Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

EPHEMERIS 27 per.feita, transportando-nos a um mundo novo e estranho, onde se aclara todo o mysterio e se desfaz toda a sombra, e onde a propria dôr ,;e justifica com.o revelação ou prcscntimento de uma volupia sa– grada». E essa realidade « mais ampla e mais perfeita » e mais humana, que representa a actividade, os estados moveis da evolução c0ntinua da viela, nos é dada a conhecer pela consciencia e pelo sentimento -envoltorio da intelligencia, pois só ellc é que «nos póde fornecer a significação verdadeira da realidade». Só o scntirr;.ento é que « considera o proprio movimento interior da realidade ». O fim da arte é, pois, dar-nos a realidade embuçada no senti– mento, visando o ideal, isto é, a arte futura será toda uma arte psy– ehica real, será um idealismo realista, ou melhor se1á a vida consciente– mente sentida. A sciencia estuda a realidade que se manifesta fóra de nós, se– gundo o conceito bergso11iano. A philosophia estuda a realidade que se opéra dentro de nós, que é apercebida pela consciencia. Portanto, a realidade scinde-se em realidade exterior e realidade interior. Na art0, a realidade manifestada fóra de nós é que não deve ser flagrantemente copiada, inconscintemcnte traduzida, porque realidade consciente é aquclla que se manifesta cm nós, aquclla que a nossa con– sciencia sente, aquella que traz a personalidade do artista. « A obra de arte não pócle ser senão a realidade mais ou menos modificada pelo espírito do artista; ha nella, portanto, um elemento subjectivo ». A realidade é aquella como a percebe o nosso senso csthetico. Bergson diz que ha, no homem, ao lado da percepção normal, a existencia de uma faculdade esthetica. (1) «Notre ceil aperçoit les traits de l'être vivant, mais juxtaposés les uns aux autrcs et non pas organisés entre eux. L'intention de la vie, le mouve1rnmt simple que court à travers les lignes, que les lie les unes aux autres et leur clonne une signification, lui échappe. C'est cctte intention que l'artiste vise à ressaisir cn se replaçant à l'inte– ricur ele l'object par une especo de sympathie, en a0aissant par un effort cl'intuition la barriere que !'espace interpose entre lui et le mo– dele » ! (2) Pela intuição se dá uma profunda sympathia entre nós e o mun– do que nos cérca e pela dilatação da consciencia, ella nos introduzirá no interior mesmo ela vida, e a visão á qual ella nos conduza poderá ser ineompleta, insufficicnte, não será relativa: contemplaremos a rea– lidade face a face e entre clla e nós nem um véo se interporá. (3) Na impossibilidade de admittirmos o naturalismo á Zola, que sómento revela a vida inclifferente, e por conclcmnarmos o idealismo, que só revela o lado subjectivo da arte e que não trnduz a realidade de acções,e que não revela a vida sentida conscicntell1ente, somos dos que veem, na « sympathia symbolica » estabelecida entre o artista e a natureza, o grande fim ela arte.

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