Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

54 com o olhar de vidente, messianí– co: "O Bralsil, meu caro, é um paiz pei➔d'ido. Somos um povo ignorante, nã,o lemos, não possui– mos um typo representativo de no:sso estado cultural, um super– homem que nos honre, que se pos– sa homb1,ear com qualquer men– tailidade européa. Que noção de esthetica tem o br3isileiro? Em ee-0nomia, social, que temos feitó? Nada, nada e narda", Paternal, superior e lugubre– mente, batendo-me nos hombros, dizia: "Crê, meu amigo, somos •a, naiçãio rn a,is a;trazada da America do Sul. Qual a nossa missão na política universal ? Não sabemos até parai que vivemos na commu– nhão intemacional". Eu, provínciano acanhado, fi– quei mudo ante a enxurrada da piiosai barbara e 'fluente d 'aquelle feliz mo~tal, que por muitos annos vivera no Rio. Mas, dre mim para mim, inter– roguei: -Este rapaz será um genio, um doente, ou trará esse scepticismo sómente para embasbaca,r os in– genuo;sr filhos d 'esta grande terra? O meio intellectual do Rio · será diss,ojlvente? Ou isto será um novo "tic" da moda, entre os intelle– ctuaes? Quem sabe não sou o que nadai vê e o que na 1 da sabe dia nossa historia e da nossa littera– tura. Naturalmente deve reinar essa desordem político-social que esse moço vê cla:r.amente e que eu, na minha myopia mental, não per– cebo. E por muito tempo fiquei preso EPHEMERIS, ás palavras nihilistas do meu jo– ven ueformador. Reformador, sim_ Porque elle queria o parlamenta- 1rismo,uma nova constituição que– satisfizesse as nossas necessidades. etlmico-sociaes ; uma nova dire– cção economicai, uma lei salutar sobre a emigra,ção; uma lei am– plis:sima de ensino; uma grande– protecção ao commerc~o, á nave– gação e á indu•stria. "Destruir tudo isto, meu ami– go, destruir", dizia, elle, despedlin– do~s:e de mim. Eu julguei esse ,desespero peLo nosso estado e pelo nosso fim, como nação, como sêr collectivo, que pensa e se dirige, como um d:'esscs momentOIS de exaltação e– desanimo. Mas, lendo um livro do sr. Matheus de Albuquerque, "Sensações e Reflexões", vi que tambem para esse littet~aito nós so. lllOl:l um povo rildiculo, superficial. sêr inculto, sem historia, sem pas– sad,o. Em todo o livro do sr. l\fatheu~ tlle Albuque1•que passa o sopro es– tiolante e entristecedor de um systematico pessimismo. "Sensa,ções e Reflexões" encer– ra diversos estudos, de larga e dif– ficil exposição de idéas, que, a di– zer ve11dade, não fôram superior. mente tratados pelo auctor, não se percebendo nelles os largos des– cortinos dio pensa<l1or, do scien– tista que sabe applica;r as leis d~ sciencia nos casos concretos. O seu melhor trabalho é o refe– rente a Rio Branco. Melhor, por– que elle teve a felicidade de fala~ de um homem com quem conví– ver3i, bem de perto. E mesmo por. que um homem como Rio Branco, que é grand-0 pelas ruas aicções ~

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