A Tribuna, v.3, n.58, janeiro de 1928. 40 p.

Na minha vida servireis de guia; E, sendo a Santa das mais piedosas, De enfe rmeira bondoza na agonia, Virgem de Nazareth ! no dia do Cyrio Si vosso nicho se fizer de rosas Vós, entre as rosas, pareceis um Lyrio ! Tem-se- a impressão de estar ouvindo har• pas e harmoniuns no interior de um templo, derramàndo pelas naves e vitraes as pl:;rngencias mysticas de uma prece emotiva toda feita de , sons religiosos ! Outras occasiões o val:e recorda as su:=ts amarguradas agoni":=ts, rememorando a fig~ura de uma das musas que o inspiraram: Sob o meu punhal . .. Nessa carne onde ha macula de sangue E' que eu qúero imprimir o meu abraço ..• E, sonhadOI' fat,dreo ou devasso, Quero gosal-a mesmo assim exangue ! Quero-que espume do punhal no traço Todo vermelho esse teu corpo langue ... E amortalhado no seu proprio sangue Role allnal o alabastrino braço! Olhae ! Da minha ta<:a transbordante S:i.e uma voz :oem termo, indefinida: E' a maldi1,;ão de Laura agonisante ! \faldições? Agonia? Isso que imporia? Si não poudc adoral-a quando cm vida, Possa eu ao menos aáoral-a morta! Qualquer poeta brasi !ei.ro teria glorias as– signando este soneto, que é o grito maior, a imprecação mais forte, o lamento mais profun– do de uma alma allucinada no estertoi· de uma vio1cntissima paixão.· E é assim toda a sua obra maravilhosa. Se reunisse, naquelle tempo, todas as prodL1cções em um volume, ce.rto tel·ia hoje nrna consagração em todos os centros cuHos do Brasil. E só agora, quando qúasi doi;; annos se passaram depo~s da morte do poeta, um amigo dedicado impellido pela recordação, enfeixou alguns dos seus versos, p1ra assi rn mostrar aos seus contemporaneos as joias que jaziam desco– nhecidaê. Para mim, -para os seus amigos, para quan– tos conheceram, de facto, as luminosidades de tão brilhante espírito, resta o consolo de terem ficado os seus vers9c:, que servirão para paten– tJar ác; gerações vindouras a linhagem valorosa de um poeta que morreu em plena primavera ela vidil. Se não foi possível celehrisal-o em vivo, por cu Ipa sua, os tempos hão de passar·, as no– vas correntes hão de vir, mas nunca se'rá esque– cido o nome de um vanguardilheiro imperial do verso que soube honrar o valor da potsia pa– raense. Depois de percorrer o sul do paiz; numa via- A T R l B (INA- ..----:- Os novos agrcnomos l Collou gráo em agronon1in, clot11ingo pass·ndo, srndo ·o 1 brilhante oradot.... da lunna que acaha de s:.1hi1· de n,ossa ci1nceituarla Escola, o jovcn José Mendes M::ll'lins, filho do conceHuado cnpitalista paraPnsc, sr. Antonio Pnlro Martins. l\Ioeidade :uo.vdtosa espirilo de escol e organistll'àO clP cullura eQ,plendida, no TaJllO dP scienda quP- cscolhl'II, o n<H·o :igronon10, f1Ue foi o mais disUncto flp sua turnw, parte bi·t~vemente para f>iradcaba, S. P:mlo: oncl,~ rrrP se nperfoh,·oar nos estudos da nwgnifica pi•ofissão que abraç_·on. gem onde adquiriu a rnferrniclarle qu_e o levc,u ao tumulo, Raymundo Peres, abaltldo pela rlo.en– ça, volveu ao seu· torrão _natal - Alenquer - como as aves do escriptor, que vinham expirar á sombra das arvores nativas, para en lão rnor– rer nos braços da fam i I ia, kvando corn a sua arte todos os sonhos, as rnaguas, os i 11 for- 1unios e as rlPsillmões dos seus tempos lin– dos de rapaz. Para orgulho da terra onde nas– ceu, como um pedestal que os annos não conse_– guirão destruir, ficou a passagem ele 'tudo o que construiu entre os homens na mais sl'lnta e mais glorio~a dus conquistas; porque, mol·renclo fir– me nas suas crenças, sereno com as suas verda– des, clie bem que deve ter sentido a convicçfí.o de haver deixado a grandeza ele urn justo, de ·. um puro, de um simples, cuja vida foi um pen– dão de orgulho para a arte, para a patria e para a familia. RIBEIRO DE CASTRO

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