida vaga ndo a esmo ·r as desertas do cemil erio , t r 7do o p iar augurenlo - 6 - ·..:.-,. • • ' f 10 - 1 - 1942 ....

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