Boletim Agro - Cooperativo. 1950

BOLETIM AGRO-COOP.ERATIVO - 27 - COOPERATIVISMO MENOTTI DEL PICCHIA (Da Academia Brasileira de Letras) Grupos previdente1', e organizados diante do dramático crescimento do custo de vida tiveram o bom senso de criar cooperativas de consumo cujo excelente funcionamento veio aliviar~ sorte pouco promissora de muitos lares proletários. A iniciativa particular, inteligente e defen- . siva, pôde assim de certa forma minorar os males oriunQos do alto custo de vida que aflige as classes menos abastadas. O espírito de cooperação e solidariedade tratou de defender-se cont ra uma eco– nomia destrembelhada à qual o •governo agrava, com seus impostos e com sua au– sência de um rumo seguro e ·constante, em matéria de economia, o seu já aritmi– co funcionamento. Sempre presente para cobrar o tribut o e quase sempre ausente para fazer benefícios, o governo apenas interfere nessas cooperativas para sugar delas a cont:ribuicão destinada ao fisco quando, ao contrãrio, deveria estimular seu livre desonvolvimento. Conheço, há muitos anos, o trabalho de alguns abnegados organizadores de cooperativas de consumo ent re nós e re– gistei os excelentes frutos de t ão nobre iniciativa. Vantagens inumeráveis de– correm da formação de uma consciência cooperativista. Em primeiro lugar, os proventos materiais: a mercadoria é ad– quirida quase pelo preço do custo, o que alivia o orçamento mensal do associado, sempre estreito senão premente, da carga do excessivo lucro que cai nas mãos dos mediadores, uma vez que a compra dos estoques da cooperativa é feita em grosso e diretamente. Segundo, cria a imposi– ção automática do hábito da economia, porque as compras para o gasto domésti– co deixam de ser feitas ao acaso pelas donas de casa, passando a obedecer ao cálculo de um suprimento planejado e racional. tsse rítmo regular imposto ao orçamento doméstico educa a família dentro do hábito de uma sábia economia. É um fator psicológico da maior trans– cendência porque tira a bre.cha de um insolúvel "deficit" no fechamento mensal das contas. Além desses enormes benefícios, que dão paz e firmeza aos lares, umá vez que lhes resolvem a parte econômica, há os resultados sociais e espirituais que fluem do cooperativismo. É ele um estimula-– dor vivo do sentimento associativo, gene– rosa forca de união aue, solidarizando as criaturas, na busca de um bem comum, acsntua entre elas a fraternidade. Esse mais íntimo circular dentro dessa atmos– fera de comum auxílio e defesa, desen-• volve os mais belos sentimentos ·da mni– zade tornando a vida neste vale de lágri– mas 'mais tolerável e possivelmente bela. Os homens não são maus vistos de perto. Toda alma - mesmo a mais aparente– mente sombria.,_ tem uma porta, genero– sa e receptiva, que 8ie abre à simp~tia do companheiro, quando este se aproxima e procura descobrir seu discreto umbral. Há sempre uma parte boa em toda a criatura. Essa parte somente é desco– berta pela proximidade. Unir os homens é fazê-los amar-se reciprocamente. o coouerativismo, pois, é um dos me– lhores el;mentos da paz social. Acho que os governos deveriam estimulá-lo por to– das as formas. Prescindindo, porém, da iniciativa oficial, homens de boa vontade já criaram nos meios populares vitoriosas cooperativas. Seu funcionamento vem dando os _mais auspiciosos resultados. Essas cooperativas de consumo auxiliam e educam, defendem a economia dos la– res e mantêm alto o espírito associativo. o ideal seria ver fundar-se uma em cada bairro. As cooperativas seriam assim um vivo laco de interêsse e de solidariedade humana, fazendo d e todas as famílias como que uma só família. («A Gazeta» - São Paulo)

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