Pará Ilustrado - Agosto 1942 n.117

tlgora Inexistente, .ô que tambem sucede em Itaguarí •(antiga Ponta de Pedras), onde ela já foi oliservada, parecendo aos moradores da localidade que o seu desapa recimento é de– vido ao canal aberto ali. pela mão do homem, nos últimos anos. O geólogo ·nc~forkino ainda alude a um samba(!ui já terra a dentro da margem do Ararí, circunstância que vem cor– roborar duas preciosas observações de Hartt : a mudança topográfica no golfo amazônico e a quasi extinção do lamelibrânouio. A calota conchífera para além da pestanâ. verde do rio marajoara denuncia que a terra avançou, pois esse despõjo da. cozinha do índio sempre foi depositado à beira d'ágna. De parte isso, é rara hoje a concha fluvial por ali, o que de– monstra, segundo notou Hartt, certa modifi– cação geognóstica no vale, no clima, na am– biência enfim, imprópria atualmente à 'Vida do molusco. O fato se confirma no livro d,e Navarrete, "Viagens de Américo Vespúcio", em cujas páginas se conta que o grande navegador flo– rentino, na segunda viagem que fez ao Novo Mundo (1499), se refere a uma ilha encon– trada em baixo do Equador na derrota que trazia pela costa norte do Brasil depois de ter deJ,nandado o cabo de .Santo Agostinho. Navarr~te julga q e a ilha mencionada é Marajó. Póvoada dé gente bárbara, faltavam ali mananciais po yeis. Não h:n;ia áJ1;ua fresca.. A que os m adores bebiam era pés– sima, .ª não ser quando aparavam em gran– des folhas vegetais o orvalho da noite. Lá existia muita tartaruga. Antes da. ilha, mas j~ da Tijóc:1 para dentro do gôlfo, a abun– da.nela de perolas nas mãos dos indígenas era de impressionar. Trata,·a-se )i4n,:,ralmente desse mesmo bivalvo que aind~ encontra nas imediações de Cametá, foz do ocantins, circunstância que de novo- roJ;robora a trans– formação fiJica...e climática , e observada por Harlt através do avanqj! r .recuo de cer– tas rechãs e do desaparecimeihltde moluscos tartarugas e peixes. ' A estrutura geológica. de Marajó, afirma Derby, é muito simples : de aluviões modn– nas _e de aluviões antigas, correspond1•11do es– tas as de Belém. A série alta, continua o na– tmalista, de cinco e seis metros sobre o nivel do mar no flanco de leste, se acha mais bem exposta. A propósito llarlt observa o seguinte: "O grés vermelho terrug-inoso é o único no Ararí, onde eu pude ir seguindo até em frente à foz do Tocantins. E' províneJ que a faixa um tanto elevada, que se estt>nde ao longo da costa norte e separa. o ••mondongo" do rio Amazonas, tenha a me-;ma. 1·strutura (nem firme e representa a ilha 11rimitiva, q ue de– pois cresceu com o acúmulo da aluvião dei- toda). A porção alta foi separada da terra– xada no rio. Estes depósitos constituem a parte ocidental vestida de matas, as baixas do centro, inclusive os "mondongos" ("Bo– letim do Museu Nacional'', li volume). ru 11,to a ,-:u:a murítima rói e diminue nó IJo a,; url':111 immlares nas extremas de barla,·enlo, o rio, lado oposto, num labor construUvo, .iumrnta-lhcs o perfil. Na orla marajon.ru o c,i-o assume proporções exce– pcionais de cro 10 e crescimento. A ilha des- arranca -se pelo orlentr e amplia -se pelo oci– dente, marchan em Jlnha oblíqua e num cego esfôrço de ncorporação para. a terra– firme da margem contrária. Dessas alterna– tivas, que modificam o RSpecto físico do es- ' tuário, poucos são no entanto os documentos que possuimos. tal a pobrt·za de portulanos no Brasil, e. sobretudo, na Amazônia. Ainda assim, pelo que existe desde o séC'ulo X VII, pode-se ver que a, terra se degrada, mas se regenera, no delta intra -estuário. Abram-se as projeções traçadas em 1610 por Johanes Blaeu, em 1689 por T. Cor oneUJ, em 1707 pelo padre Samuel F ritz, cm 1753 pela Socletatis J esu, em 1780 por Belpn, em 1870 por J ames Orton M, A., em 1882 pelo Hydro– graphic Office Waslúngton D. C., em 1892 por Hen ry \Valter Bates e confrontem-nas com os planos de Calh eiros da Graça, Henrique San ta Rosa, Barão Homem de Melo. As dlfe renças, a-pesar-da escala r eduzida., são visl veis. ?1,laiores certamente pela lgnoràn cia geo– páfír a e insuficiência. nos procl'ssos técnicoi; da cartorrafía antiga - mas, cm tollo o caso sensíveis nas mudança!i produzillas pela ero: são das ág,ias, dos ventos e do ncrêsdmo alu- vlônlco, · ' 15 8 W necessárlo navegar nas baías e nos ca– na.IS que ficam a · oeste de l\farajó para se concluir que a ilha anda se ligando às ribas do sul. O arquipélago chamado Estreito de Breves, que se articula e gangliona em v1vas barragens, será a solda que vai \UlÍr Marajó ao continente, transformando a ilha em pc– n insula. Ora, tal escândalo geolqgico não mo– difica somente a geografia, mas a história tambem. Impedida a passagem pelos furos que ligam o rio Pará a.o rio Amazonas, como explicar depois a expedição Pedro Teixeira, que subiu por eles na aventura de devassar o sertão ? Assim, quando o grande bloco ma– rajoara