A Tribuna, v.3, n.58, janeiro de 1928. 40 p.
A TJ?IB U NA ESF>ER~NDO ... Ao espírito romantica de mlle. Paquita Depois que elle partiu, q uanta tri stez a ! Quanto p r a11to, em silencio, deslis ou . Pelas fac~s da pallida princeza , A' bôa amiguinha ONFIDE M A TTOS. Quanta angustia, Sr nhor, ella passou . Descerrar a cortina do passado P a ra lemb r ar uma illusào per did a Para re ver um sonho inealizado E ' ab rir lJ.lrntro d'alma urna ferid a. Muitas vezes, choi'ando de incerteza , Ajoelhada e contrita el!a resou , Pedindo a Deus, com fé, pela firm eza Da promessa de alguem que não voltou Cada cas tello de ouro architectado Cada sonho fug az de nossa vida Deixa sempre depois de tenninado Uma lembrança_tri ste e do_lor ida E que ella esper ::i, sempre, a todo instante Cheia de amor é cheia ele saud ade, Que o tempo a custo apag'.1 da memoria. Porque resuscitar no pensamento Com alma forte o coração confiante. A desventura de uma v elha historia '? Por ém, espera om vão ... Ninguem lhe diz Que elle morreu. Occultam-lhe a verdade Para que tenha nma il\usão feliz . .. Aquello que recorda uma illusãc , Recorda, sem querer, um soffrimento Que lhe enche de amargura o coração ! BRITTO P O N T E S. sas se me figuravám gestós ma– cabros. Pensei em fugir, porém a avas – s alladorn !embrança d e meus fi– lhos famintos, e o pensamento d o i!'·iste des-pertar -que os -espe– rava, me reteve ainda. Foi náquelle momen to que o se11hor se aproximou d e mim, subtrahindo-me á Juta titanica que sustentava o amor maternal contra a deshemra, da luta decisi– va em que se acham empenhados o anjo bom contra o anjo m áo. Impellida pelo c;;irinho qu e v oto aos meus pequenos, procu- 1·ei representar o meu papel, q uiz passar por uma qualquer, po- r é m... não _posso... não posso.. . j u rou-o . .. jurou-o . .. não posso .. . Fez uma p::iusa, pois o pranto lhe impedi a, quasi por completo, ,d e articular mais alguma palavra. !togo, com voz supplicante, con– ti nuou: - Se o senhor tem pais, lem– bre-se dell es e deixe- me partir, s uppli cou-lhe. Mas, antes, ·per– mitta-me que apanhe esses restos d-:ei -eei-a~ -aqttel+es·1j-eti-ai:os ·de -pào: elles constituirão, de1üt0 de pou- cas horas o festim que offerecerei a meus filhos. · Eu, enternecido, insinuei: -Permitta que contemple o rosto dessa mãi exemplar, dessa q-ua-si -martyr--d'IJ ·Mnor -fili-al. --Não, não - interrompeu com aecento desesperado- se o se– nbor é bom e generoso, não prati– que a· caridade pela metade Logo, baixando a voz, termin ou dizendo: -Quanto ao seu rosto , não o e squecerei jamais e em troca de algumas· horas de ephemero pra– zer , terá o senhor minh,i_ eterna gr atidão, e, tanto eu como meus pequeninos, ·niio o esqueceremos em nossas oracões. A voz de mii1ha iriterlocutora estava j á velada pelo pranto e as p alavras se lhes éscapavam dos labios tiw tristes como suspiros. Chamei o « garçon " e ordenei– lhe qu e prepamsse um pacote com sand-wiches e pasteis. Logo que o embrulho ficou prompto, offereei o braço á minha compa– nbeira e, silenciosos, atravessa~ mos ·ó salão, onde, ao compasso tle;m1 .. -i,,•himn1y , ,. o-s pa1·es dan– sav.,rn :alegremente... Ao chegar á porta do theatro estendi a mão á enfeliz m'lscara– da e ao retirai-a depositei 11 a della as moedas que ainda me reslavar:1. - Obrigada! Obrigada !. .. - murmurou commovida, e os seus olhos se iixaram em mim pela _ultima vez. - Ao regressar ao hotel, nessa noite, o fiz u ma satisfacão intima . Não levava, co r[Jo nos ânnos ante– ri or es, a re co rdacào d e uma aven– tura am() rosa; ne'm tanipouco me aguard ava uma e ntrevista, mas, em troca , po<ii:l annotar no meu a cti~ o uma acção genetosa. No dia seguinte, d e manhã o porteiro entrcgou.-me um pac~ti– nho que muito cedo tinham leva– do para mim. Abri-o , curioso, continha uma m:.iscara rosa e cujo verso, es– cripto em lettra ' \ . -mula, se lia: « Lembran;-a d<"! uma iteçào gelie – rosa " · -\. mascara estava ainda hlimida das lagrimas ?margas da ,·ergo– nha, adoçadas pelas do reconhe– cimento . Manael G . Quadros
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