Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

EPHEMERIS 25 aflora a realidade como a entendemos, a rea!idade humanamente re– velada. As suas innumeras fantasias são, realmente, verdadeiras belle– zas de imaginação, mas não se marmorisam no monumento das coisas indestructiveis, porque não traduzem conscientemente a vida. Tomemos nm outro eseriptor qu.e, nun:i livro de estréa, PELA VIDA, se nos mostrou um poderoso artista. Falo de Terencio Porto, já fallecido. A sua fantasia AD LUCEM é um perfeito cofre de lucilações de luares e de «psalmos de luz». E' um quadro de variados tons de tintas aquelle em que nos dá junho como o mez ideal; lampejando as laminas de fogo, ao estalar dos beijos castos das estrellas. « E as estrellas são beijos brancos e virgens que ficaram palpi– tando sua candida volupia na face macia do céo, quando elle teve uns lendarios e estranhos amôres de que nos falam suas pupillas triste– mente azues ». Isto além de não ser real não é humano. A arte deve ser hu– mana, deve ter o cunho da petsonalidade, deve ser a « syrnpathia » do artista pelo mundo que o cerca. E como este trecho encontramos, no livro de Terencio, tantíssi– mos outros. l\Ias, passadas as folhas, em nossa mente, vibra a sensação do vago, palpita a emoção de coisas transparentes, indefinidas ... Depois, tudo vasio, e o nada sómente. Leiamos, agora, o conto grandemente humano A VINGANÇA, um trabalho serio, verdadeiramente artístico. E' um morphetico que conduz, sobre a sua vida desgraçada, a - desventura do adulterio a espicaçar-lhe, a torturar-lhe a maldita exis– tencia. J# um Prometheu jungido ao Cauc;,'lSO das Amarguras. O artista abre-nos a alma d'aquelle infeliz e mostra-a rubra de Tortura e Soffrimento, como unia chaga aberta. E onde a emoção é fortissima, quasi chegando ao pathetico, é quando o lázaro, no espelho, contempla a sua deformação, a ruína de sua carne e verifica que o seu rosto é uma pasta violacea-escura de pús e tecidos decompostos. E' uma bella pagina, á Edgard Poe, da litteratura do Horrível. Fica-nos bailando, macabra e horripilantemente, na retina, aquelle rosto-um amalgama de pús e de sangue rubro-escuro, como o de um Falstaff deformado, rindo amarguradamente, com a carne re– torcida pelo espasmo da destruição. Surgem, rlepois, as grossas e lustrosas orelhas, com manchas tu– mefactas e purulentas. Cerremos os olhos, e continúa aquella vietima contricta, ainda, cada vez mais viva, a surgir, a crescer, apavorante, implorand'o pie– dade. Aquelle quadro vive, movime11ta-se.

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