Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.
EPHE.MERIS 105 O homem não deve perturbar-se com a pobreza e com a mo– lestia, com as perseguições e com o infortunio: deve ter sempre em vista que o universo não foi creado para seu goso pessoal. Devemos _ acreditar que as leis da n atureza são et ernas e irrevogaveis, e se . realizam mau grado nossos descj0s e nossos inter esses, nossas sup– plicas e nossas lagrimas. Os acontecimentos são a essencia fatal e eterna das cousas. Devemos olhal-os como necessarios, submet– termo-n os sem temor, sem reluctancia, considerando que a nossa submissão é j á por si um consolo. Não ha vontade nem capricho: ha uma ordem eterna e certa. Regular nossas esperanças e nossas acções com as possibilidades naturaes, resignando-nos com as impossibilidades, eis o segredo da felicidade da vida isenta de temores vãos, de tantas illusões in– fantis . - Vivendo libertado das cadeias d 'essas desesperadas tentativas contra o que é irremediavel, o homem morre sem cuidados com r e– lação ao destino futuro de sua alma. Primeiramente, a morte é uma cousa natural, que nos deve ser completamente indifferente, porqu e a morte é a ablação de todo o sentimento. Emquanto exis– timos não ha mor te; quando a morte sobrevem, cessa a vida. Kiio devemos temer uma cousa que não nos póde molestar. Não viver não é um mal. Na morte não ha consciencia de cousa alguma: h11. o nã<J ser. Em segurn:lo logar, o nosso destino futuro nada tem de alarmante. Ou a alma morre logo depois do corpo e deixa de ser, quando peccadora e ignroante, ou vive em t empo mais vasto e se abysma, afinal, na essencia divina e com ella se confunde. :Em todo o caso, o anniquilamento da personalidade, do eu . O fim da vida é o prazer. O prazer é um bem, que devt>mos pr ocu rar. A dôr é um mal, que devemos evitar. Mas tudo t em limites e não devemos fugir insensatamente da dôr, n em procurar insensatamente o prazer. O bem é a virtude e consiste no goso da sabedoria. Só o sabio póde ser virtuoso e feliz;. O mal consiste no erro e na ignorancia. Conseguir o bem, a felicidade, a virtur1e p l'ln sciencia, eis o fim supremo da vida. O soffrimento é o apanagi o da humanidade. O homem prudente deve resignar-Re com os ma– les que o acabrunham, não se lamentar nunca com a idéa de qu e não gosa a abastança, G luxo, a grandeza dos outros. Xão t emos todos as mesmas probabilidades de exito n a vida. A unica possi– bilidade facultada a t odos os homens é a de se approximarem, p ela sabedoria, da virtude perfeita e divina, livre das contingencias hu– manas. A virtude é a felicidade, porque nós só podemos ser vir– tuosos sendo felizes e só podemos ser fel izrq se11d0 sabi os. Devemos ser bons, jm;to:::, c:tridosos !>"m idéa alguma de in– teresse e de recompensa nesta vid a e na outra. Nisto Epicuro se approximava de Soerates, que prohibia que pcdissemos qualquer fa– vor particular aos deuses, apenas consentindo que lhes pedíssemos
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