A Semana 1922 - Novembro v5 n 239

' • on t o~c::: ·, :""' ud~emdno L . __ li ;::il Psychologia d~ um defunto _ [ -;:_ de Pinto d~::- li (Blanco Fombona.) Confe~~o íra11ca1111111le que 111111ca pr.11$HÍ tt lll nl!l1T1!r 11aqu111la ucca– si:io. Quamlo as c ha111111as se cu111- 11111,ticava111 ás 111i11lo:1s r1111pa, e t>lf 11ã11 as poude apdgar, apf\7. 1r dn!I esfon;os dc,1w 11llidos, mu1lo m,· af– tligl e crnio me~1110 lt!r d1 rgado á pt>rder um pouco a caueça. Pt!rdor. 11ão; uào é uem essa a palavra co11veni1111lfl, vlstu como du– ranl1i o µa vor da1.111ell11 trans,•, con– servei umn PXlraordi11aria lucidA7. de 11sµiril11, até ,, ln~l ,11te PIII 'l'le a minha cu11sele11cia se dr.s va111~1'.t>ll e lJI Cl'fll)USCUIO O tombou, im11rntli– atam1rnte, na somhra. o.. voradas as vestes. o fogo come– çou a lamber 11 111iut_1a_carufl eo111 a~ suas liugua~ rlA canetas mortat>s. As chammas pareciam sorp1HtlPS luminosas; e as serµ eules cantavam, cantavam alguma cousa se111elha11 - te a uma caução de HXl11rrni11io. As luharedas me sorviam de il– lumiuaçáo. Stim S:.\hPr como, a essa lui , vi, fllll 11111 1110111enlo. ludo quanto eu li11ha visto cl11rn11tt1 11 111i11ha vida int..ira. Vi 11s pP.ssua~, :ti> Clllll':JS o as idéas. V i ludo cu11111 u111 u,11 fre~eo ma- 1 avilhos0'1 ou em u111a success:io rnaravilhÓsa de frescos 11uasl simul– laueos . Não era um peMdello : er·a qual– <Jlll'I' coisa dA v1mlatl t1 ira111H11t0 r_oal; eu 1!stava 01Js,•rva11do l11110 aqu1llo. Frag 111 r. nlos tia 111i11ha vitla, dos quaes 11:io me rncordava, ap11arecP– ra111 dr. suhito r. disli11clame11te ao:1 1111• 1.ls nll111s. l\ucnrdd -me do lrajA clA miol111 1 ~!iie, 11a bom 11oeturn1, 1l0 fallnci- 1111mlu ,l n Ut<'U pa e : 11111 vusl1do hrarrcu, tio 111usseli11a• .c,,nslollado dt> 1,.,, 111 .., 113~ e ,trl'll as 111.ues. Lt!lltlJrni -111" da l'r11J,.~so1 a gorda que me dava 111uilo~ h•:ijos, pc!r lrn ct1,s Jllll'sia nas ., 11111 fazia r:111c1as 110 1 iut,•rinr ilo 111,,11 11u11rlo, 1111:rndo es– la vatrJos a sós. . . L11mhi·ui -me da Cruz rust1ca, a sornhra de 11111 grupo dfl 111a11fa he1- ras, ua faze nda de meus I a1i~, r, j1111t11 á r111al u1111ca JHISSP.I, 110 l(llll– po df' nw11i110, Slllll 1!Hl1'81ll_ec·Ar, Alli, 11a11uollt1 llHlSUIO s1t10, 11111 nAgriuho, .servente da uo~sa ca~a, cl,amaclo Alei l(n, assassinou, q11:isi aos mr us olhos, um puhre ho111P111 emhriagatlo. Lemlwfli-me dP. todas a~ VP.11t11ra:1 do minha vida, com el(lrelua pre- cisã.,. . o im111íl11~n {lmor de minha MãP.; as minhas viag-..-11~; SH11~a ~·õ1•~ de arlP; horas de lriun,phu; a111on•s fo. liies; toda a ~allla 11.. i111pressõ11s da vaidacfll ~aliSft'lla . ).~las u:io , t:i como traduzir o meu )li 11":J IIIP11lo. Ta111hH111 ·vi puisag1!11s dAamargu– ra: c,rras que P.1oa 111 pura mim ttx– pn!ssõHs tJ., coutrariedade ou de a hnrr,.ci III en lo. Ê11tru Aslas, suhnisahia um CPrto roslu sulcarlu 1111 ru gas, amarnl11111lo, cl111io <111 co111ica magtt~lade, coro – ad,, cio 1:a11s douloraes, a barba gri– salha arrui vada pela nicotina. Era' a cara do asno ~alisfeilo, ao qua l a i11:i,,11uidar!H de mPu Pae havia, de uma l'eila , apra~entado os . lll('llS priuwirns v,-rsos. Otliu, o v,•lhot11 aqnPIJA, cuja ce n– sura archaica . 