Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

EPHEMERIS 87 Manoel Thomaz, embora não seja um poeta primoroso, pertrnce áquella pleiade de epicos seiscentistas de que diz o senhor l\Iendes dos Reme– dios: "Ha nos epícos do seculo XVII erudi<;ão vasta, segura e profnnda.. A tradição classica conhecia-se, os recursos da arte poetica eram numerosos e bem aproveitados". (20) Em Filinto Elysio (Francisco Manoel do Nascimento) lê-se o seg•iin– te verso: R o Batavo pesado que tanto é certo lendo-se Batávo como Bátavo. O que não encontrei foi versos cm que fosse exigida a accentuação na ante-pcnultima dos vocabulos, cuja prosodia. procuro determinar. Cumpre registar aqui, com a sinceridadé propria das disquisii;ões que visam como premio, não épater les bourgeois, senão a verdade scientifica. de que se carece, que em Lucano, no livro I da Pharsalia ha o verso: Vangionese; Batat•ique tr11ces, quos aere recuri;o, em que as syllabas Bata, formando a thesis de um dactylo, são contadas como breves. · Mas o frivolo e dissoluto comparsa das bambochatas monsturosas em que se atascava nas mais sordidas abjecções a, côrte infame de Nero, nlo é por certo auctoridade que se possa contrapor a Juvenal, o austero e paciE,n– te trabalhador, que levou quasi meio seculo .repolindo as suas extraordina– rias satyras, como se tivesse presente o conselho dado aos Pisões em versos immortaes pelo sublime C.c'lntor de Venusia: . . . nonunque prematur in annum, Membranis intus positis. Delere licebit Quoa no,, edidfril'; nescit vox missa reverti. O poema do quasi adolescente questor e augur, escripto aos vinte e poucos annos por um homem despoticamente empolgado pelo delcterio ar:::– hiente moral em que Sl! formou e.• viveu, sob o influxo aziago de Seneca, um hypocrita, e de Nero, um louco hediondo, não podia ser senão o que é-um amontoado de paradoxos, de defeitos de fundo e de fórma, a que debalde infla aqui e alli um rapto brilhante, sempre mais emphatico e artificioso <fo que realmente bello. Este juizo sobre o poeta de Cordova nol-o transmittem todos os seus biographos e commentadores, mesmo os que mais o enaltecem. Lembrarei alguns. "Era (Lucano) uma imaginação sem freio, que não se dominava, es– crava dos seus movimentos impetuosos, e, por causa d'isto sem comedimen– to, ao mesmo tempo impellido e manietado pela sua vehemencia; muito àis– tante d'esta moderação, dom maravilhoso e quasi divino, que não se encon– tra senão em Virgilio ... " 29) Mendes dos Remedios--obra e paginas citadas.

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