Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

82 EPHEl\íERIS. eretas saturando-lhes o espirito tomam-n'o por um abjecto perso– nagem antes que um franco e inabalavel julgador ela humanidade. Etienne dil-o calumniando, pela franqueza, a natureza humana. Etienne escreve <:om desejados objectivos moraes, é um mes– tre que fala a discipulo;; a quem é obrigada a linguagem ela sã ten– dencia moral. Satisfaz, o seu juizo, á conscicncia humana no seu retrahimento semi-religioso, mas não corresponde a uma verdadeira e flagrante situação do!' factos. A humanidade tal qual é, em sua actividade no seio da,, sociedades, está gravada no "Principc", sem rebuços nem prejuízos. De facto, não S() deu o celebre diplomata florentino por mis– são, como seu coevo, o mistico Savonarala, contrariar os homens. convertendo-os aos pt·c~eitos religiosos elo christianismo o.u ele qual– quer outra religião. Sua preoccupação, sem ser o divino trabalho innócuo de salvar a humanidade do fogo do inferno, era a terrena intensão realizavel da grandeza italiana pela unificação nacional, mostrando aos principes e homens de Estado o latejar vivo elos sen– timentos humanos e os meios de fazel-os aproveitaveis aos interes– ses elo throno, ou do governo, para serem os interesses da nação. Nesta attitude qnasi paradoxal de realizar a grandeza da Pa– tria por meios que o mysticismo humano repelle e que a impoten– cia critica não deixa b<'m perceber, é que a Historia surprehenclc os dois typos mais r0presentativos da diplomacia humana, appro– ximando-os similhando os, tornando um precursor longinquo do outro pelas pratic,1:, L1 .outrinarias ela política: Nicolau Machiavel e Otto, príncipe de Bismarck. Sabios políticos, audazes em affir– mar suas convicções praticando-as, conhecedores seguros dos ho– mens e de seu tempo e, sobretudo, patriotas, fizeram ambos tra– balho de sincero naeionalismo. Um cõnseguiu crystallizar seu so– nho nas acçõe:; intn,gralmente realizadas, o outro, tentando a acção, conseguiu, apenas, revelar luminoso o patriotico objectivo. .Bis– marck, sonhando a magnificencia unida da Patria, encontrou nos preceitos machiavelicos o meio de conseguir a Força d'essa u.mao. E não é lir.:it.o duvidar do espírito com que Machiavel com– poz seu "Príncipe", qne tem seu complemento logico na "Arte da Guerra", trabalhos, ambos, termos de uma equação política, dedu~ zida para a solução do grande problema nacional. A par de regras e conselhos de política interna doutrinava o sagaz florentino, com apoio na realidade incoherente dos factos, mais a miude, com mais insistencia e ampleza sobre os modos de se comportarem os príncipes "vis-a-vis" das outras nações. Esta: afíirma~ão de cuidar dr. Estado para sua defesa e amplitude sente– se, como uma synfüese que se impõe ao leitor, ao voltar da ultima pagina do "Príncipe". E subterraneamente, sob esse tecido do regras de política internacional, percebe-se o ruido de uma voz que '

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