Pará Ilustrado - Agosto 1942 n.117

··? . ' 1 1 1 1 Ouem vem lá? A sentinela Pergunta com vóz mais forle ! Feriu-a um firo no peito ... Ouem vinha lá - éra a Morte 1• ( B. da Rocha } Galos. lalalando as penas e m– ílando as azas em palma clariavam melodicos. Amadrugada lrescalando ainda as arvoq:s calcinadas • ti· megar.les rebenfava a linha do ii, rizonle n'uma alegoria d e chamas... O perpassar mõrno da viração d e suésle, parecia querer paralisar as arlerias do tempo... Metalices, já c-om as plumas fingidas pelos raios do só! que lenlamenle galgav11 o infi– nito, outros galos. madrugadores re– lardalarios, repeliam o canto e daí ha pouco a cidade inleira desper– tava . . . Ela lev!fnla-sc - \'ai ao jardim onde lacrimosos lírios des– abrocham em pelaios e rost1s li es– colantes começam o lombar ao ca– lôr da ferra recequida. . . Apanha fllgumas ílõres Esculpe com as mãos trementes um ramo. circun– da-o com o vcrde-gaio dos ~olila– rio, alecrins . . Be11a-o apertando– " ao cólo onde on<le choroso. vibra ainda. não corno 110 ano pos– sado. um coração cançado más Ião lt:rno. Rolam-lhe dos ol'1os lagrimas s i· l •nciosas que. deslizando vão es– caldar-lhe os labios . Balbucia umas frazes que se pe1 clcrn logo em rilmo de saudade. Um ano já! ... Um ano.. Um seculo - filho meu 1 • A manhã clareia apressada. A dolorosa marl1r !orna o seu chale prelo. aconchega de novo as ílô-. res ao coração e parle para o nc– cre po le - arquipélago de e\'oc11çõe" e d e mistérios.-Os seus gri'lnlho, cabelos. ma l penteados esvooçam l'Olando-lhe prlas faces macerada°' e pelas pa lpebras irmidns. Os por Iões da nrn1ada e lema eslõvam escancarados de p!lr em pttr. Mau!;oléo~ uns pobres e outro s luxuosos. gre 111fil'oS morrno rcos 15 - A - 19}'.,l ullimos abrigos. supremas moradias fossos que são mais do Além do que da Realidade. indicavam com in~crições doiradas e negras o qua– dro. onde para sempre. desçirnça– vam os adolescenles . A esquerda repousavam os que haviam tomba– do no ano que findara-estiolavam por ali verdadeiras primaveras e loiros :;óes de loiras esperanças . A eslremosa mãe. entra... Aos seus labios frementes parlem as primeiras preces. Aproxima-se de ·um lumulo.. , fl IAL D LEm- n J ÃO ·AtíR,D0.49 (Q) Ajoelhasse. . Resa e.n surdina. soluçando e comungando a hostia do dôr ... Por todos os lados da -sempi terna morada. pelos atalhos, pela encruzilhadas e em cada cipreste uma beatice quietude, uma intensa in– terrogação. Tudo por parecia estrangulado 1 O silencio era pesado até mesmo a ramt1ria \ êrde-a zinhavrado de ca– runxosos cipreste, rnj{,s raizes, era: PARA' Il,USTRADO vadas em garfo, fóra do sólo, dei– x11vom q<1e seus troncos. pelas ranhuras. abertas pela canícula so– rase 11 lagrima tepazio das rezinas. Quietude em ludo 1... Silencio ... -Só a saudade a gemer. a raça a grilar, a historia a orar e o lrisle Mãe a inlerrogar e a despetalar com carinho solicito d.e ritual as ílõ res que trouxera. para dar á. lousa inabalavel e massiça uma pas-• sageira belêza fr!sca. · Interrogo-o ·u;,a_ cinco e àez ve– zes: - Meu filh.o! . . . Oh ! meu fi- lho estremecido 1.. . Ouves-me? ... · ·· Não me res pondes? ... Ouve. põr Deus le rogo ! Sou a tu:1 mãe -.- a lua doce velhinha e eras tú Ião meu amigo ... ,Üuando parliste. lú e eu choramos. fanfo. lanto ! ... Oh ! a maldita guerra que te ar– rancou dos meus l!lraços ! ... M11ldila gurrra ? Oh ! não-per– dôa. filho amado. perdôa ~fi;pdi sem o desej11r. os leus brios de soldado I Chamei-a .de maldita. por que a ela destes q lua vida ... Perdoa-me l . . . Tu fusle defender tua Patria ... 6 Palria• de tu!! mãe 1 Chama-me de louca ... Dize mes– mo que sou urna egoisla, mas, por piedade, fala .. . Corlaram-le a vóz-arnpularam-te o corpo? ... Arracaram-le os olhos que 'eram a luz dos olhos meus, já agora impiedos·ll,,111enle pisados de lanlo chr.r1.1r? Mataram-te? ... Infames 1... In– fames 1 Matõram-(e e (liio aba ndonarnm o _ge :;ló inabala.\'el, e., ~esto ~ Caim, o gesto dos fralicidio'I arrc:– peraveis? Tiraram-te a vida e não param de esbravejar. 'dilactrar. odiar. fe. rir e de. e·rguer ambiçõe" e ever- • ções. intrigas e- ct1la:1lrofres. con– vulsões e des\•Oira111entos? Meu filho-· Stingue do meu san– gue. a lma ele minh'alma 1... Oh 1 filho. responJe-me ! . . . Fala 1.. r Tremem-lhe os lab1os . grossas balegos de prantos deslizam pelos cantos dos olhos e vão perder-se no concavo dos olhos !\eus seios mirrados. Oueda-se em stlencio por segundos, para de nÕ\'o ex– clamar desesperada. afastando-se car:!baleante de junto da campa: - Sei - Sei lá se ló és o meu filho .. .– Sim, tudo ignoro 1 . O meu ltlho foi como lú . um hero1. Oh l ele soube ser bom bra,ileiro. Ademais, quanta gente meu Deus. não guarda em silencio. sem nuncn haver dito a ninguem. um romance Ião negro (Conlinúa na pagina 31) - 7

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