Pará Ilustrado - Julho 1942 n.115

\ •.:-------------------------- • [í] íil [!.[J [D@ . [1□ [ill (:) CBíilfill□~fnCD :.> .. .. IBlllrnrrm~ mm rnrn~□~rn :. • -.{:' •, Rec,íc, · 18 d~ junho de 1942. criatura amada. Provava. discutia. E. depois, analisava o · ·} Niio me dei'1es sem noticias. minha amiga. Oua,ndo amor dos pais. · ,.._ .. • são mcno~ n:imerosos os envelopes que o Correio me -E' a esperança de que venhamos o ser cultos e des- lraz. le11ho a impressão de que começo a ficar · iso lada .tacados que os faz li alarem-nos com desvelo. Não nos .. • no mundo. As carllls. sejdm comerciais. amistosas 0,1 até querem por nós mesmos; estimam-nos porque somos par- • agressiv11s. dão-nos a certeza confortadora de que hti. celas deles proprios e porque as nossas vitorias serão pt·las distancias á fóra. alguem nos lembra. Não, não sulls vitorias. me deixes sem nolicius. -E o amor filial ? inJagava eu anciosa por perlurba-lo. Parece-111e já le haver dilo que comprei o ,Messidor, - Interesse. minha amiga. Você crê que se não preci- • do Guilherme de Alm~ida. Sabes quenlo o Guilherme sassemos de carinho. apoio. proteção. dinheiro . educa- • • \ttrie para miuf. l,.embras-le quando eu exaltava a lradu- ção. leriam..>s o apego que lemos aos nossos pais? Logo ção dt>~ volüm•es do Tagore ou a beleza nova dada aos que lêm as azas bas tante emplumadas, muitos ha que ai- magníficos ver.sos de , T oi el Moi, ? Pois continuo a çam vôo e esquecem o primeiro pouso. . mesnia enlusiflsla de sua p0esia. ,Messidor, contem; ,A 1:u, então. ficava silenciosa senlindo um r.nervanle .quê, Oansa das Horas , .•Nós, e ,Suave Colheita,. Precisava de revolla para aquela fria analise dos sentimentos hu- • \ estar contigo para recitar ludo o que me encantou. Sei manos. .._ qi:e nada lenho de ' ,diseuse, mas a poes;a que se iden- ,O amor é o poema do egoísmo• . diz o Guilherme. -· .fifi ca ás nossas emoções exige esse exlravasamenlo das fazendo-me lembrar a irrevere11cio de meu colega de fa- ~ rimas que mais profundamente nos ferem a sensibilidade. culdade. Ouem ha que não· admire esl11s quadras; ,Messidor, só me trouxe uma decepção: a insislencio t .,. ,Eu niio fui mais que um cético suicida que passou pelo mundo. indiferente. a passos leves. esbanjando o vida prodigamente. perdulariamente. .E' um pobre moço! Um doudo I Nem duvida des~a mOJlher 1, - dizia Ioda a gente. Mas eu passava de• cabeça erguida e le levava a vida de presenk !, E 11ão resisto á lenlação de transcrever .Ciume, : .Minha melhor lembrança é esse inslanle no qual pela primeira vez me entrou pela retina lua silhueta provocante f- fina como um punhal. Depois possasf'e a ser unicamente aquela que 1J gente se habilúa ti -achar apenas bela é que é quasi banal tigora que, de li, por muito que me clês . ja não me poàes dar a impres~ão que me deste. a primeirn impressão que me fi zeste. - louco. lalvês. lenho ciume rJe quem não le conhece ainda e, cedo o u !arde. le verá. palida e linda. pela primeira vez!, Não creio qu ! le enfasties com os minhas transcrições. Só se já não és aquela que levanltJria rooile alta para ler Baudelaire á luz ela lua, mas . se ainda és d ,.;vola do Bi– lac guarda isto no leu rnissa l poelic<>: .O amor é o poema do egoísmo. Busca beijttr-le em leu beijo e em leu abraço abraçar-te : Tua volupia será menos brusca e leu prazer le rá mais beleza e mais arte. faze com que ao amor tu le acostumes. sem sentir o bem e o mal que ele le faça. pois o amor de1'e ser .:orno os perfumes: quem os lraz já não sente o que sente quem passa.• Ti I e trm colega na fac uldade do Dará que defendia o egocenlnsmo. Afirmava-me que. no amor. só amamos a nós mesmos E' ;:.ela vaidade de sentir atenções. genlile– sas. carinhos que . por nosso turno, os disrensamos á exageroda das rimas .beijo, e .desr.jo ,. Estou com o !arde livre e vou enumerar quantas vezes encontrei esse rimar arcaico que. se a idéa sugere. o bom gosto deve repelir: E\~i,çi-'! 942 da Editora Nacionàl - pag. 20 : •E o :ieu beijo, e o meu beijo. e os nossos . beijos· ~ 1.- mil rosfts vermelhas de desejos,. Pag. 22: •C. como a orquestração de um mau desejo. quebra o sono da torda pensativa o gorgeio frenelico de um beijo, Pag. 59 =. -Era assim: era beijo sobre beijo, abraço sobre abraço ... Um .só desejo, ,e os teus braços de cera. como ciriQS, acesos de volupia e de desejo: e o leu corpo excitante como um beijo, Pag. 127 : •que era a luz de um desejo; dois labios estendidos para o beijo. Pog. 135: .Um beijo. um simples beijo. - o contado sulil das azas de um desejo Pag. 123: Deve haver mais. Não conlinúo por ler um grande respeito á nrle de Gvilherme. mas sobretudo porque já está noite fecl11Jdó. O relogio marca sómente 5 e 20 da tarde e já é impossivel escreve,: sem acender os luzes. Lã fóra os b l. ndes rass11m iluminados e a fisionumia dos lrnnseunles fala e•n jan tar. Penso o que tan\bem pensou Rui Barbosa quando exilado na lnglaler~a: na minha ci– d:1cJe deve ser dia I Uma clara tarde de Junho com me- • ninos turbulentos soltando foguetinho~ pelos calçadas. .\l\ez de provas parciais I Eu estaria fazendo esforços de memoria paro encher folhas sobre folhas com tudo o que. dt1ranle a longa noite de vigilia. dissera-me o mestre Bevilaqua. E. para impressionar o professor. concluiria ulilizando um pouco da filosofia do Pedro Lessa . . . No jardim da praça. um farto ramo de acacias filar-me-ia perlurbadoramcnte fazendo-me hesitar entre a responsabi– lidade da prova e a doce admiração de sua beleza loura. Até a proxima sernana. minha amiga. 18 - 7 - 1942 PARA' ILUSTRADO -21 - • • • •. . . • ... ..

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