Boletim Agro - Cooperativo. 1954

-2- BOLETIM AGRO-COOPERATIVO Cooperativismo e Eco11omia Rural FABIO LUZ FILHO Presidente do Centro Nacional de Estudos Cooperativ0s Já t h·emos oportunidade de dizer, em "Teoria e pratica das sociedades ccG:perati-Yas", que, coliman– do o Yalor de uso, a satisfação de necessidades, o "justo preço", que é a abolição do lucro, tira o cooperativismo ao princípio da concorrência aquêle valor que lhes emprestavam os econo1nistas clássi– cns. Sen1pre viram êles, nessa "concorrência de ren– dimento ou funcio~al", a mola vital do livre-câm– bio ,a seguranc;a da expansrarindefinida da vida econômica. Sombart adverte contra as supostas virtud€·l dessa "livre rivalidade", tal a fôrça ima– nente do C?.!)itaJismo moderno, no seu poder econô-– mico proteiforme, tão afastado daquêle espírito da economia pré-capitalista, e do da economia do pró– prio capitalisn10 nascente, que ouvia, contrito, a ad– vertência evangélica de MALPERGER: não desvies em teu benefício a clientela do outro e não faças, a outros o que não queres que te façam ... Bela lição de moral comercial! Na época em que vivemos, de impiedoso aco– tovelar rumo ao enriquecimento, quem nos de– ra pudessem os homens, do alto de seus egoís– mos obcecados, ouvir as palavras de Vieira! ". . . o verd:ótdeiro cristà é um nào-eu, porque se há de haver nas coisas próprias como se foram nas alheias!". . . Que paraíso seria, en-– tào, o mundo! ... Carlos Gide disse que o cooperatiyi~mo, quando é considerado apenas um negoc10, e um mau negócio. . . Corpo sem idealidade . . . E' a fase primária dos que vêem na cooperativa apenas uma desnensa ou uma boa receita eêonômica. A segunda fase, a fase vital, Fau– quet a vê quando os coo9eradores se sentem unidos pelos laços morais da associação, o ambiente da grande família solidarizada, com o senso das responsabilidades comuns. Atinge, então, a sua plenitude, a divisa: "Um por to– dos, todos por um", fórmula solidária de fe– cundo alcance . E. Foquet, com aquela lucidez de raciocínio típicamente francesa, frisa que, tendo o coope– rador, como ideal, ser, a um só tempo, livre e solidário, sua doutrina não será nem indi– viduc(/ista, nem da escola liberal, nem do co– letivismo científico. Será êle associanista e fe– derü.lista. Com êsses princípios de liberdade responsável, fará um apêlo para a reconstru– ção do mundo civilizado, repetindo com Car– los Gide, que a civilização só sairá vitoriosa das duras provas que hoje sofre ,apocalíptica-• mente, se a Humanidade conseguir que, no mundo de amanhã, as nações, unidas e fede– radas, assegurem mutuamente, e para seu bem comum, seu livre desenvolvimento econômico e cultural, e se em cada nação, a exemplo das associações cooperativas, a organização neces– sária dos grandes interêsses coletivos que não convertam em escravas as pesosas, mas as tor • nem livres em tôda a extensão do termo. Já escrevemos, em "Cooperativismo, crédito agrícola, colonização", que, do ângulo do pen-– sarnento social do presente momento históri- co; a propriedade rural, ao lado pressão econômica, deve ter um b\í as medidas de colonização oases de nucleação cooperativa. de uma ex– valor social. interior em Como órgão de ação social e econômica, a. cooperativa pode atender várias faces do pro– blema social. Poderá ela resolver, nos campos. o uroblema do maior rendimento, o da -comer– ciâlização, o da melhor distribuição, o da pe– quena e da média propriedade, o da conquis– ta de mercados, isto é, o problema econômi– co, mas também o da higienização, o da. alfabetização, o da assistênda hospitalar– e resolve e encaminha, se não todos, pelo me– nos o maior número possível dos problemas de felicidade humana. Dela efluirá um elev~do bem-estar coletivo, uma outra ordem de coi– sas, mB.is luminosa, màis alta, mais ~gna_._ Há 109 anos operou-se verda– deira Revolueão Social A COOPERATIVA BECO DO SAPO AINDA SUBSISTE - PREITO DE HOMENAGEM E GRATIDAO AOS PIONEIROS DO COOPERATIVIeMO Precisamente há 109 anos, na pequena cida– de de Rochafüde, no interior da Inglaterra. fundava-se no 0ia 21 de dezembro -rr Sociedade dos Probos Pioneiros do Rochdale ,a primei– ra coo,"rativa cte consumo organizada nos. moldes- hoje consagrados como clássicos. Enfrentando tàda a série de dificuldades e uma guerra sem trégua dos comerciantes, a Cooperativa do Beco do Sapo impôs-se aos· poucos à admiração de tôda a coletividade -,1 deitou raízes urnfundas em todo o mundo, transformando:.se na primeira conquista efe– tiva da doutring. cooperativista. Entre os seus 28 fundadores, todos operários e trabalhado– res de profissões humildes, incluía-se Char– les Howarth, considerado o Arquimedes da Cooperação e ar, qual deve éssa doutrina eco– nomico-social um dos seus 7 famosos e mun– dialmente conhecidos princípios, o que es– tebelece a devolução ou o retorno pro– porcional às operações, unanimemente con– siderado um golpe genial e revolucionário Graças ~ esse princípio as coopere.tivas rapi– damente se impuseram e alcançaram lugar de destaque em todos os países do mundo. Hoje, essa cooperativa - que ainda subsiste - é um dos empreendimentos mais modela– res entre empresas existentes, no mundo, não só pelo3 se,:-vi•;os prestados aos consumidores como nelo sentido humano e moral que deu ao problema das relações econômicas entre os ho:nen.s. Renclamos um preito de homena– gem e gratidão àqueles probos pioneiros, aos qun.is o mundo deve essa verdadeira revoluçãa social operada sem sangue e sem guerras,, dentro de naz E· harmonia. (Da "A Hora", de São Paulo) .

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0