A Tribuna, v.3, n.58, janeiro de 1928. 40 p.

~A TRIBUNA o Singular: sentei-me á banca com a firme tençào de escrever qualquer cousa de original e i,11te– ressa11te; mas·, com sinceridade, não me vem au cerebro um assumpto siquer que denuncie originalida- , de ou interesse, peb menos nes– te momento, A ul).ica cousa que ·-occorre ao meu espirita são as tra– gedias camadas pelo akool. Fico a acreJitar que foi o fa– c to de ter aberto a janella e de– parado um belir;,do' na "squina, -que despertou-me esta idéa. E de f.\cto é um espectaculo tetrico -que nos ei;isanguenta a alma de -compaixão, ao passarmos fórn de hora pelas espeluncas que infes– tam as nossas cidade, como tócos de podridão moral e imans de mi– ileria.· Ainda torna-se ma~s triste an vermos ·qu<' de preferencia é .a mocidade que se encharca no vírus do alcod para p1'oporcionar momentos de p1·azeres fugidios. Então t<1mos ás nossas vistas gru– -pos de joven,; fazendo papeis de palhaços npplaudidos pela assem– bléa depravada que os circumdam. < Meu Amor ». Beijo-te amorosamente. O pendi:lo rythrnic» do meu -coração batf' a thclos rs instantes, as lettras• de oiro do teu 11ome querido. Ao impulso dü teu imrnenso ~môr, trnnforrneí-me em magni~ -fica magn<,lia alvncenta. pan1 te perfuinar a alma! Fui a esposa lyrica _que coroaste com o teu ,1.môr ! }-,ui a 11m1,lwra bemdicta. onde. se<lentP, te vieste desseden– tar! Em meus labins ardentes sor– ve,te o licor IfüLravilhoso, o mi– raculo,;11 filtro que tudo transfor– ma. em luz, em vergeis flondos, ~m 1•e rfurnosa primavera:. Esses _tl)u, dedos l0ng11s nw afloraram .as faces cnm meiguices de plu– mas, cr. rn maciez de anninhns. Minhas mãos afundaram-se nas -ondas cast.c1,11has de tua cabelleira revolta, e, lenta, exan._~·ue,. rnor– bidn, languicla como a flôr que pende, eu, vencida, adormeci fo– lz], teus braços duas serpentes A L e o o L E das tavern:is galgam aos !u– panares, onde levam a effoito a praticn dos desatinos que hào de pagar mais algum tempo com o prevo do proprio tempo. E é essa mocidade talvez a que mais consome o melhor papel de sua vida, nú recinto uojento das bancas desprezíveis. Embora em menos quantidade, não sào so– mente moços independentes qu.e se entregam ao tenebroso vicio da embriaguez, mas tambem pae~ de familia que antes deveriam dar o exemplo aos seus filhos, e as– sim os sacode na mesma trilh1t. Outros, ·os esposo,, deixando em casa as c"mpanheiras velando os filhinhos, desertam para os an– tros dos « cab,u·ets » a enn-rossar as fileiras d,iquelles que jf inv·e– tcrados e reduzidos a na:la não trepidam cm lançar ao vento a honra ela familia e a dignidade do lar. Alt'l maclrug·ada regressam, e a esposa que no leito ainda ( '• LEMO;, DE MELLO "'-------------,.1 magicas a me enlaçarem com ter– nura; tem labios humidcs, febris, rubentes, a confundirem-,c com os meus, ávidos, entreabertos, se– quiosns. Tu com a magia do teu encan– to, feriste a corda harmoniosa de ·,crr,-- • • • • • • • • • • • • TRECHOS DE ~'l)) • • • • • • • • • • • • • "--~~-------~JJ1) minh'alma, corda que jazia rner– te, terna, muda, á rning:ua do ar– tista qui; a fizesse vibrar'. E esse ar-tista fô-te tu, princi– pc enc.rmtad<, de meu sonho!. .. nquenta ao seu seio o filhinho ele su,,, t,lll trnnhas é obrigada a atu– rar os insultos e a expansl°u, de sua irascibilidade posta em vapor pelo alcoiJl. E dahi é fatal cm ir– se introduzil)do no lar a deshar– mrinia, creando uma atmosphera de infortu111os, onde o esposo Eito .. ingressará senào para arr.elim·-se, descompor, emquanto nào cheg·ar á,, aggressões phy,icas. Agora ve– jam caros leitores se um pae de familia que deixr,-se levar pelo amôr do alcool, não é o npprobio, o terror, a ruína completa dos seus? Primeiramente bebe por sede, depoi~ poi- costume, eip se– guida por urna paixão tyrannica e pass,, a frequen tadí,r assíduo dos bars, em cujo recinto se himbra ele tudo, rnenos da honra e digni– dade clà familia. U rn es~riptor francez dissera : « Sabeis o que bebe este homem que vacilla com o copo na mão ? · - Bebe as lagrimas, o sangue, a vida ele sua esposa e dP seus filhos ~. E é a expres:;ào uúa tla verdade Um dia busquei-te tran,f,ordan– te de amôr, cou vulsa de emoçào, ub,tinada por ti corno 1, sol pela terra que a procura insistente, amoroso, flamante, e tu, chimera doirada de meu sonho, como a sombra que procuramos abranger e ella, trabindo-nns, esgueira.:..1re sempre zombeteira e deixa-nos na bocca o travor do fel e no co– ração a cicuta dolorosa de un1 desencantamento, foges. ,_. fo– ges. . • foges !. ' > Um · dia, porém, o cor.\ção exhausto ele pulsar, de se ,estore: car, delirante, elastico, serpenti..: no, se dih1ta, explode, expellt> la– vas ardéntcs , queinrnntes, mor– taes !. . . E 11ào ·quci,rns sêr o, re– colhedor dcssPs de,troços tremen– dos, tu que é,, o lyrio que gizas com tua melancolia a Pstrncla de lm~ que abriste em . meu seio so– nhador! ... 12, 27. OSSI OSWA.LDA •

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