A Tribuna, v.3, n.58, janeiro de 1928. 40 p.

A TRIBUNA MINIATVRAS VIU ÜLHÉ, MADEMOISELLE• . . . ouça o meu sant~ cotis~)hp por- que refle-:te urna profunda vetdade: 1-==========----– tome cuidado com o mundo, c0m a ,vida, com os travas.e com as de.:epções. Um golpe Sua ingenuidade, em certos momeh– tos, chega a pasmar. Attingt, por qà,.le não dizer logo ? quasi uma inconsci– ----------;:::=====sl encia dolorosa ... Achamos opportuno trasladar para as nossas columnas esta rapida aprecia– ção de Carlos Dias Fernandes, escal– pellando sem piedade um futurista de São Paulo: · Este é o canto da minha terra :_ tal é o titulo um tanto jactancioso, a que su~ordinaassuas estrophes um ex-poeta ·IY,nco, que renegou as suas velhas cren– ras, para se .fazer foti:;rista ; E' natural · de Franca, São Paulo, ou ali reside, entre a fragrancia1,;los caféeiros e 'á sombra georgica das vides, o sr. An– tonio Constanti'no. Por isso não ll'ie estranhei p,ara logo ; · denominação emphatica dos seus cantar'es, mas fo. lheando o seu gordo volúme de 149 paginas, inclusive· notas e index, depa– rou-se-me em borradinlJo a seguinte le– ·genda: ,,Este livro é todo um poema da nova Poesia Brasileira, liberto de exóticas influencias e· de ·forastei– ros modelos'. ' Alvorada de .um Brasil intellectual. ·reé!imido, em q'ue vivem os anceiós das nossas coisas, a bellezi-1-· das noss:::s tra– dicões, a tortura· da · nossa sau– d~de." Trata-se, portanto, dé uma arte poe– tica originaria, filha da nossa ambien– cia, caldeada nas nossas tradições, re– presentativa da nossa terra; da nossa . ;gente. Que Franca acceitasse o votivo tributo é francamente aJmissivel, pela provavel estin'ia que Ih'! mereça o seu bardo, pelo presumivd modesto está– dio de suà cultura Iitteraria, das suas exigencias estheticas; mas, tratando-se do 'Brnsii-unidade.geographica e nácio · na!, quer-me parecer um -tanto pre ·. tenciosa a redem ptora ·alvorada do sr. Constantino. Se ao rüenos o poeta se mantivesse nos moldes da sua refugada poesia-A Paineirn-onde se baralham · os metros, sem prejuízo do rythmo, nem muito se desdoura.ra o Brasil ,lo seu inesperado epico. · Sendo, porém, um paradoxal fotu• rista sui generis~ que se volve ]!)ara o Rassado, pungido pela «tortura da sau– <Jade», é de ver qu~ o sr. Constantino Qão póde, por essa niesma c;onlrádiclio «Nem sonhando se offende ·uma nm– lher. » Creia, porém,qu~ em absoluto não offendo a minha patrida. Jamais 1 Advirto, si_mplésia1ente. Aquelle 'facto, por 'exemplo, de ter frito um jiirt CO!n o modesto servidor da lcja de fazendas, •. vem mostrar que você ainda não tem 'juízo e pouco caso ligou aos dictames 4.o seu pae. Nada ha de extraGrdipario até ahi, porquanto o rapaz, n,e-smo humilde, deve estar ganhando .a vida honestamente como um ci'dadão qual– quer bem intencionado. Esta é a hypo– these bôa. Admittamos entretanto, na bypothese má, que elle seja um homem vul_gar, sem cultura e sem luzes, que salba apenas _medir as peças dos tecidos 1 com os quaes você manda confeccíonar as ·suas 'lindas toilettes ?- • :vocé mesma, minha amiga, tem um cctebro de andorinha... 'Amanhã ·ou depois, qu4ndo a minha 1 ~,at1rcia' estiver numa rua, ·numa festa, num passeio, elle' i\ppaTecerá e ha de querer um certo destaque · no meio dos allligos, dizendo a quatro ventos ter ' flirtado consigo. E nada você poderá dizer em face da verdade. 1:.lle, fatal– mente, será olhado pelas pessoas sen– satas cóm certo desdem -por.. ter • sido · - presumpçosó, mas para si-creia ,no que eu digo-ha de vir algum dia de-amar– gor. As suas proprias amigas serão capaze~ de dizer a terceiros que · dos seus labios sahiram os melhores sorri– sos para utn modesto servidor de loJa de fazendas que nunca teve-talvez, na sua vida obscura, felicidade tão grande como a que a minha amiga lhe pro– porcionou ... Agora, é tarde. Muito tarde, como diria o menestrel. Elle mesmo, o rap,az, é passivei que venha lhe odiar, pen– sando nati:.ralmente na impossibilidade de alcancar o seu alto nivel social. E a sociedade, essa mesma sociedade enganadora e perfida, dirá com os seus botões, entre sorrisos infames, quando o moço passar, esta phrase chicoteante de sarc;,smo e humilhaãço: Lá vae um dos naniomdos de mlle. Você mesma, minba amiga (eu herp devia mais ser seu amigof não nega que ainda tem um cerebro de andori– nha , De andorinha amalucada ... MoNsIEuR R. , __________ , ______ , no futurismo in aàjecto, como o seu homonymo i'm– peracior, transportar para a imaginaria Byzancio de sua µreferencia o iri1pedo das letras classicas. E não p6dc porq u·e o Brasil com os seus 82 milhões de habitantes, os seus· quasi nove milhões de kilometros quadrados de superficie, onde se vai dia a dia elevando o patrj– monio das suas conquistas as affirmá– ções da sua individualidade, não cabe– ria decorosamente em um surto meieo– rologico destas proporções diséutiveis ; A TEMPESTADE e O céo acordou carrancudo. _A boiada das nuvens prenhes d'agua estourou po, causa de um trovão qt,e (se encabritau na .grimpa de um cerróte, e a boiada das nuvens cheias dispcrdiçou-se fugindo rumo do \'allo · que se esterrôa nos .,consfins do hori- (zonte. .De repente, despenca' lá de cima a corJoalha da clr11va ; . cáe, enrosca-se nos galhos, nos moirees; t nas 111oitas1 nas cercas, lambendo o sólo, .os barrancos, as ri– (banceiras, O . firmamento cerra a carranca. Um pé-de-vendo como mil sa(ys de– (moniaco ,assovia vaiando o céo ·fechado · de lucro que contraindó, no rictus do '(relampqgo, os !abios dilacerados das nuvens, estronda na gargalhada atroadora d_o (trovão. Imagine-se que figura de lorpa fa'ria- · mos nós, se nos apresentassemos, dis– putando a palrna nobilis, entre a Odisséa e a Eneida, onde ha tambem temporaes descriptos e memoraveis, com essa tempesta nephelibata, carregada de ru– minantes e gnomos, com que aleivosa– mente nos caracteriza o sr. Constrn– tino, fazendo injuria verdes mares bra– v-ios do sr. Alencar, á ca:choeira de Paulo ·Affonso, ás pororo.::as da Ama– zonia !.,. Não; esse canto do sr. Cons– tantino só merece, por pundono_r e di– gnidade dvica, fic::ir , vigilanteiminte amofumbado num canto escuso da ·nossa terra. . :. . 1 CARLOS D. FER?-IA~DES

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0