Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

28 EPHEMERIS Zola dizendo ser a arte « um canto da natureza através de um temperamento » d'ella não nos deu o conceito exacto. O dr. Sylvio Romero, combatendo-o, diz que « a natureza não tem arte; a arte é um produeto da cultura humanâ ». (4) Criticando a estreita e falha definição de Zola , o dr. Almachio diz que a arte ficou delimitada, pois ella não seria toda a natureza, mas sómente um canto, e mesmo o conceito do auctor do Assomoir estabelecia um impossivel, "a igualdade de uma a1'stracção-a arte -a uma concreção-a natureza». (5) A arte será a manifestação da vida indifferente da natureza ir– manada ávida consciente do artista. Na interpretação da vida con– siste a arte. _ F erri disse que a arte é o reflexo sentido da vida, mas a vida deve ser conscientemente sentida, deve ser o reflexo da realidade que se opera dentro de nós. A arte participará do natural e do humano; clla tem um aspecto objectivo e um aspecto subjectivo, como diz Aimachio Diniz. Emile Lub&c, sdientando a lucta travada entre realistas e idea– listas, pergunta se a arte imita a na ;ureza ou si clla é ficção da ima– ginativa. (6) lVIostrando que os realistas dizem ter a imaginação humana menor capacidaJe de invenção do que a natureza, e os idealistas que, uma vez que é preciso imitar a natureza, as suas obras são sufficientcs para nos safisfazcr, Emile Lubac diz ter a arte « por missão nos tirar de uma Yisão á qual nós não podemos escapar na vida de todos os dias e exorcisar, por um momento, as appariçõcs monstruo– sas de fealdade ou de baixeza que fazem da vida ordinaria um pesa– dello para uma alma um pouco delicada». (7) Vemos que é a intuição que, se exteriorizando cm consciencia, nos vem tr<tzer a realidade manifestada fóra de nós, e, apprehendendo a vida inconsciente. da natureza, amolda-a á sua visão, adapta-a á sua percepção elevada, fazendo-a humana, consciente, envolvendo-a em a purpura do ideal, tornando-a uma realidade artística. O fundamento da arte está, pois, na grande vida, está na reali– dade das acções vitaes, reside, «dans la sympathie symbolique, la com– munion des êtres par la vic effective, l'identification du sujet pensant ct de l'objet pensé, l'introduisible Einfohlnng. » (8) Nem o triumpho supremo do realismo, nem a decadencia do idealismo; ha sómente o glorioso alvorecer do « vitalismo esthetico », a irmanação da vida consciente, de nossos estados affectivos com a vida indifferentc da Natureza. ( t) R. Gillonin - La philosophie de IL Bergson pag. 42 (2) R. Gilloui n-Obr. cit., pag. cit. (3) R. Gillouin-Obr. cit.. OURCIN0 SILVA (4) Sylvio Romero-Novos estudos de Litteratura Contemporanea. (5) Almachio Diniz-D. Esthetica na Litt.eratura Comparada pag. 17 (6) Emile Lubac. Psychologie Ratinelle. (7) Emil e Lubac-Obr. cit. (8) Ch. Lallo lntroduction a l'Esthectique.

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