Ephemeris, v.1, n.1, agosto de 1916. 115 p.

EPHEMERIS 95 A naturalidade, a graça·, o vigor, dotes dos mais brilhantes obreiros da imprensa, são tambem as más qualidades principaes, ao mesi;no tempo que, nos golpes vibrados em pleno rosto dos adversarios, ferve antecipadamente o rancor implacavel dos soli– tarios das redacções, apertados, como num circulo de ferro, entre o ataque de hoje e a desforra inadiavel de amanhã. Num ponto Aristophanes muito logrou ser jornalista. ()g -Athenienses, r ebeldes ás imposições, riam-se de Cleonte e de Hyper– bolos e no dia seguinte suffragavam-lhes os nomes para os mais altos cargos da Republica. E' mais um argumento, seja dito de passagem, -a favor da in- • nocencia do nosso poeta, apresentado ao tribunal aa opinião, q,ne por vezes quiz responsabilizal-o pela morte de Socrates. Ao auctor de comedias cabia o direito de metter a ridiculo os • personagens eminentes, em dar ao povo, na parabase, garrida • ~orno os nossos articulistas, patrioticos conselhos. Mas a sentença ulterior dependia do unico soberano, o velho Demos, reunido nos . -seus comicios, sem que se atrevessem os dyscolos, a arriscar a me– nor censura. O proprio algoz de Cleonte tem medo, vê-se claramente, do rabujento ancião. Por mais que o apode de papa-favas, de caduco,· • de deshumano e lunatico, a triste sorte dos generaes e dos politi– ~os, o terror que lhe inspira a concha de ostra, o obriga a andar ao redor d 'ellii, attencioso e servil, "abanando" elle tambem '' a eau– da", como o curtidor Cleont_e e o toucinheiTo, seu substituto. Lastimamos a necessidade de fazer esta constatação. Ma:;; é _ainda uma homenagem ao grande comico, uma pallida imitação das ·suas ousadas "parabases", impregnada, por contagio, de sinceri– -dade aristophanesca, que offerecemos aos numerosos admiradores . <la Greci:a incomparavel, mãe dos deuses, dos genios e dos heróes. João Crolet

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