1ul111i11.1da do alto dtt um Sin:ii rlCJ desdP,u, e ern meio de uma rhPlnrica trovPjaule, me foz, desd1i muito cudo, aborrecer os pn– dautes A~ahorHar, como artista, os primeiros travores do. foi. _ ,. Disst! que ta111her,1 v1 as 1tlé as. , 1a, com uma clar11za sut'prHIJe11ctA11lP, a c.011c rP.tisação llo l11co11er..to, por uma forma oxlra,lha. \ Assim, 11or ex1>mplo, Aristotdes, -um husto quii 011 linha acl111irado em r 1u11lfJner 11oulo de 110111a, 1110• VAU-sfl deanle dos tnPU~ olho!!. Percebi que passava a Philnsophia. A mi11ha inlelligAncia compn•hPn• de u as cousaq, como s11 estive~•se de pé, sohre uma moutauha cou~– lruida com lodo o saher bu111a11,1. Passou, dCJJOis, uma fronte palli- da, cingida de laul'tlis. • Era Oanlti, illlo é : a Poesia. Em seguida, uulra írn11lfl Jta llida, coroada : 111ag dessa coroa, cahia111 gollas do sa11µu c. Ei·a o Christo, isto é ! -o A ltru– is1110. A' vista d f-!ss:is fil!t1rn•, PU :m11tia o h Hlll P~tarinfl11ilo 1k .111111111111i,1tto. tl11lrr,• ns 1111•11s lin1111l1 os, as 1lt•vo– ra II t,•s H 111,1rli lt•rr,~ c ha 111111ai; co 111e• f,'av:1111 a vrlirar c:0 11111 i1zas. 'l'ndu is~o í11i ohrii dl' Sti~undos. \'i e cn111JtrPhe11di ludo ua rapi– dez clAum instante. 0Pus tarnhem tie a presentou á mi11ha vista. Ueus era ludo aquillo : Chrislo, ·.A 8.lll!U.Jf..l– bante, Àtistotele~. as paisagens, as recordações, tudo ! Desfeitos o espanto e a surpreza do princiµio, e quando compreben• di a . inutilidade do esforc;o para apagár as chammas devoradoras, foi que me chegou essa extranha lucidez. Mas nem então, nem no auge do supplicio, pe nsei em morrer; ao coulrario, acreditei que mào!I pie– dosas e fortes chegariam a tempo di, me salvar, e emqua11to me 11s– tava es,•aindo, snuhei que, dias de– pois, iria despertar em urn aposen– to desconuecido, 110 meio de 1?e 11tt1 boa, solicita em me cuidar, até, fi11al- 111H11le. a pouco e pouco ir vollau– do a 111im. llHpilo: nem nm insta1!te acredi– tei que fo~se essa a minha hora t'Xll'lrn>a. ••• Uo lado de cá da sepulturt na sombra. P.slá-se melhor do que ao lado oppo~tu, soh a caricia do sol. Ulili~o-mA cleslas palavras, µara 1111: comprehe11der<Jm; mas aqui não e xistem as runcções, por mercê das qliae~ uo~ cabe em sortes lá na Vida soffrlmeuto ou alegria. ' Aqui 11ào se lern consciencia;– ai11da se dirú, talvP.z, ()UI' i~to é uru Jlaradnxo, nos 1111111s lauios-; nesta m1111sào, o Jll'11~ame11to s11 eva11ora como o perfume .de uma flor e ,•ae anndH vão as cõres do arco-íris, e 3 Jur. elas l'strnllas, o as mu,:1cas. Entretanto, os alomos i11constan– t tis o com aocia df! perduração, se tra11sfor111am em fronde dR lam 11 rin. do, anrn11hà palacio do passa rfldo· em folha de livr~. ~manhã ~Oróa d~ hc•roos; 01~ em Y!ve1r? dt1 0111,ereo 8 a111a11ha "ªº dti 111lelt1.es. A 11101'l11 vale mais que a Vida para aquellPs 1111e 111io soborfla;,• mPI, ma~. 3J1811as, dores 110 mundv 1 O:i. desgraç:1dos dPv~m retirar.,~ d:i v1tla, tfllt! e um lestrm, onde uão J,a Jogar para rllP~. 11 1 w~sit11i~11111 e uma cou:rn iuntil · Mns u l\um~m. 11~11smo o mai·t\,.· ªl"'l:la-s~ a e_x1sle11l?'ª· P!•rque " ctu·vi'. da", p1_11111•1ro, - isto e pelo III Atl l11t>oloµ1 co 011 moral; P., tl npnis 11 , 1 ~ ,, • . ' , .. que "l1i111t1 , l~ln H : pela dôr, l•h • sica qun prPpura a clt1sl1 uiçàu tltt }: proprio. Mt A du,·ida, da certo, ha de e:1.isti. SAllll"."• c1111111 o allrilrnto n,·,i~ 1 1 ' .. ' .-, llJ .. 111a110 tlu ser; q11a11L_11 a 1lor Jllrysic ela 111orl!l volu11l;irra, posto ljltH ~ b P._lll comprado a preço do sacrilici seJ:t ~randi, e vulioso, parnc 11 ra a 0 homnm snmpre carn. u o 1to111e111 e avoro de sua vida SP a 1lnr e IM partn íosse PX 11 ,:ri_ nl<' lllada a11tPS d o pr:IZPI' do lllllOr 1111.rlh i>r 11P11i111111a tPria prole, ' N••!llP, con,o tllll nutro~ casos ualurl'ZH appart'ula ~a h1>d11riu. ' 11 Cuntu uma forn1osa leucla oi·iP.n. tal qll A um proph1il1l resuHt' ilou 0 irmão de duas mu ll1ores 11icr1n~a Su ulguem pude~so, como 1111 tu:1. ~;

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