Pará Ilustrado - Fevereiro 1942 n.105

..... • . • • • ✓ • . . • • • i n o PAR A' CLUBS • ' . , "./ ' 1 . -~\ - . . •• • • • . 1- • • • • • ✓ • • . \ ' . Esfas cbon;quinhas-., no eleganfe baile carnavalesco do . Parti Clube canfaram o clero-lera-. afé o sol raiar. Olhem para o grupo e digam qual é a _·_mais bonifa ! ' ·,. • dciam, rhimlAl,m, como se imensos aérolitos se tiv\sseul despencado da abobada c~lw5te e vic9sem rolando pelo espaço até a•tefrif. • Ao clarão dos relampagos, julgo vêr qualquer coisa• junto ao guarda-rou– pa. Sim, deve ser alguem, alguem qw~ já morreu e que agora, aprovei~ ·tando a noite luebre, vem visitar o ult.po lugar onde lljleu. Não há du– viãa,(~/:· A cama onde estou d eitado..;ef-'1u de leito para outros. Outros que a desocuparam por tere~ m?eido. E eles voltam ainda para es e lugar onde e;!falatam o ultim~ alento. Vejo agora a sombra (pois não é mais que uma sombra que a luz do • relampago projeta na parede) -.Uoven– do-se. E está moveatlo-se para o meu lado ! Enterro a cabeça no travessei– ro. Porem, no intervalo de um tro- ,..• .,'t _ _ ""1'1J:- ito para outr@; no enorme silencio que se produz, paradoxalmente ao es– trondo de instantes ouço passos mui– to lentos como duma .pessoa que ti- I ·• 1 ~- • • vesse as pernas semi-paralisadas,, , aproximando-se, muito lentamente, muito vagarosamente, da cama onde me encontro. E eu . . . sem poder mo- ver-me ! Um ribombar mais forte faz o pre– dio inteiro estremecer. Será que ele Irá a baixo ? E ninguem me virá bus- car ! ! ! Quando "ele" chegar ·junto a mim, matar-me-á certamente e lévarme-á consigo. Oh ! meu Deus, fazei com que amanheça logo, e ele se vá para longe. Conto, involuntariamente, o nume– ro de passos. Um .. . dois ... tres . .. mais um passo . . . mais um . . . Está, pouco a pouco, mais proximo. Sinto– me crescer, aumentar enormemente, tomar todo o espaço do pequeno apo– sento. E o ar então me faltará, pois seu corpo imenso encherá os menores in– terstícios do quarto e expulsará todo o ar respiravel que me resta. E então morrerei . . . faltar-me-á o oxigenlo preciso . . . será horrlvel ! ! Cessam, repentinamente, os passos. Agora, são os cantos tristes e mono– tonos, invariaveis, que ouço. Serão as almas dos mortos, que festejam a mi_– nha ida para junto deles ? Serão as carpideiras do outro mundo, que já pranteam a minha morte ? Vou morrer ... é inevitavel ! Porem, eu ainda quero viver. Tenho direito de viver. Sou tão moço!? Por que ra– zão não morrem outros, mais velhos, inuteis, vegetando miseravelmente neste mundo, e é a mim que a mão fatídica da Morte, armada da sua foice insaciavel de vidas, acha de procurar ? E eu, que tão pouca coisa conheço desta vida ... sa linda, pura, salva dos artificios qu~ o Homem tem posto em quasi tudo afeiando vossa obra perfeita, Senho Deixai-me encher meus olhos da poli- cromia que um entarde~er .oferece; deixai extasiar-me mais 111Da vez, com o marulhar das ondas que fulgem e resplandecem sob a luz clarissima da lua. Senhor ! Nlo permiti que eu· morra! ... Porem os passos tornam-se mais for– tes ... aproximam-se mais. Sinto mãos frias rodearem-me o pescoço. Mãos gelidas, viscosas... Mãos assasssinas que vêm buscar-me. Procuro gritar, gritar por algueml que me salve do espetro que, lenta-' mente, está me dominando. Contudo, por mais que me esforce, minha gar– ganta não emite nenhum som. Quero correr para longe.. . fugir . .. Porem, é impossiveL Estou totalmente para– lisado. Meus musculos não obedecem mais minha vontade. O terror apode– ra-se de mim. Um véu escuro desce em frente aos meus olhos. A respira- ção me falta . ..... . . Abro os olhos, admirado por alada estar vivo. • Mas, não há duvida alguma que e.1- tou vivo... Vejo, em minha frente, a me:iinha branca e completlll'lente cheia de vidros, caixinhas, pacotes pe– quenos . . . o guarda-roupa muito alvo,_ • • • • ~ Abro os olhos e... Lá está a som– bra que já está mais perto. Cubro, desvalradamente, os olhos, para não vêr mais aquilo. E ouço. . . Ah! Ago– ra é um rumor surdo de vozes. . . é utna cantilena triste e monotona . .. e, novamente.. . os passos que se apro– ximam. Oh! Não permiti Senhor, que "ele" me leve. Deixai-me viver mais um pouco, ainda. Deixai-me admirar tudo que existe de belo neste mundo. Sim ! Apesar do mundo ter-se tornado tris– temente banal, ainda existe m.uita coi- Pela janela aberta, entra, como um presente do céu, toda uma apoteose de luz. ' ' • • • • ._ • E eu, então, sinto-me imensamente : feliz. • ' ·

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