A Semana 1922 - Novembro v5 n 240

O Sorn Ideal. Mnitas vezes, até alta madrnga– da inda se via luz nas janellas do moço triste. Começou a causar especie no ba• irro um tal viver. A curiosi<lade re1uintava os sen– tidos; tornara-se mais astuciosa. O moço triste vivia indifferente, sereno, enigmatico, excent.rico. Ia assim realisando o seu destino, vivendo 11 s ua vida estranha. De inve rno ou de verão, sempre que os pregõ,;s desciam para 11 fui• na, madrngada plena, se erguiam os olhares para as venesianus da agua· furtada do rnot;o triste, era de vêl-ns illuminadas, vigilantes, es– pertas, já meio ri~onha:s nos labios ver111eli,os doscrnvt,s e rainunculos, .-' Jlú res de estyrpe, com que o e;;qui– s ito habitante duquelle tugurio, ale– grava llS suus gelosius. l'.0111111e11tavu-:se um tal vi\·er. Certa noite ele muito vento e fo– l11ns zonzas no borborinho da nor– tada; noite em qne os relnmpng-os abriam g ilvazPs luminosos no céo betuminoso, alguns rP.tard11t11rios quP. se rPcolllinm 1ís pres&ns. ouvi– am un~ sons profundos, nmoclorrnn– tes, longos e lentos, como de vio– loncel lo. Era nu mansarda romantica do moço triste. Faziam musica lá em cima. E logo em no ite assim tiio IH' ~rn ? ! Certamente e ra um louco o 1m,ra- dor daquelle alto sota~, . E a mu:sica tetrica e 1nnc11brn,,con– tinuuu pela noite alóra, ucu111punlia· d11 pela bateria dos rnfo3 da chuvu, até quusi ao 10111pe r ct'Alva. F,' q1rn o moço triste era um elPi to da TTnrmonia e do Som. Perdido na febre lonca de Pncontrur sonori- · snçües n nvas e ined itas pum as ~1111s symphonias, havia estudado o sns– sn rro da brisn, os trinnlM elos pns– rn:·os. ns cnntilr:,nns clns fontes, o~ rnm, res das sêdas, as entonações dos beijos, os queixumes do pranto, os carinhos muternos e o choro das criançus tenras. E ficou na mesma ansia do seu Ideal impossível. Um dia.encheu uma duzia de ta– cm; de crystnl, com differentes li– quidas. Empregou desde o champa– gnc ao absyntho. Tocou-as de leve, uma por uma. Em vão. O Som era o mesmo; !!em alma e sem vida. Apenas era som. Por Í3SO é qne o moço triste vela– va insomne toda noite. Exgotava– se em estudos. i 11 vPstigações. em de11101 a<los sc:smares. Tornnra-se entPd iado, morbido e ch eio de splc1111. - E111tailto, naquellà noite, i\ Luz se !iz1•rn. Achnrn o t--um .idea l. que lhe vi.,ra u:s,i111, no eonvulcionar phrrm,tico. no pavoroso horror ·du– quella noite de tempestade. Afinou por este som o seu violon– cello e sorriu no e nlevo, no encan– tamento divino do achado marnvi• lho~o. VPnce ru t íleali, árn o seu I denl ! () Som ideu I em nq uel le prag ue– jar da Naturesa em puria. ••• As arvores ch ornvum as folhas pPrdidas ti noite, pingando lng1·imas de cl,uva, dos gn·thos lun gues. Amanhecia. O moço triste abriu a~ janellus. As flôres e~tavam por terra. pisad as 1wl11 fo_rçn .do vendn– . vnl. 'l'cnlou e rgÜel-u_~; tê1111bu'ru111 de novo. Então 1cmhron-se do cyclone vio– lentn que pnssani. Quiz tocar novu- 111e11te. A ins piração fu g irn·lhe. 'l'c,r· nou u fechar us junellns. A liso11 os cnbel los e sahin. J,i. ni'i1 em nrn 111oço l.ris'e, e sim um velho sem e:<peru1:çus. J',a nrn estnvn 111rlhor. Amanhecia. Vinha o sol. F, ã tarde <les~P. m<'smo clir,, no jnr.li111 snmhrio dr, um parque tris– te, u111 ,·11lto branco e esguio de mu· lher, escutava ns palavras loucas de um musico visionaria e vesano, que dizia ter achudo o i-'om ideal, ter t ido nus miios a Alma e a Essen– ciu do Som, e que um raio longín– quo, lã do sem fim dos céos, numa n oite erma de inverno, descera rn– tillante, e viern roubará sua divina Arte, o Som perfeito qne elle encon– trara. Musicos excen t ricos. D<.>ixou ele ser novidade para nós outro~, que temos os olhos voltados para as excentricidades yankces e modt!rnismos fluminenses, as orchE'S· tras Lypicas, os juz:-bo11Cls Lizarros. Muito antes das noitnd11s espleudi– dns de Nuzarcth. em quP. no salão de espera do Olympia os «musicas de côn, nos alegraram e di\'ertiram, tocllndo excellentes pPças, já esses mesmos concertistns se haviam fei– to ouvir no GrnndP Hotel e no Olym pio, untes de part irem para o sul, quando aqui estive1am a vez pri– meira. ' Agora foi a grande e famosa ban– da «'l'orrebluocnu, composta de mu– s icas mexicunos, typicos no traje e n os m:Jsicas que executam. Tombem a mugistra\ banda supe– ri w do corpo maior du marinha riie• xica::a, provou li evidencia, no lar· go du Polvora e no Theatro da Paz, que o paii de Por phirio Diaz, pos– s ue musicos de fama, que são adu:i– rados e applaudid:is em torJ.~ parte. Ass im, parn o no:;so provinciu• nismo de costumes rubori~ados e . ingenuos, podemcs uffirmar. que os nrnifHes novidu<lPs <los tempos, é raro ficurem ig-nor.udos por nós. Tudo q ue ha de nóvo, or iginal, grotesco ou ex~rnvngante, vem ao Pai á,' Belem é uma cidude sempre cheia de novidades. Aqui sempre ha do bom e elo melhor. Huja vi~tus pai a os «musicos ex– cent.ricos-, que np1eciamos e cobri– mos de upplauscs, se11iinclo- 11os or– gulhosos de Vl'r e ou vir ·uos 111arnvi– lhoso• p rogress~s cle&te seculo», como dizia Eça dr, (~ ueiroz. fk1rn.Lo l\1ARQuEs. ... Dr. Çyriaco Gurjão ••• Cli11irn 11 rrlir:i t rr:il. r~, rrialn·rn lr d:1!- rnnll·!-li:1!- da i11ffl11ria. Corn,nllas em !-<'li co11sullorio, a rna · ,1~: uc ~laio, ':!í-l'rin.eiro andar, tias S '11~ :is G horas tia l.mle. · Rtsirlencia avenMa Gtneralissimo Deodcro, o. 106.. c -

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