A Semana 1922 - Novembro v5 n 239

L Traços & rzscos Na tarde indecisa ª· pai7,agem se aguava em tons de cobalto e losna. O ar parado t inha a quietude dos crrandes silencias. Na avenida, o ~rande collar d e perolas luminosas dos la111piõesnccesos,de relance,der– r anrnva soore o usphulto uii)u e5pe– cie de olPo alaranjado, b runindo de scintil!uções bi,mrrus os cantefros dis!JO"tos em sy11,etriu. Um a:;to1110 · vel, côr de vêto de came:lo, descia e m 1::111chu lenta, lembrando nm .rnwde arach11ideo d.-s lizand'.l ªº" rruncus µela rua. As palmeiras per– liladas e111 li11ha n,cta, <>ra111 c,,1110 u111"- lileiru de iuolus dum templo antigo. l velte s11rg-i 11 num passo miudo, com 011dul;,çúcs de ca n11Ua< 110 cor po de an1phora, e n volta 11u111ll capa ci 11- ze11tn. dn E~!-!os:--iu, corn as 111a.11µ:as arrepanh11das ao cotovell,,, deixa11- cl o i~ 111ostra u111 soberbo par de hra· ço;, t or11eados, .)0r de alabastro. Os pés, enconchados 110 sapati • nho de pellica branca, lhe dova.rn 11111 a g rnçu irre,istiv~l e umu pose de 11111 ,her el,•gante. Cu,tosu figa rL•· lava-lhe e111 11.L!anços graciosos ao collo e 11 111 bruçnlete de brilhante 111 nrdia· lhe o pulso f'SIJner<lo . Adereços e amuleto~ de valor pen· <1ia11 1 da volta de ouro, num.11- osten– ta,;:10 de luxo " de bom g,;isto. No c,tl.,,..llo, frisado (L moda oriental, um J iade111a represeptundo a lua t:m A SEMANA crescente faiscava de níbis e a~a– thas, contrastando com a s implici– dade dos grampos de onyx á ,ma– neira de leques. Um leve perfume indiano se efüerisava daquelle con– juncto de formas esculpturnes, en– chendo a paizagem dulllu especie de ----------·················•·-··-··- · volnpia morna, que impreg-nava os sentidos dnm cansaço e dum amo l· lecimento preguiçoso. Q11a11do passou pol' nó~, curvou– si, ligeira11te11te num cumprimento g-rai:io::;o e cd ucailn, sorrindo corn elegancia e deixando ver a denta- dure. alva de porcellana e os labios tentadores. E foi•se 1·apida, no bai– lar do pa;;so raro ... Osmar, então, co ntou· me a vida claquella rainha. Vinda não se sabia de onde, fizera época nos salões do Pare e do Burgiérc. Tivera innu~ meros arlora<lore,:, cQuquistara dA relance ns mais solidas iortunas. O dinhei,·o v inha-lhe ás mãos a rodo e el la pal'e..:ia desdenhar da sorte, repellindo·o com de:icadeza. N ii.o se conhecia um só amante que a ti ves · se esern·visado mais ele uma semana. l'areciu :,e comprazer em apaixonar. Dizia-se que e ra russa e que, trahi• da pelo marido, um conde e influ– encia na côrtc, fugir ao pilhal·o e,11 udulterio e jurara se vi1 rcrar ão sex•> forte, t11r turn11do·o com ; ua belleza. Cr,n tnvum que tinha momentos de allucinuções, que falava nessns oc· cas iões 110 no11,e de um homem e que terminava nnma prolo1rcrada c1+ se de chôr,i. Alguern, que;; conhe– cia de perto, souhe que ella i11d,L tLmnva loucamente o marido ... E que fa7,ia .tudo iüo por amor delle, somente por amor, ·mas u111 arnôr ving·ativo, e que era impossi· vel se extinguir... Meu amigo, arrematou Osmar, lrn amon,s violentos de differentes ma– n eiras . E ste é bem exquisito... Lon· ge pas5avam pregões g ui11cha11do em V07. fanhosa 0 emquanto eu e rneL1 amigo sorvemos o u ltimo crole do cock /ai[ e nos dispuzemos ;{ dt:iixar a mes inha do café-concerto. SANDE. =======~~==================== 0 Yls horas Ao CARLOS GARRIDO. umaauma . abater sonoramente, Dançam as horas em meneio alado, A vencer os exli'emos, ladoa lado, Do rel ogio ~ue pu!sa eternamente. Ennômia, - primJvera florescente, Dicáa,- que é o verão caniculado, lréne,-que e o inverno consequente, c110rando em gottas oaguas opüssado. o outomno que no inverno éra esquecido RcnascérJ depois com mais ventura ' Pc!as t1·es horas muHo mais querido; Eais:m, essa estação sempre etid1, C:Wagner_ Sonhador musical do soffrimento humano Remanesc_endo a_ vida em que se preludia: A sonanc,a febn l de febri l 1armonia Que aterra transfigura etransfigura o oceano! ... A musica traduz no seu poder arcano Sensações do tumulto em que se reli ectia, Deum O_rplicu a~o,rqso ofatal desengano, Que as feras dominava ea propria alma illudia. Foste .tu, be_mo_ sei ~onhador de chimeras, oue a musica , 11cut1ste o sopro divinal . Que se eleva no além, que domina as esp1,ei·as !... Sobrcpairas no mundo encllendo a vida inteir 1 Na mesma orcliestraçao uo espirito immortal Que tronsmudára osom na lagrima primeira Í «l,?e/11.'fium Fcccatvn1111. D Lonl,o F1LII0. li Na promessa do fructo e da fartura : - Gloria do proprio Amor, gloria da Vida !. - .;;,_;;;;;;;;;;.;;;,;;;;;;;;;.;;;,;;;;;;;;;.;;;,;;;~~~;;;;;;;;_~~------;;: .... - -.;;;;-- ;!J

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