Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.
26 EPHEMERIS Vive porque é a representação das realidades physica, vital e psychica: physica, porque lia transformação da materia; vital, porque o lázaro soffre e a dôr é uma diminuição da Yida; psycbica, porque ha o embate amargurado dos sentimentos e dos estados da consciencia. E é por não representar o traço humano, por não traduzir uma reali– dade consciente, que o idealismo não tem a mesma duração que a rea- 1idade nos receptaculos cercbraes. A realidade representando o vivo das cousas, logicamente re– presenta a vida, e a vida é a evolução continua e creadora, é a cor– respondencia elas relações internas ás relações externas, como diria Spencer. E pol' isso o que é real vive, existe, perdura. O espirita obiectiva-sc quando cria uma idéa que represente o movimento, porque tudo é movimento, tudo é rriudança. Havendo movimento, ha acção; ella traduzida-eis a realidade. Esse realismo idéal, esse eelcctismo na arte, esse dualismo es– thetico, que hoje domina e ha de se impôr, é o reflexo da philosophia contemporanea. A doutrina berg-soniana que, intimamente se liga a'.) pragmatis– mo, avassalando, hodiernamente, todo o vasto seenario dos conheci– mentos humanos, tem como cunho de originai idade o « ter approxima– -do a philosophia da psychologia pela eonseieneia » como diz Gaston Ragest. A philosophia de Bergson, que póde charnal'·SC philosophia da vida, « considera não simplesmente as modalidades accidentadas da realidade, mas a realidade mesma». Sendo assim, vemos que a realidade é a vida mesma, o ser que « é real é o ser viv0 », e por consequrnc:a a realidade é o expoente da duração. Ligando-se, como já vimos, a philosopliia de Bergson á psycho– logia pela consciencia, e tendo por ohjcctivo a vida-ccnereti;;ando a duração, que se manifesta pela realidade revelada fóra de nós e pela 1·earii:lade apprehendida pela nossa <oonscicncia, o pI'odu~to mental, que é um esforço psychico e, ao mesmo tempo, o mo,·imento consciente da vida, J.cve dar-nos o espectaculo do vivo, do real, o vel'dadciro retrato da Yida em todas as modalidades. _ Bergson, mesmo, nos diz : «Nada de estados inertes, nada de coisas mortas; nada senão a mobilidade de que é feita a estabilidade da Yiua ». Bergson concebe a vida como a evolução creadora, quer dizcl' que a vida encerra em si a duração, e por isso mesmo é que clla é e,·olução. D'ahi a liberdade de crear. E sendo assim a arte « é a ençrgia crcadora do ideal». E a arte, assim comprehendida, « é tudo que pódc causar uma emoçlto esthetica, tudo que é capaz de emocionar suavemente a nossa sensibilidade, dando .a volupia do sonho e da harmonia, fazendo pen- sar em coisas vagas e transparentes, mas illuminadas e amplas como o firmamento, dando-nos a visão d'uma realidade mais ampla e mais
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