Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

20 EPHEMERIS Escondeu com as mãosinhas patricianas os lindos olhos e, effu– samente, extravazaram-lhe as lagrim.as .. , Noivo !- pensou d'entre si - Não esperava!. .. Os homens são sempre os mesmos . .. Incapazes, na sua volubilidade, d'uma affeição duradoura... Quem seria a noiva ? Naturalmente alguma moça rica ... E quando a prima lhe affirmou que não, que era muito pobre e muito humilde, ella surprehendeu-se mais ainda... Pobre e humilde! Só, pois, um grande amôr, conturbante e extremado, impelliria um homem como Affonso Carlos, faminto d'am– bição, a esses extremos... Não pôde deixar de pemar, de si para si, que a sua vida tinha falhado... Eternamente a sua alma e o seu corpo rugiriam por esse homem, mesmo que recebessem d'elle todas as affrontas e todos os desprezos martyrisantes ... Pobre de si ! Pobre de sua mocidade destinada á esterilidade, fadada ao peor de todos os soffrimentos, e, no entanto, clamante e se- quiosa d'esse amôr... Que seria a vida sem elle? Uma agonia infin- davel, in1;onsolativa .. . Que fari_a? E d'impeto, já mais em acalmia, perpassou-lhe pela mente a vida conventual. .. E o desejo de ruinar a sua carnação estonteante, de murchar a sua belleza, de afogar a sua graça sob a estamenha grosseira apode– rou-se completamente d'ella... O mundo aterrorisava-a ... Porque para ella o mundo era Affonso Carlos,-inconstante, voluvel, cheio de de– feitos e, no entanto, cheio .de encantos, fascinador na sua radiante mocidade ... Pois escaparia ao mundo, que tanto a fizera soffrer... De feito, dias após os jornaes aununciavam que a rica filha do senador Francisco de Magalhães ia professar e doara quasi toda a sua fortuna a um instituto de beneficcncia ... Ponta de Pedras-Janeiro de 1914. EMILIO DE MACEDO

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