Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

38 EPHEMERIS O sr. A. A Cortesão, hoje um dos mais acatados mestres de philologia portugueza, na 25.ª edição da ((Nova Grammatica Portugucza» de Bento de Oliveira, cujas publicações posteriores á mor te do anctor têrn sido dirijidas e annotada.s por elle,dando ás paginas 93 e 94 as fnncções do gerun– dio, destaca sob numero 4. 0 : «Como simplez qualificaçãt1 (em vez de oração adjectiva). Ex.: Contem•. plava ab~orto o mar e o sol «occultanUo-se, no horiz.onte.-«Encarou no pobre... ((debatendo-se para elle e festejando-o rom as mãosinhas, bõca e olhos 11. E nã.o é só isto. ll a mais e melhor, não só por ser do mais auctorizado romanista de todos os tempos, se não por'l_ue t<emonta ás primeiras deca– das do seculo par,;sado. A quem ler com attenção a «Grammatica das Linguas Romanicas,, de F. Diez, deparar .. se– lhe-hão ( nú tomo 3. 0 pag. 2:37 f' 238 da trat.lucc;fio tranceza de Alfred Morol-.l?atio e Gaston Paris) commentarioi, e citações 11ne revelam em todo o romanço (italhtno, heispanhol, portuguez, proven-~ çal e rumeno) o emprego tlo genmdio, em vez do partiCÍ[)ÍO presente, apposto a. um substantivo com que se relaciona attl"ibutisamente. Cumpre notar, porem, que, aliá.$ com uma incoherencia estranhavel em tão arguto investi– gador, o insigne sabio germa11ic.o c0ndemna tal syntaxe. E' bem verdade que tal doutrina, embora corriqueira em compendios pertugnezes, não se encontra noil nossos maii<- conhecidos grammaticos. Sotero dos Reis, Oh. Grivet, Jnlio Ribeiro, João Ribeiro, Pacheco Jm1ior, Carnei ro R.ibefro, Alfredo Gomes, Maximino Maciel, Alfredo Alexander, Eduardo C. Pereira não na registam. Em livro braiji)eiro, anterior ao brilhante ensaio do professor 0thouiel Motta (30 de setem:: bro 1914) e á)lO~sa desvaliosa prova de concurso (24 dP maio do mcl'imo anuo ha, que me conste, tão somente a. parcissima uota que ~e lê á. pagi11:t HJ7 da 16.ª edição da «Grammatica Portugueza» do sr. João Ribeiro: ,,E}sereve•me Firmino Costa : «E' muito C'ommum diz.er ·se "agua. fervendo)> em vez. de <<agua. fervente)>. S. de Va.sconcellos em seu livro cita<lo, prefere e),jta forma-«e as uwsrua.s folhas pi~adas, lança<.las cm 1<agua fervente.» Pag. CXXXIII; Berúa1·dez, eu1 igual caso, usou «fervendo-«0 quizer~t que a torrente «fervendo» do fogo inferual me esti\"esse entrando pelos ouvido:-;». «Luz e Calor», íi74. ' Nà.o ha., porem, desa.ire em nào serem novidade as opiniões tão sabiamente defendidas pelo i1lustra<lo lente do Gyrnna.sio de Cam11inas e tiio entlmf-liasticamente acceitas pelo grande Mever Lu • . bke; mas é preci.<:;O aceentna1· clara.mente que a syntaxe das nossa,-: formal'! verbaes ern «ndo·» já es• tava cabalmente estatuirbt por :.u1ctori;,;atlos grammaticos portuguezes, ha mais de meio secnlo e mesmo no Brasil, antt~s <lo brilhante ensaio do ci;tudioso e culto philologo de Campinas, nm obscuro professor r1o Pará a citava em prelecc;ã.o publica, quf' a imprensa de Belem registou. Coincidencia cu1·iol'i1.t. uu ca.~tigó dos ceo.s, o Sr. Otboniel l\lotta, qu~, ao discutir a. syntaxe do gernndio, nào se lembron Uo.s me1,,tres citados aqui, foi por sua vez e$quecido pelo seu coestadano e erudito philo1ogo :-ir. Eduardo Varlos Pereira, abalizado lente cathedratico do Gymnasio de S. Pau– lo, ao V('J "i.ar a referirl~t questão na sua exccllente ((Grammatica Historican recentemente publicada. Em mais de dez paginas ( 542 a 5-&a ) em qne examina minuciosamente o assumpto, o nota– vel grammaticographo, que aliás se refere habilmente a J. Moreira e Leite de Vasconcellos, não a1Jude sequer ao brilhante estudo do profes;;or de Campinas, a que apenas corn~agra os dois exí– guos parentheses- « ( A. V. a.p. O 1\lotta. Q. Philologicas) e (A. V· ap. O. l\iottta ib), os quaes nada dizem sobre a ovinião do mestre campineiro no debate. E' muito pouco ! Mas ... é dos livro~ : {(hodie mihi, eras tibiJJ. lõ) A isto referi•me em artigo puOlicado n' ·'A Província do Pará" de 4 de junho de 1912. 16 ) O vocabulo vem à pagina 350 da segunda. edição: numa poesia de Filinto Elysio ( Fran• cisco Manoel do Nascimento), e á. pagina ~9 da sexta edição num trecho de prosa de l"ranklin Tavora. 17 ) Na poesia citada occorrem sem a tonica marcada os esdruxnlos :-,nmdivagas, planici• es, placidas, bipedes, Maurítania, aurifero, imperio, eimmerias, convicios, Elysian, ao passo qtte appa– recem com accento JJa. ante-penultima arédea, bátavo, cérnlo)) 18 l A advetencria jJreambular é datada de 1833. 19) Frédéric Dicz-"Grammairc dos Langues Homanes>>•tome deuxiéme-tradnit par Alt"red, Morel•Fatio et Gaston Paris-Paris-1874-paginas 336 e 337. 20) O verso da «Eneida,, que talve7. tenha. induzido em erro o auctor d.e uMagnum Lexi• com> é o seguinte, 40 do livro l V: Hiuc Getulae urbes, geuus insnperabile bello, em que escandiu uHinc Getn» como um dactylo, sem reparar que, tendo de conta.r, por força da synalepha metrica ,dae e m·n por uma syllaba, desmantelava o verso de qnem tanto primou em fazei-o~ impeccaveis. 21) Dictionnaire Uni versei Ue Pierre Larousse.

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