Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

~omance de um ~ecrefario de L.egação Para o Loui·ival de Guillobel Pela calma prcsaga e morna d 'aquella noite, sob um céo sujo d'estrellas vivas, os d0is amigos desciam mollementc pela rua deser– ta e silenciosa áquclh h0ra morta, abandonados ao encanto de um cavaco intimo, a re1:01·1lar cousas d 'antanho, por entre aladas bafo– radas de magnifico.1 cig1trros do Cairo, numa alegria moça e des– preoccupada. Vinham de un; baile na Legação d 'Austria. Ambos altos e delgados, esbeltos na elegancia mascula e sóbria. das casacas, eram cl'ess3, cspecie super-civilizada e gentil, que de– 'nuncia, de um golpr, os individuas bem nascidos. Um, grande e– forte, d 'hombros robusl:0s e quadrados, com a barba negra e curta. talhada em ponta, com qualquer cousa de victorioso e cavalheiresco na physionomia, lembrava a figura medieva de Godofredo de Bouillon. O outro, fragil e magro, era d 'esse typo aloirado e ro– mantica, eternamente infantilizado, que as mulheres, já no outomno da vida, amam com a paixão morbida de um começo de velhice. Vinham joviaes, qnebrando o silencio nocturno da rua com ri– sos claros, de sons agudos, que echoavam, como crystal partido. pelos amplos portae<i f}U<:\ a sombra engulia sinistramente. -Como estava deliciosamente formosa a filha do ministro d 'Hespanha, it linda Ro<sarito ! E que graça subtil, que elegancia nativa! disse, de repente, João ao amigo. O outro, silenrimm, subitamente pensativo, seguia vagarosa– mente sem responder, esquecendo nos dedos molles o cigano, que apagára. Pelo céo m1ctuoso e baixo as estrellas abriam tremula– mente as pupillas de fogo. O silencio pesava, lugubre., quebrado ao longe pelo ruido monótono de um velho .Eiacre que abalava. A ca. saria e cura perdia-se na sombra, mordida pela noite. Uma brisa

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