Pará Ilustrado - Julho 1942

. . . · . r.. -x . C/f)or inferrr,edio de nosso represenfanfe no Rio de . Janeiro) .. • • . • • • f;trava. pela janela entreaberta, ; ·•: c~mô um éco longinquo. o ba ru. '."' • • ~h~ •àq urbs Ele eslava trancado • ' d .,,. d • • enlrÊJ. ··• e- um quarto pequeno. Aqui lo • c.<ra como um pesadelo. • •• Havia a sauoode dos espaços li– • wes• nos s.eus olhos prisione iros e , · • a saudndc:: da s"ude. no seu corpo - , · ·;;;1forrr.-ô, exilado da vida. Es lava ' ~ ~t ~1.n quarlo pequeno, cheio de -~bras:t_~á fór_a as eslrelas bri– l~1ota,m. dando aleg1 ia a ludo. _:'.3erilia . o j a_rdim . perto. vinha dele • ,bo sopi.b manso da bris c! a fra- J , • ...., •:fr,gra~cm ~os _can teiros flori{ldo. ele -~ ; :mfria por nao poder gosar o eu- ,.. , ptilo dá •noi1ê bonita. - O HospiJal era .um presidio, • •>ade Iodas as horas, núma ene.r– ' .1{nle ~agarosid ade, se sucediam . . . ,. ' i iguais e Ião monolom1menle lique– lBqveél~JI qur- ~nlrisjeciam. Os me– dicô;f, ~ o •·tinhaln desengan~o no começo. ernm o seu terror. Che~a vam sempre àe caras fecha– das. com palavras de gelo e ges– tos frios. os seus vultos gra \'es, como· -sombras presagas. recorfa– c!.o:;.. Jut·.penumbra. Uma unica pcs• soa parec ia comunÍc-ar-lht: cerlo confq rfo : era Ester, a enfermeiro ~ pal,do. de pass os tnacios e fala doce e acariciante como uma brisa de estio. Perlo, dela adqui ria um alento novo. Oualque r cousa de estranho, uma força exquis ila exis tia nêl mo– ça. semp re me lida em sc>u uniforme branco dt: linho , vi--'íio branca . rférea como um reflexo o u co,no um raio de lu 0 z. Ele 5bb1a minorar o pe5o da siluac,.c10 cm que se achava. Ire'! rnezrs inteiros jó. pr,:– so corno um p aralilico á !h>lidt"lo de um pequeno quarlo. Coslumll\'11 senlir fortemente a presença e a companhi1:1 de Esler . como se fôrn ela pro pria a humanização de uma fada boa. Íalendo d e s ua proteto– ra. E'ller infundia-lhe animo, diri– c.:iõ-llw palavras de consolo, falava- Ih (' de umn vidn nol'a. ele nasceria outi ft l'CZ. recomeçaria, após a alfa quando se acabasse a doen– Çd falava de, agar. A ·s vezes. ele l111h,1 t1 impressão d e que sufri a . U 111 s ofrime1ilo secreto qua lquer. U rn/l !ardi: quiz pergu ntar-lhe ai g 11 m11 c ,J1sa. mas não leve cora• gt:m. f.s!C'11d1do na cama . esp,ern I ll em \'ão p<'lo sono . De repente, leve \ onlode de olhar a noite Le– nin fo u-sc. o c11beçn lonla. o corpo pt'sllclo ficou em pé encostado 4 - 7 - 1942 Ufn wrnance AílTOíl lO ás vidraças. No ceu. havia milhões d e estrelas e um pedaço de lua: - o semi-circulo azulado do C res– cente. A· vores se balançavam por cima das casas, e:Jpalh~dtis pcl11s redondezas. até ãs qu11is cl1ega·1a, no vento molhad o de sereno. u1n c heiro bom de campos verdes . de folhagêns umidas, de esst"ncios ve– getais. Sem saber porque. pela primeira vez, em sua enfermidade. um enorme desejo de sarar ligeiro se apod . rou de seu cornção vasio de ludo. Ha Ires mezes. ha lres lo ngos mezes, eslava no Hospital, trazido pelo irmão. Em breve estaria res tabelecido. Era preciso criar uma a lma novu, h açar um plano de ação. Conlu– i1<' refugiar-se no futuro não podia e proc ura r esquecer o passado era inutil. O pas,;ado estava dentro d ele. obsedanle. sobre.vivia em sua lemb rança. Fo i oge1lando os seus pensamenlo'I, foi pen,1t111do . Es- lava perc.l1do I A silhnela magra e • lan~uid11 dt: E-skr 11p11receu cm suo me11le . Esler ! Só linho um,, pes• soa com quem desebafar, com qui:rn reporl1r a ~ua lrislt"zo sem r emediu : E,ler. ÜtJ ja11el11. ele olhava a noite <' sc,fna. 1:. 