Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.
104 EPHEM:ERIS doentes o balsamo sedativo da esperança e do conforto. Homens que não temiam a morte, que não adulavam o poder, que não procu– ravam a riqueza, que não se tisnavam na lama da corrupção geral, bem podiam desempenhar o papel que, no nosso tempo, tambem de duvidas e desesperanças, não temos quem deRempenhe. O padre catholico já não póde consolar-nos porque tambern lucta, como nós, pela :riqueza e pelo poder, na politica e no com– mercio; pisa, con10 nós, a lama das paixões revoltas e contraria– das, e se distingue de nós sómente pelo rótulo da tonsura. E' um descrente e uma victima, como nós, do meio ambiente. O apostolo deve firmar ,;na doutrina com os actos. Quem acredi– taria na temperança prégada pelo glutão, na honestidade prégada pelo rufião 1 Os estoicos viviam como evangelizavam. Sua vida era o espelho da sua moral. A respeito d 'elles é que o nome traz a representação do objecto, que indica e corresponde á natureza intima das cousas, conforme ensinava Socrates. Qual era a moral dos estoicos 1 Epicuro, como todos os gran– des pensadores da antiguidade grega, distanciava-se elo pensar e do sentir da totalidade do vulto de sua patria. No ponto de vista religioso, Epicuro não acreditava na exis– tencia real dos deuses, como seres exteriores; porém honrava a crença nos deuses, como um elemento do ideal humano. O atheu, dizia elle, não é quem nega os deuses da multidão, e sim quem partilha as opiniões da multidão, relativas aos deuses. Devemos olhal-os como seres immortaes, eternos, cuja beatis tude exclue toda a idéa de solicitude ou de occupação, estranhos, absolutanwnte, aos acontecimentos da natureza, que segue seu cur– so, regulado por leis eternas. E' offem1er á majestade dos deuses crel-os preoccupados comnosco. Nós só devemos adoral-os por causa da sua perfeição. Pouco importa que essa manifestação se revele em seus actos exteriores, ou que se ostente, simplesmente, como ideal, em nossos pensamentos. O vulgo não póde comprehender, para os adorar, deuses que lhe não póclem ser uteis e serviçaes. Quanto á alma, Epicuro a considerava de natureza corporal, sobrevivendo, por um certo tempo, depois da morte do corpo. As almas más e ignorantes, de materia menos pura e menos duradou– ra, morrem logo depois dos corpos; as almas virtuosas se elevam até á morada dos bemaventurados, onde continuam a existir, até que, n~ grande abrazamento dos mundos, recaiam, como tudo o que existe, na unidade da essencia divina. Partindo d 'estes princípios, que podem ter contradictores fa– nat~cos, mas sempre l_1ão de ter continuadores esclarecidos, Epicuro ensmava, c~mo condição essencial para a felicidade, em primeiro l~gar, a resignação nos revezes da vida, em segundo logar, a impa– videz da morte. J
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