Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.
24 EPHEMERIS:. Mas essas idéas, na arte, devem fundir-se em uma só, devem en-– contrar-se em um só ponto, para formar um grande todo, para consti– tuir o que chamam os modernos esthetas-o valor esthetico. A arte, submettida ao criterio do bergsonismo, é, como nol-a de-– finiu Farias Brito, « a energia creadora do ideal». · Acceitando as linhas geraes da doutrina do grande vítalista que é Bergson, a observação da realidade não é a photographia das acções, não é a reproducção da vida indifferente da natureza. A arte, para ser humana, <teve visar o ideal. · De uma feita, o realista original que foi Fialho d'Almeida, es– cre-vendo sobre o zolaismo, assim se expressou: «Sob pretexto de um. inquerito á verdade, sob a pretensão fallaciosa de fazerem real e irem vivissecando a sociedade no mais hypertrophico de suas vísceras no mais contaminado de suas podridões, no mais pavoroso e inexplicavel de suas metásteses,-elles traziam a câmpo monstruosidades, excessos,– fantasias, calumnias, que a maior parte das vezes nos forçam a des– vi_ar a vista, com asco, do volume que iamos compulsando». _ A tendencia da arte é crear o ideal, baseada na psychologia ra: cional, pedindo á intuição, ao sentimento, á consciencia, a sua pene~ !,ração, a sua força e a sua sympathia profunda. . A psychologiã «não se apprende nos livros, mas na lucta mes– ma da vida, é uma sciencia que, por 'lssim dizer, não se apprend.e, mas vi'l:ê-se; sciencia que faz parte organica d'aquelle que a possúe, e em q1_1e o objecto do conhecimento é consubstancial com o sujeito». Aquellas idéas que representaiµ o puro idealismo, que escapam ao poderio da intuição, não póJem ter a perpetuidade das que ôoe– decem ás normas creadoras de um ideal, porém sujeito ao instincto consciente, e que tenha por objectivo dar a .visão elevada da rea,– lidade. As obras d'arte são eternas porque representam a realidade de -acções, porque são o esforço consciente du artista em sentir o movi– mento da propria vida, estreitando as relações do meio em que elle vive com o seu eu. A eclosão da luz interna, os surtos da imaginação ardente são passageiros; as suas impressões são fracas como o leve bater d'azas cançadas. Ha como que a idealização do sentimento. No dominio mera– mente das idéas subjectivas nós não temos sensações fortes. Aj idéas são scentelhas vagabundas do cerebro. Em um nosso escriptor, Coelho N~tto, podemos vêr o que nisso vae de verdade. As suas obras representam já extraordinaria activi– dade, porém aquellas que passarão para os posteros são as que repre– sentam as acções da nossa natnr!Jza exuberante, as que reflectem os angustiosos gritos d'alma, os embates psychicos, as que revelam os nosso-, meios ethnico e social, emfim, aquellas onde vamos encontrar _a eterna energia da vida. _ O seu livro Sertão é um livro de futuro, é um livro eterno. Nelle í
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