A Tribuna, v.3, n.58, janeiro de 1928. 40 p.
- . . . ~ - ~ .. ~ GYc) - - ·n - - ~li r ....... õ"M"""GRA'N"õi""PõiFf X- ''""'"""'1111§ ~ "'"""" '" ,~.....,. ,., ..,,e,_,,..,• .,, .....,,,......,...,....,.,,..........,,.....,,,.,,,.,.,,,,,..,,.. m ..,",,, .,, ,, . ,,• b 0 ~ GÂ9 ~ ; Quem se dâ ao . trabalho de investigar as nossas coisas, os nossos artistas de valor, os 11ossos poetas de estirpe, desde os que floresce– ram em épocas recuada::, e nos tempos actuaes, encontrará Bntre elles um vulto de destaque, um menesti'el de raça adorav.elmente singelo, cuja finalidade, ainda hoje, traz aos .olhos de qJllu1tos o. conheceram uma pungente e emocio– nal recordação · ~ayrntrndo Peres. Não cabem aqui certamente, nesta homenagem profunda, todos os fausfos dei espirita brilhante de tão . magico tr_oveiro. A sensibilidade artística deste riianejador da lyra era tão grande, tã:o tina, tão complexa, que em certos momentos _fie tedio, em palestr~ commigo, dizia entristecido : .. - Acho, meu amigo, que nã9 passarei dos vinte e cinco annos ... Eu afastava do seu cerebro aquelles p·ensa– mentos sombrios, nascidos talvez de um esta- .do de alma désesperador. Como homem_, ·com– prehendia a inquietação, .ancia, a amargura do a,rtista longe de todas as glorificações da sua vida, numa terra que elle amava porque mlla · e'ncontra:ra verd.ideiros irmãos espirituaes, sin– ceros e carinhosos, mas _ que', para elle, tinha melancolias . occBltas de vethas cidades des– apparecidas. Em _tudo. nas cidades, nos homens.– na vida~ - fosse na inconstancia das mulheres.· oU nas . realidades da eX,istencia - havia para . elle um qualquer motivo de arte, fosse no bello, · no. horri:vel, ri'o feio, no esplendor, no sublime, no sobrenatúra-J. A arte, bem elle o dizia, ~stava em .toda . parle, Gl i ff, Tenciada éJ_D yari as ramifi– ·cações, grosseiras urnas, extraord-inarias outra;;;. · A:.sifn, o artistà só se r .evelava um artífice apro- _ v.eitavel quando Unha a f:=teuldade de .distinguir - na natureza alguin motivo de arre):)atamento · para ~ sua orginisação Psthetica. E era inte– ressante ouvil-o falar de arte com uma natura- . !idade encantadora, com um desembaraço uni– ·co, a díscorrer de cathedra sobre · tudo quanto podesse influir no romantismo de un;1 _menestrel. Conheci-o uma tarde, ha cinco annos tal– vez, na redacção da < A Provincia do Parh em sua nova phase, em cujo stecto santiflcador se abrig-avam naquelle tempo figuras em eviden__. cia nas letras novas do Pará. Sobrio, pacato, humilde, com um pouco de retrahimento justi– ficado pela falta de contacto, aquelle vultÕ sin– gelo rilas illuminado pelos clarões de, um talento formoso, ·.dizia-me, entre um sorriso alegre, «que estava deante dos mens ofüos o ultim,o dos -poe- l.as para;enses)): , Estreitei-'o num grande abraço fraternal e logo u i,ha expos~ção das suas po$s_i bilidades in– tell-ectua,es se me apresentou immediatamente._ AlliandQ ao insinuantl:l do. V\llhO uma palestra expontanea, lavor-ada e rica, começava:, para elle, uma aur.cira. espiritual. Desde então principiou a escrever.na «Província)), sempre mod·esto, com a idéa de verem os seus versos "Simples ·farra– pos da ,lllma d e um artista anonymo)). A ·esse tempo, entretanto, havia em Belem, corno ainda hoje, o gremio litierario «Associação dos No– vos)), sob Cllj,a bandeira· se re_uniarn as figuras mais notaveis do helletrismo novo de Belem; O genio de Raymundo Peres _começou a irradiar scentelhas encantadas. Chegavam até aos basti– dores da pujante sociedade de intellectuaes os recu$rsos estl'leticos do grande poeta morto E logo, aó haptisrno sagrado dos «novos», ingressou para as fileiras da Associação mais um batalhador <1,e fama, elegante e fidalgo, de · largos .merito_s e glorias, a defender com apuro e esmero o futuro das letras regibnaes. E_m pouc9 . tempo, desabrot',ha vam em magnificencias os seus soberbo$ dotes de cantor de alexandri– nos, de l:Íerqicos, de redondi_lhas. Approxirnou– se o dia. em que a «Associação>, cornmemoran– dó comõ de ·costume uma das maiores datas na– ç:i:onaes, ia apresentai:- no seu programrna lit– tero-artistico os jovens poetas que Já pontifica– vam. Num clos· numéros teria de apparecer a revelação do anno: Raymundo . Peres. Chegou a noite da commemoração, no salão nobre da então «Ass.ociação da Imprensa». Elle, nervoso,' impressionado, nunca apparecera em publico. Veiu a sua vez . .Llisse, dentre os sonetos que jt'Ilgava o mais perfeito, o melhor de t0dos, o seguinte: - As Estrellas Beberam ler1tamente a alma das rosas ... E na gloria do sol, que as incendeia, As abelhas formaram a colmeia Sob o tecto da.s arvores fronqosas ... · T,odo o fervor de aranhas sobre a teia Tiveram ·ness.as lides afanosas, E~.como foram ·sei;npre caprichosas Em pouco tempo a fonte estava chéia .. ,
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