11pt·111r disso. sentiu o l,t'lt a eslivul da noite t I êo l'fO o 111t·smo dr ha Ires mezr,; alrnz. quanuo, só e sem Decorreu no din 1 do corrente o "ni– ~crsõrio Jo 10,en Cesor Romano do Co~l11 Comes. filho do noi~O componhciro de re– doçiio sr l ilo l.i\'10 da Co,fo Gomes e sua digno esposo III nc Cldi(I B11fisf11 do Co,lo Gomes. O jovcn llnt\'crs.11rianlc, 4uc r"idc no Capilol Federo! onJ.- nercc os suas 11hv1- dad~• prolis"onocs d.. operador n11 Pf<I' 2 PARA' ILUSTRADO CílRLOS m ACHADO esperanças. linha medo de si mes– mo e fugia da vida. HaviR perlo um jardim ílori11do e. a lém dele, a c idade iluminada e os campos verdes. Ha lres mezes atroz, no seu en jôo dos homens e das cou– sas, era um desilurlido de ludo : concebera o idé.1, do suicídio como uma liberlação. Agora. o que ex– perimentavà frequentemente era um enorme pavor da morle e um de– sejo imenso de conlinuar à exislir. As estrelas luziam. O ja rdim floria sob o luar. Os campos verdes perfumavam as sombras. Encuslou a testa feb'ncilanle nas vidraças frias e leve umo. sensação dr ali– vio. Não I Não estav11 perdido 1 Não linha c~egad0, ainda,• ao fim de ludo. Podia recomeçar. f;srer era quem linha razão. A sorte, ele a encontrana um dia qualquer, quando mal esperasse. Era preciso criar uma alma no1·a. traçar um plano de açtio. Pl'ra onde encami– nhar os seus passo~ após a alto que ele dese1a\ a e llO mesmo tem– po temia? Não p, ,dia se fixar nau– Iro cou'la. que não fosse no seu passac!L che10 de i,cleais malogra– dos, de- ilusões desfeita~. de amar– gura e desesperanç11. Deitou-se r.ntorpecidamente. olhan– do o ceu lanleloujanle de estrelas. minealurado no relongulo da janela. !\ão cessava o esplendor estival da noite, como feita p11r , o sonho. para o i10'IO A brisa mansa vinha la de foro ~om o perfume fresco dos campos verdes. O luar, que resplandecia sobre o mundo, en– trava pela janela. batendo nas pa– redes brancas t' em romo uma cariei 11. Em breve eslarict resl,1belecido. Sua vide . então , come1,ana e ser outra \',da nova e diferente. O ccu fervilhava de e'llrelas, o Jardim floria perto, _ o~ campos verdes enchiam de sua\·es aromas a noite énorme. maior do que o mundn Ele leria forças para re<.:0- meçar Aos poucos, se restabele– cia. O pas,;ado' não entraria na alma nova que ia criat Não. ele não se acabara ainda \' nha, era certo. de um passado negro de Mguslia. mas não eslava destruído a111d11 nem perdido para a vida. Havia em lorno dele a terra in– lt•ira florindo . a terra que: ele qui– zern abandonar para sempre. Espichou-se na cama, fechou o5 olho'i e adormeCl'U •. - 21 - .., • • • •

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