Boletim Agro - Cooperativo. 1950

.. BOLETIM ÁGRO-COOPERATIVO -15- --,. O mercado interno e o problema agrário O slogan que se -vem repetindo há muitos anos é que somente são ricos os povos industriais. E sem maior exame, premidos pela pressão política - que en- . contra na massa operária manancial far– to de voto, vamos nos embrenhando na rota protecionista, na direção urbana, sem atender aos verdadeiros interêsses de nossa realidade. Ainda há pouco dizia o presidente de um instituto de previdência: "Onde haja um negociante, seja no interior do Acre, seja nos confins de Mato Grosso ou na fronteira do Uruguai, lá estará o cobra– dor do instituto para receber sua quota". Perguntamos se os benefícios também es– tarão lá. A resposta não podia ser ou– tra : estamos primeiro organizando os benefícios nos grandes centros, onde são mais necessários. Somado isso ao que retiram do interior o governo federal, os governos estaduais, os bancos, as companhias de seguros, po– deremos concluir como vamos exaurindo o nosso campo, com todos os problemas decorrentes, inclusive o da migração. Nessas condições, entramos num cír– culo vicioso : 70 % vivemos da terra aí deveríamos formar o nosso mercado in– terno, elevando ao máximo o poder aqui– sitivo, a fim de podermo~ construir um parque industri'al baseado na colocação dos produtos. Entretanto, essa mesma política industrialista exaure o interior e anemia sua possibilidade de compra. Não podemos ter -a veleidade de criar uma indústria para coricorrer nos mer~ éados internacionais com as congêneres, mais técnicas, de capitais vultosos e mais baratos e meios de distribuição·regulares. O resultado são as crises quase per– manentes, os pedidos de intervenção ofi– cial, etc. Assim, se quisermos industrialização, devemos primeiramente cuidar de nosso mercado interno, fortalecendo o seu po– der aquisitivo. E isto somente consegui– remos transformando nossa política ur– bana em agrária. Aliás, países essencialmente indus- HUGO HAMANN triais, como os Estados Unidos e. a Ale– manha, nunca deixaram de proteger e estimular a agricultur~ Na América do Norte encontramos os preços mínimos, intervenção do govêrno no mercado, re– tenção de estoques, etc.; na Alemanha - de antes da g-qerra - um perfeito finan– ciamento para compra, plantio, benfeito– rias, transporte até a distribuição e colo– cação dos produtos e garantias completas para os pequenos produtores. Todos os países vêm compreendendo a situação e ,procuram alicerçar suas eco– nomias nas bases de um interior forte. Recentemente, a junta militar do go– verno da Venezuela constituiu um esta– tuto agrário, que, entre outras coisas, a fim de melhorar as ·condições de vida do homem do campo, determina:: a) a possibilidade de desapropriação de terras improdutivas ou incultas, a fim de loteá-las; · b) estudo de sua exploração econô– mica; c) contrôle das explorações para me– lhor aproveitamento do solo; d) formação do cadastro nacional de terras e legislação especial sôbre a zonifi– cação agrícola; e) seguro agrícola; f) melhoria da vivenda campesina; i) cooperativismo no campo e esta– belecimento de indústrias de transforma– ção dos produtos agro-pecuários. Já compreendemos o problema, mas pouco de prático temos feito para resol– vê-lo. O comércio e a indústria, cc;>m grupos poderosos, representativos da classe junto ao governo, defendem seus interêsses mais imediatos. O campo, sem organização, fica rele– gado a segundo plano. Entretanto, o próprio comércio e a indústria dependem do nosso mercado interno. Já dissemos e repetimos: nossa fôr– ça econômica deve vir do hinterland para os centros. Querer o contrário é desejar uma riqueza fictícia, de fachada, sem re– sistência, capaz de levar-nos à maior das crises. Sem dúvida, n_o binômio muni-

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