Pará Ilustrado - Agosto 1942 n.117

Com S t rgio moslravam-se - as– sim me parecia. pelo menos - dis– crela., e co~lezes. An ila era fra nca · como um a migo é eslava sempre dispos la a discutir com ele. Luc ia. ma is submissa. ma is pudica. acei– lava sem pro lesla r Iodas as o pi– niões de meu esposo~ e po r isso inspirava-me ma ior confümça do que Anila. , sem que isso signifique que a <'Sposa do ba nqueiro susci– tasse em mim lemor a lgum. Isso d uro u a lguns mezes. Ha duas semanas, na da ta do meu aniversario, convidei Luc ia e Anila para ja nla rf'm conosco. Fiz exlen– si vo o convii!' ao e$poso de A ni– la. eslá claro. mas es ~e excus ou– se no ultimo momento, c ha mado por um assunto urgente. á capila l. Ana e Lucia c hegar~m carrega– d as d~ íloPes maravilhosas, e elas la mbem marin ilhosas pe la elegan– cia e pri mor cln'I s ua s , lo delles , . S ergio. ao ve-111~ aparecer. elogiou– as igua lmente. l:v. reprovei-lhes que tivesse alribuiclo solenidade a um ato Ião simples como um ianl ar em casa de uma amiga IP!i n e fiz-lhes repara r na modesliê do meu !raje. Achav-nmo-nos fl s obr,·,11 a q uan– do soou o telefone. A --e• .ida en– trou, um momcnlo depo i5, na sala de j1rn ltJ r . di zendo que a lguem ,dl"- ~ejava fa lar ,:omigo. · - lJi<;se le q uem é? - pergun-. le i-l he ---Sim. ~r nhora. M as não pude t:nlender brm o no me. • • -H11 de '>er a lguma amf~a q ue d esejll felirilnr-le - inle rveiu Ser– g io . Levanle i-me e fui á· biblioleça. • Respond~u-rne uma \'OZ de rnu- 11.,.r, d esconhrcida : · - -Aló -, disse, puem fa la? .. . - E. a srnhora Irene Eslefons ? - F.,Xafamenl e. C om quem' lenho t1 honra de fa lar? -Com umfl pe,;sna qun a es– lima , lmpacienle. respondi : -Perdoe-me, se nhora . mas agra– d ecer-lhe-ia que se dignasse di1er q uem é. - Não posso di zer meu nome. mas basta-lhe saber is to. senho,a : S crgio atraiçoa-a com s ua amiga ma is mlima . J uro-lhe que não minto Tenha cuidado. 4 E- corla ra m a comunicaçãq. · en– q uan to eu permanec ia imovel iun~o ao. lelef'cne. sem ace rta r em pen– dura r o recepl@r. com a garganta o primida po r uma ~ngus lia indizi– vel. psr um de sejo imperioso de chornr. d e rir ... Voltei !remendo á salà de ja ntar. Meu roslo devia estar tra nsfiguraà o . po rque lodos me pe rgunta ram o que se passava , inlerrogando -me a nsiosamente com os o lhos. Não . oude responder imedia la– menle. Bebi a lguns goles de c a fé. vendo aquelas Ires cabeças incli– na rem-s!! para mim . Ti ve. por um mo menlo, a intenção de cala r. mas nã o leria sabido, em minha per– lurbação. encont rar um pretexto. uma rn enlira pa ra justificar aquele c ha mado telefon ico. Po r oulro la– d o. era melhor repelir imedia ta, mente a a cusação, a li ra-la corno uma pedra em um lago tra nquila e observa r depois o efeil0 de mi– nha temeridade. Sorri. a po iei o queixo no do rso da dextra. e. com quasi sçrena . com essa voz de que se necessita para d izer as coisas mais graves da vida. repe li as pa lavras acusa– do ras : - Sabem o q ue actJ ba d e me di zer uma d esconhecida pelo tele– fone? f..s.fas frases texluaes : . Ser– gio alraiçoa-a com sua a miga ma is in tima . J uro-lhe que não minto. Tenha cuidado.• Relanc eei o o lhar em torno. Anila e Lucia estavam senta das, uma á minha d ireita, oulra á es• querda. Sergio dian te de mim .. . Anila . ligeiramenle palida. mordi11 os lab ios e linha os o lhos ba ixos, enquan to seus dedos bri ncavam com as fra nja s da toalha. Lucia, s ubilam,.nle purpureada. seguia com o 'I olhos os des enhos do p ires de café. Mas Sergio s orri u, o lhou para o fe io, reclinando a ca beça sobre o es pa lda r da cadeira e. sarca 'llico. articulou: - E· necessar io reconhecer q ue os processos da c ivilizaçeo são estupendos. O s hipocondriacos nã o tinha m a ntes outro d<"saLa fo a lem das carias a no nimas. Ago ra con– ta m. a lem disso. com as telefo– nemos lambem anonimas. Anila sacud indo a ca beça. acres– cento u com voz contrito : - Anonima s e perve rsas PARA' ILUSTRADO / J l' S !- A91=>ReB 1 :JS es Exp r•t" 1 • .. - - . . t:tw·es ,';ln ronc. s ' OQ<, DO nl 1 S d; en • rn>.oo <l AOQ .. - E Lucia acariciou-me o mão. s uspirando : -Corno h a gente má, Irene 1 Eu cala va-me. d evorada por uma duvida muito ma is to rmentos a e cr ue l. E olhava-o s os Ires um por um. nos o lhos . como se qu izesse arrancar-lhes do fundo da s pupilas a verdade que eles conhecia m e que unicamente cu ignora1·a. E naquele momento. pa reciam– me Ires inimigos re unidos p ara fe– rir-me, para zomba r de mim. T res inimigos contra O '> qua es linha que ne defendt•r. iracunda, incendida. Era lol o meu d esespero, que se nti impelo de lhes g rilar meu od111 , meu desprezo, me u asco. (Continua no pagino J4) 1 1.5 - 8 - 1942 ' l ' • 1 ~

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0