Pará Ilustrado - Agosto 1942 n.118

t ,, • _, • - - O calor desse dia de julho per– turbava a visla . e !orna va o ar modorrento em volla dd pequena e silenciosa povoação, coberta pela lenue sombra dos al amos. como ~m lranseunle faligado que fize sse a sésla em meiade de seu cami– nho. Era um loga rejo. por assim dizer, siluado entre as planicies de Avor e os campos cobertos de calháos que p:lreciam ao s ardenles raios do sol. verd adeiros ossarias. Bateram no companario as doze badaladas depois do alegre prelu– dio dos quartos. . . A poria da escola, vi sinha á egreja, a briu-se. á u_ll jma badalada, e um grupo de rapa zes e meninas apareceu na es– trada. perturbou por alguns insl an– les a tranquilidade do ambienle com seus grilos de alegria. houve empurrões e correrias para se dis– persar logo depois pelas casas , um a um, uma a uma , cvmo pom- • . bos éle reg sso aos ninhos . E a e11lrad1:1 lornor a fi ca r deserl a . obscurecida por uma nuvem de pó q_ie. lenlamenle, se foi di ssii:ia ndo . O profe ssor . homem moço. del– gado , de ca belo e barba louros, apresentou-se, po r s ua vez . 110 li– mi a r da poria . ~ <;h•u-a e gua rdou no bolso a cha,•c.-. D epo is. com , passo ra pido. al rave'lsou a rua em ~ di reçã o á vis inh 11 peô!lao. cuj o dis- ~ finli vo era um ,.amo de pinho. :, Ao ent ra r:" h li\ u,n sa lão am– plo . a rejado e fre,i:o, simpl es quar– lo em ~ue estavam duas ca mas ,com o rlinas verpielhos, cadeiras de pa lhinha e al ~11mas me9tls. OuandQ o professo r t'ntrou. a mes11 o nde ele ostumava comer jã eslava posta . O gua rdana po , bra nco e losco , os Ires praias ne– gligen lemen le sobre postos, os ta– lheres de es~ nhc'. o li tro de vin ho ti nt o e o ~ daço de pão. Just ino, o professor, sentou-se. desdobro!.!. o guardanapo . e cortou um pedaço de pão . Reparou, en– tão . em que não eslava • só no sa– lão; Na mesa do fundo. encostado a um dos can tos da cama havia um homem, com • rosto . mergu– lhado . pode-se d izer, nas p.:!lmas das mãos, e os cotove los· õpo•a– dos na mesa , dea11~e de tlm copo no qual a cerveja de Saint Amand brilhava ao sol. ·• .Era um mendigo. · cuja idade não se podia calcu lar direito por causa de que a culis · e os cabelos estavam Ião queimados com J cgua- • . \, 29 -r- 8 - 1?4.:l lados pela 11ção do fogo . As pro– pri11s feiç ões haviam des ap11recido , descomposlas por uma erupção cut11nea que lhe obslruia os olhos. o na riz e a aberlura dos labios . O professor Jus tino lembra va-se de haver vi sto em um museu de anatomia mascaras de cera que representavam mineiros de Saint Etienn e, morlos por uma explosão de grisu . Eram exalt1mente como o roslo desse homem . E pensou: - S erá a lgum operario de Vier– zon, a qu em sucedeu qualquer de– sastre . Pobre di abo .. . Continuou a pensdr coisas por um ins tante . q4ando leve a sua at enção de'l via da delas. A senho– rita Lucotle. filha do dono da 11 ltfLI) pensão , cnlrora trazendo a sopa . Ambo~ '!Orriram. Jus lino, desde qu e chegara a Po issy sentiu-se a lra ido para ela. Achava-a ma is req uinla 0 g<1 que as o utras moças do ~~-• Não fa lava o dialeto do ,povo . ~ is a té ao momento de sua miie I rrer estud a ra co m as freirus. serv indo de inslrul oro aos menores. Era formo sa, ou. pelo menos, formosa naquela provincia onde havia fartura de feiõs. Tinha meigos olhos pardos. a lia e rel u– zente fror~e, faces coradas. e o cabei~~ de uma cor amarelenta. parlidc~ o meio. Cólocou (\.,.terrina opoiando-se de• na n~1m os punhos • cerrados. ~ ond guardanapo cm . • volla cio ver.e ·o. e enquonlo se: servia Justino perguntou : Senhorj e~riquela, como assand9i· · · I ? com olha– o fomiliar dos seres que s e gostam, se desejam , e não se atre vem a comuica-lo em pala vras , O mendigo no s eu canto mo– veu-se, cus piu pa ra o chão . e es– fregou ruidosamente col11 o pé a saliva. Com um olh11r interrogati– vo , Justino apontou-o. Henriqueta inclinou-se. sempre a poiada sobre os punhos e em voz baixa disse : - Não s ei. Ha uma hora que ali está com o chopp diante dele sem o beber. Ouando entrou . olhou– me de uma ma neira Ião rara que me fez medo. fiquei bem contente de o ver c hega r ao senhor. Papai saiu. E C altirina e eu não eslava– mos muito 1-ra nquila s. Isso. po,rém, sr. Justino, não é motivo para que não coma a sopa 1•.. Eri;iueu-se corno para se relirnr . -Suponho que !là O me deixará 1 aqui sosinho, disse tJ professor. por medo do me11digo. -Não.• Veja. Vou sentar-me â o pé dó senhor. Começaram a palestrar como o faziam lodos os dia~. Ele sorven– do a sopa . e el a no outro extre– mo da mesa . Os pequenos aconle– cimenlos da povoação desfila vam nessa pales tra di a ria , que ta nto ele como ela esperavam Iodas as ma– nhã s com um que de impaciencit.1 . Henriqueta int eressav a-se, pelos alu– nos de Just ino. qu e lhe conta va. com ar gra ve, as suas tra vessura s. os castigos e as o brjgações que lhes impunha. - Rousseau tem muitas aptidões. · Esta manh ã fez um ditad o sem er– ros. e qu er acredit a r, senhori ta Henriqueta. qu e ele mesmo me pe– diu que lhe en5í nasse a po nluação? E ' pena qu e se ja Ião a bobil lhado 1 - E M a teus? pergun tou Henri~ quela q ue conhec ia todos . - O h 1. . . Ma teus é um perfei– to idiota l Servirá para guardar perús aos lrinla anos 1 • • Depois falaram do jorr:ia l qu o professor recebia e • em'preslav'a a Henriqueta. ·quando o aca.bavt! de ler, por causa do folhetim, um ro– mance de Jules Mary, J'us'til]o achava-o um be lo romance . mas escrito de modo prclencioso. Hen– riqueta achava-o. apenas, be lo . .. Ouando o professor actibou a sopa, o moça relirou o prato ~ trouxe outro com carne e batatas. Voltou a ocupar ? logar perto dele. Haviam esquecido por com– pleto o mendigo que, no seu can- -3- " • l

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