estiver completamente soldado ao flanco oposto da bacia, num recorte escan– dinavo, imperceptíveis serão os vestígios que lembrem, na figura peninsular do porvir, a ilha discutida de agora. Se Marajó tivesse a forma circular, con– forme a que se generalizara antiga.mente, o seu sistema hidrográfico a transformaria numa rosa dos ventos, tantos são os rios que, à semelhança de rumos, lhe avivam os qua– drantes. A norde:,te, a sueste, a noroeste, a sudoeste desembocam, vindos do interior, sé– ries de cursos fluviais que a alagam no in– verno e a drenam no verão. Atuá, Muaná, Cajuúba, Ata.tá. Pracuúba, Canaticú, Gua– jará, Mapuá, Tamaquaré, Curuacá, Anajás, Mocoões, Charapucú, Afuá, Arapixí, Tarta– rugas, Araraquára, Paracuari, Camará, fa– zem parte dessa teia hídrica. Isto não men– cionando os pequenos tributários, os igara– pés, os canais, os furos que a ligam por den– tro e por fora. E aqui é preciso referir o cé– lebre rio interior Camutim, afluente do Ana– jás. Sua fama provém de mais de quarenta "mounds", que lhe bordam as margens. Nes– ses sarcófagos, coroados de terra preta, abunda a louça do aborígene, donde se deduz, pelo solo e pelos despojos, que o aruã (aruac) en– terrava o defunto na mesma colina em que vivia. Sucede ainda um caso especial com este curso, a.o contrário dos demais, cheios de meandros - é quasl reto, o que leva os mo– radores da zona a suporem o solo das bei– radas convexas, motivo das curvas, condu– zindo para os aterros artificiais, que depois se cobriam de cinzas, sobejos de cozinha, subs– tâncias domésticas, enfim, que geram a terra preta. Na meia luz dos crepúsculos, pelo mon– tante e pelo jusante, ao observador que enfia o estiráo 'do Camutim numa visada, afigura– se-lhe ver dois renques de palhoças no beiço dos barrancos. São os "mounds ". O curioso entretanto nestas descritivas arqueológicas é que os especialistas apenas refiram, ao tratar da cerâmica indígena de Marajó, o cemitério do .Pacoval do Ara.ri, quando o ccmit~rio do Pacoval do rio Cururú, tambem afluente do Ana.jás, é multo maior e menos mexido pelos exumadores de louça.. Basta -W.zer que o PARA' ILUSTRADO "mound" do Ara.ri tem de dois a cinéo m~tros de alto, ao passo que o "mound" do Cururú chega a dez metros. Sem outra fonte que não seja a chuva, os manadeiros marajoaras são lag-0as, aguaça.is, pântanos, igapós, pirizais e esses famosos ··mondongos ", restos dum antigo furo, na opinião abalizada. de Ferreira Pena, que atra– vessava Marajó de um lado a outro e que, obstruído pelo noroeste, resultou nesse palude enorme. O furo do Guajurú, que corta a Ca– ,riana do ocidente para o oriente, é uma amos– lra do referido fenômeno marajoara. A maré atlântica é a força que rege o aranhol hí– drico da ilha, enchendo e vazando de seis em. seis horas. No inverno, quando Marajó se volve num lago imenso, afogando quasi to– das as terras, o rebanho vacum de cêrca de 600.000 reses sofre muit.o. O pasto, na maioria submerso, se reduz à. canarana, gramínea aquática que os vaqueiros transportam em canôas para os tesos e marombas onde se acha o gado. A região que era. campestre passa a ser lacustre, coberta por um manto verde de capim flutuante. O verão, todavia, ao con– trário dos sertões nordestinos, equivale na região a um paraíso, tal a abundância de caça, peLxe, quelônio, frutos, leite, man– teiga, queijo e carne. O solo de algumas fa– zendas marajoaras, como em geral o •de todo o Brasil, é escasso de calcáreo, conlorJJJe ano– tam vários criadores. Ka.tzer, na sua "Geólo• ·• gia do Estado do Pará", ocupa-se minuciosa– mente da pobreza calcárea na zona. paraense. Dessa falta provém seguramente o fato de se quebrarem algumas reses em Marajó no ato do laçamento, quando a corda esticada pelo vaqueiro as faz parar de súbito, o que indica a fraqueza óssea do esqueleto. Mas a diferença da terra, entre uma faLxa e a outra da insula, provoca modalidades que se polarizam na nó""- Do lado do ocidente a hiléa majestosa e vírlde, cerrada, sombria, cheia. de lianas e epífitas ; do lado do oriente a vegetação rasteira. das gramíneas (referidas na monografia do ilustre publicista Vicente Chermont), pontilhada de capôes, de árvores miúdas retorcidas, com os bacurizals, de copa cônica ln\'ertida, quebrando a monotonia da paisagem. Goeldl divide tais zonns botânicas por uma linha que vai do Cajuúna. ao norte, ao Atuá, no sul. A sotavento, a mata. a bar– lavento , a camplnar::uu. A. J. de 'ampalo, na sua magistral ..Fltogeo~u.fia do Brasil". fazendo considerações sóbre a parte nordeste da ilha, diz não sabn se a floresta aí pro– gride ou regride, isto é, se, fora d.& influên– cia humana, já foi maior ou menor do que é hoje. E como é 1.. ltural. a desigualdade flo– rístlca estabelece tambem a <ltsigualdade na vida do homem ; :u1ui ,·aquciro e 1., strln- { Con/múo ná pa 11d :.!:.!) 1 1 l

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