A Tribuna, v.3, n.58, janeiro de 1928. 40 p.

-.-.,..,....~A TRIBUNA Mas após um trabalho insano . .. Certas q ue queriam a. paz de éras fu turas, Um machado, a cortar, pi>em-nas aler tas! Ho.mcm ! não toqu-0s nu nca nas col me ias; Ellas são, como as virgens, sempre· pu'ras E foi de pranto qne ficaram cheias ! ~a . selecta ass is ten cia, constit u ida · de intel– lcctnaes , jornn,listas, professores, senhoras e se• nhorinhas, havia urna ;:itmosph,era de deslurn~ bramento. Peres, inegavelmente, era ·um artis– to. de raça. Quando te rminou, cobriram-lhe de applausos pro longados na ma is eloq uente das homenagens. Elle, como urria cr-eança , sorria, ag radecendo comrri:ovido • tantas pal mas auctori... sadas e justa_s. ·Os applauscis cont inuavam. o· publico que o pa'lmi:lara exigiu u th novo soneto. Peres attendén, dizendo_o · Alma do Lago Eu teúho um .:lago dent ro da 'memor ia ... Vive nelle a, cegonha: pensativa · do soffr imentó, ·como sombra esquiva de uma visão tristissitna, illusor ia ... De tumulto em tumulto, ella se aviva. E' que a saudade, para a minha g lor~a, contára ao ve lho mar aquella histor ia do nosso amor- que é fo nte de E\gua viva.... Em noites calmas as vic-torias reg ias, . mulheres nivBas, lyricas, egre~as, bailam á flor do lago e rmo e tristonho. ... E eu julgo ouvir; num g rande son-ho .vago, as yáras cantando sobr(l o lago a d01.1r~da legenda do meu sonho .. . Ao descer da tribuna dezenas de braços fe– licitaram o ar tista cqm os mais sinceros am– plexos. Elle, como uma creança, so r r ia . • . * * * . Na vida dó poeta ha dois episod ios interes:.. santes dignos ·de menção : a descrença e a con: vieção da morte prematura. Assaltava-o a idéâ de encontrar, c::im .o correr dos annos, um ro- . sa r io de .amarguras e fracassos . Por isso, dizia– me sempre não temer , nr. sua phrase, e os es– p lendores da finalidade .. . > Da bag-agem ·que deixou mui ta coisa perma– nece desconhecida, rr1csmo porque não p i'ocura– va colleccionar os escriptos. Sabe:se porem ter legado aos seus paes monumentos de verdadei– ra arte , como neste, soneto, como va rios outros q ue adiante citarei ,;' ex.trahidos de urn pequeho · al bum collecionado por um amigo ao· poeta, ora em minhas mãos _p_or gentileza do seu il- 1 ustre g~ni tor, capitão , Benedicto Peres-: Porque parei na estrada. Quando eu 'segu ia pelo meu caminho, Atormentado de melancol ia, Uma visão chegou-se de mansinho ·. E di sse um nome que eu desconhecia ... Cabellos brancos, tropego, volhii1ho, Carregado de sonho que seguia, Descobrio uma Historia em cada n inho Pendurado nu m ramo. - Anoitécia . .. Foi qua ndo ella chegou .... Magoada e louca Ad iv inhan do todos os tormentos , · ·Deu~me a fon te de beijos de sua bocca ... Mas logo após deixou-me al li fica r, Tendo saudades e arrependi mentos . E a gloria infame de saber peccar ! Apparecern nestes versos· perfei ções bilaca-' nas, alerri de um lyri srno cheio. de emotividades doentias. , O poeta, muito cedo, encontra no · amor uma avalanche de desillusões que vêm ex. acerba r o fragilismó ínnato ·da sensi bilidade, .cantando, impressionado, as desventuras e os' martyri os·. ·Note-se en tretanto, acima de t udo, como elle · sabia fazer arte da sua simplicidade; Os verso~ sabem expontaneos, claros, ·perfe itos e brilhan- · tes, .sem um esforço, sem um tormento, sem um dcsequ ilibrio'na metrificação. E tudo isto sem forçar, porque o r ythmo, nelles, é . impeccavel. ' P rosely to das escoln,s adoptadas por B. Lopes, · Goulart de Andrade, :Luiz Guinia rães e · outros, · syn thetiza-se todo el le numa original delicadeza >" Nã_o se encontram em Raymundo Peres, por · exemplo, absurdos e exaggeros de var'ios poe– tas modernos. Sabia expressar aqu illo ·que de fa– cto sentia é nunca,··escrevia fóra dos · limites da arte. Repugnando o futurismo, taxava-o iron-ica– mente de instabilidade artistica, cm qualquer parte onde se man ifestasse, que r nas lettras, n:-1s artes, nas mulheres ou nas concepções. Bo– hemio, philosopho e descrente, possuiu o sce– pticismo de Ri mband, entregando-se; muitas ve– zes, a ·certas pesquizas de caracter romantico, a descrer do amor, do sonho, das mul heres. E' • de crer pois que a vida,,para elle, devia ter sido uma renuncia ... Ou_çamos como _é sublime neste_soneto: N. s. de Nazareth Virgem de Nazareth ! Nossa Senhora Que existio sempre no me.u coração·! O vosso olhar, sereno, é a nova aurora , Hlumi nado pela Reden'lpção ! Na miµha fé; a crença ·revigora · Resando, quando em vez, uma oração : Si , irmã da Caridade sois agora Santos .oleos se reis na, Ext remMUncção .••

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