Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

-EPHEMERIS "i -ou, ao menos, sem entrecho dramatico, que serviam pata propagar os ensinamentos da seita. Os philosophos pregavam, discutiam e fazia~ isto que, mais tarde, foi feito por S. Paulo e por seus successores. Lu– ·cano deixou uma tragedia incompleta, intitulada e Medra no seu poe– ma, como nota Martl;ia, fez tímb1 e· em se mostrar estoico, em exaltar ·os heróes da republica, em pronunciar a palavra liberdade. O estoicismo como, mais tarde, o christianismo, seu descendente, ·dominava as massas, illurninando-as com a luz suavíssima da sua in– ·comparavel moral. As mulheres partilhavam a crença geral, influen– ciadas pelas severas virtudes proprias dos estoicos. Elias viviam e morriam heroicamente. A dama romana d'esses tempos conturbados por tempestades tremendas, tinha a coragem viril, o desprendimento pela vida e a rigidez das virtudes-, que fazem, em momentos dados; o homem superior ao infortunio, maior que a morte, indifferente aos mais brutaes soffrimentos. As esposas estoicas rasgavam as veias com os maridos, animando-os. Arria, esposa de Paetus, para subtrahil-o ao -supplicío, cravou .o punhal no peito e, arrancando-o, ensanguentado, lh'o apresentou, dizendo-lhe: toma., querido, não dóe. Essas mulheres sublimes, imbuídas d'essas grandes idéas, só po· diam gerar e fortalecer homens capazes dos mais altos sentimentos, -0os mais nobres feitos. Os tempos exigiam a coragem, o heroismo, a virtude. A tyrannia cesariana, estupída, immoderada, cercava os ro– manos de todos os horrores e não recuava diante de crime e de infamia alguma. Esses momentos terriveis produzem virtudes sublimes. Foi 1) estoicismo a salvaguarda das almas contra os horrores d'esses tclm– pos que preparavam o advento do christianismo. Era o tempo tarnbcm dos sophistas, d'esses oradores de eloquen– eia mais ou menos arrebatadora, que discutiam todos os assumptos e aventavam todas as idéas, envolvendo-as muitas vezes em ridiculos ou subtis sophismas. Inventavam-se accusados imaginarios para o orador accusar e defender simultarneamente. Essa gymnastica de palavras agradava os ouvintes. Eis um sophisma: « O auctor de uma sedição ·deve ser punido de morte; quem acaba com urna sedição tem direito á uma recompens':t; o auctor da sedição acaba voluntarfrmente com ella: logo, tem direito a uma recompensa». Isto inebriava os espíritos. Os oradores, que pregavam a moral, faziam sermões, eram applaudidos com enthusiasm0. O habito atra– vessou os tempos christãos e S. Agostinho recebeu applausos nos seus -arroubos oratorios. Os philosophos pregavam as grandes verdades moraes; os sophistas debatiam as theses mais extravagantes e empha– ticas. Luciano fez o elogio da mosca; Fronton o da poeira; um do fumo, outro da preguiça., outro da cabelleira, outro do papagaio. No 5o seculo da era christã, o 1:-ispo Synesio fez o panegyrico da calvície, longa obra, diz Martha, em que todas as sciencias fôram postas em -contribuição para ensinar aos homens que não é sómente felicidade, mas tambem mérito, ser calvo. E' de admirar que o sophista disser– tasse elogiando a febre, a -gotta, o vomito, quando vemos, em nossos

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