Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

64 EPHEl\'IERIS Dentro da brmmt mystcriosa e caHdida, como a alma de Swcdemborg, apavorou-se, tornou se rny:;tico, resou, clle que tão divorciado andava daquelle Amor che mue, ve il Sole e l'altre stelle, pelos carreiros largos do goso subalterno, da grnnde vida materializada e esteril. Na clau– sura do norte 1 ermo de sol e de calor, teve um intenso rr.cdo d'aquella natureza sem linlrns, sem contornos, sem exprcssiio, morta. Aterrou-o a dolencia do luar '.:las !andes, profundamente triste, com as suas visões, os seus phantasmas que erram impalpaveis e dolorosos e obrigam o labio a tremer numa prece, a alma desgarrada a refugiar-se no céo, reconciliando se com a diYindade. Preferia, agora, a visinhança do in– eendio que lavra lá em baixo, ao frio e á bruma, ao eterno cendrado de um meio tã.o áspero e tão mortificante. Estava, porem, transfor– mado. A impressão que o árctico com os seus silencias e os seus rnysterios produzira na consciencia daquclle guefteur de la lunn'ere fôra tão profunda e t:io forte que até urna concepção philosophica as– saltara-lhe os crystaes da mente, como um sonho da bruma. « O ether, enchendo o espaço infinito é o g:-ande medium do mundo physico. Todo o encanto do.;, sóes, todas as vibrações, todas as claridades, toda a rythmia constellar do azul, chega-nos aos sentidos por seu intermedio: os mundos com a sua côr e a sua fórma e a sua orbita e as suas evo– luções na harmonia do systema, todos os seus effeitos, todas as suas secretas influe11cias sobre os seres e as cousas. O pensamento humano é tão amplo, ti'ío illimitado, tão mdefinivcl como o espaço; concebe o que não vê, o.que não ouve, o que não toca através do sensitivo espi– ritual, grande mediiini do mundo psychico. Toda a belleza da divina essencia resumbra través a lente desse prodigioso spetroscopio que não acaba com a morte, mas fica a vibrar na espbera, em sideraF– dade. Ha seculos, reduzido era o numero dos capazes de receber a communhão da Altura, como nos--évos de Saul e de David. Hoje em dia são multidão. O Senhor disseminou a graça entre os humildes e a divina inspiração vae-se alastrando como- hera preciosa em busca dos cimos humanos, invadindo-os, conquistando-os, dominando-os. Ha quem veja o invisível, quem ouça o inaudível, como nos dias de Joanna d'Arc; e muitos são os que não ouvem, nem vêm, mas experimentam por7'Iril modos diversos que ha uma escada de Ja– cob entre a terra e o céo. Nunca Deus esteve tão em contacto com os homens como nos dias a correr. Parece que algo de extraor– dinario vae acontecer na face do Universo». Foi sob a irradia– ção deste pendor espiritual que aquelle que andara a se quei– mar no brazeiro de Pari~, volvêra, um dia; á terra da patria, n 'um illuminado recanto meridional da America laboriosa e livre, na incidencia do tropico, onile o sol é uma felicidade e o calor uma fortuna, onde a luz não deserta da esphera e é « leite e mel na bocca da verdura», onde nem a noite sem luar é triste porque o povo dos as.ros, floração do empyrio, a enriquece e aformoseia. Che– gara radioso; dir-se-ia egresso de uma soturna paragem, era cuja té– nebra tivesse andado a tactear 0omo um senambulo de um sonho máo que se desfez. Da sua commoção brotavam as primeiras palavras: -

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