Pará Ilustrado - Fevereiro 1942 n.105

• (J . O Bambito levou-me para padrinho de um seu filho, uma criança de dois anos, quando prostada ao leito, quasi á beira da cóva, contando ·eu, naquela época, tinha G anos. Eu, uma criança, e já padrinho de batismo. Por felicidade o afilhado ficou bom •dessa enfermidade. Desde aí que as m.inhas rel:lções com o ;1Ja1qbito tornaram-se as me– lhores possiveis. Tratav:imo-nos t1e compadre. Desde esse tt,mpo que o compadre já. anda va mal, aperriado. Ainda sentia o .. rombo" que sofrera de tanto questionar por causa de he– rança. Boa parte do que lhe havia de to– car no Inventario fôra consumida em liono.rarios de advogados e custas. D 0 urante esse tempo não sonegava. Andava sempre ás voltas com as par– tilhas, alvarás, oficiais de justiça, com tudo que é do fôro. Mesmo depois disto ainda recebeu ~ _ um bom quinhão, o suficiente par~ ----:r,r uma vida regalada, si fosse meto- . itico. • • , Mas y sim não foi. " Briga de•,galo" e "jogo do bicho" eram a sua fascinação. De bem após bem foi se despojando. O azar começou a '"persegui-lo. Nada de acer tar. Jogava nó galo, t1ava ca– bra, e vice-versa. Comprava hoje uma casa por .... 10:000 000 para vendê-la amanhã por 4:000$000• Era incrivel, mesmo, o seu "peso", Disso tambem se persua diu e come– Içou a cria.r " ca bula"• • O m enor a ciden te, qualquer ocor– ren ci a fóra do normal, tomava como azar. Estava impressionado, A sua ante– r ior alegria, bom h umor, largucsa, de– sapareceram jun tamente com o di– nheiro. Ficou " liso " , sem mesmo po– der jogar no " bicho" ou ir ás rinhas. Essa situação perdurou por muito tempo. ,:u já estava com 18 anos e então, ttequentemente, nos cafés, en contra– va-f e com o compadre. o " peso " perseguia-o por t oda par– te, dhia ele. Afinal, conseguiu um emprego pu– blico, fiscal de apreensão de animais. No f,rlmelro dia de serviço empaste– laram a "carrocinha" porque pegaram um cachorro de uma corporação mi– litar. Porlsso, desistiu do emprego e ficou outra vez na "pedra". Dia a . - 38 I _, do- dia aumentava a sua impresS:ão de que estava " .riexado ". • · · Tudo ·.tomava como agouro, mau presaglo. Então_criou uma porção de ·busões'. Não pàssava por debaixo de escada nem andaime; não falava e até procurava se desviar · de aleljat1o. porqu4!, dizia ele, "quan«c]o· Deus põe um defeito tisico em alguem é para mostrar aos outros que essa pessoa não · presta"; e por isso, dá azar. Ti- . nha J>avor de gato preto, principal– . mente nas sextas-feiras; dia 13 era para ele aziago, fatidico; fazia "figa", benzia-se, andava com amuletos. Vlvfa apavora11o, '. · duem1es, foda sorte Paj;a .pôr termo· a .tanto vendo visagens, de assombração. descalabro procurou wn "professor" astrologo. Este, depoís de profetizar-lhe gran– des de~enganos, disse-lhe : . ,- Qual o mês de seu nascimento? Quando o . com1,adre respondeu o -~ês, - que agora não me ocorre - o astrologo continuou : ·- O_ sr. nasceu sob um mão signo. Vai sofrer grandes desventuras. Mas... não será cousa grave, O seu nome? - Adelino Peleja, - diz com enfasc o meu compal1re. - 13 - letras . . . Pela clencia cabalis – ta é um nome que atrai dissabores. Precisa mudá-lo, afim de melhorar de vida. O Bambito, como era conhecido meu compadre Adelino Peleja, sal vendendo " iucite ás cana.das". Estava tudo esclarecido. Era o seu nome, com 13 letras, que pela numcrologia é fatldlco, acarre– tando-lhe todos os os revezes. Daí por diante passou a assinar Ade– lino de P eleja. A coisa ia mudar. Meteu mãos á obra e cm pouco tempo, a pedidos de amigos, foi nomea do fiscal esta dual das minas de ouro. Ficou adiantado pela verba uma ajuda de custa para a viagem e estava satisfeito. Mão grado seu, porem, dois dias após o governo federal chama para o Banco do Brasil a fiscalização da. ex– tração do our o. Estavam, assim, o Bamblto e mais outros 20 fiscais desempregados. Seus colegas, danados, procuraram o Adelino de Peleja e acusaram-no de ser o culpado de tal situação. - O teu "peso" é o causador disso. Si nos dissesses que las ser nomeado nós faríamos uma "quota" e ao en– vez de receberes 800$ receberias 400 , PARA' ILUSTRADO • • , .. • . ' • • . . . ll~ • porque cada um de nós i c tl:lria 20S000 mensais. Agol'a não é só tu que cst:ís desemprega.elos. Somos todos, toclos: Não vês que com esse nome 1le r ere– ja não pódes veft cer e sú t r r:ís llc 11r- lejar, pelejar, pelejar ? . . . • Mais uma decepç:w ao meu compa– dre. Desem1>regado novamr ntr, e ul o,. po1· todos, como "pes:ulu ". J Agora, sim. Ue11ois lle tudo iss~ é que ele eaíu em si. Não havia "11cso". Acabou com as •' cabulas". Nada tle ter m:í im11r1•ss:t0 com gato p1 eto. Sexta-feira é um Ilia da sema- .. • na, tão igual como a terça-feira domingo. Ia t ra balhar, ,e ,1esta vez vencer. A sua forçi de vonta<1e triunfou. Foi para Monte-Alegre. Cava daqui, cava dali, aprumou-se, tornou-se fun– clonario municipal, pequeno criador, esqueceu a "briga de g·alo" e o "bi– cho". Quando fui a Manáos, ainda falei com o compadre Bambito, já nova– mente Adelino Peleja. Suprimira 0 "de". Nasceu Adelino Peleja e que– ria morrer Adelino Peleja. Assim aconteceu, debando para a sua familia modica herança. L. 28 - 2 - 1942 • .7 •. " ' \,, 1 . .. -i~ · •• • • • • • • • • . I . , -· • ,.. ' • • ., ✓ • • •

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