A Semana 1922 - Novembro v5 n 239

.. A. SllllfA.NA. O relogio e ~s horas vossas pendulas, relogios abo• minaveis, para os quaes nunca chegamos a te~po e nos q~es nunca, por um favor do destino calculista, sur 0 oe a hora que ai- -.--- (GERARD o'HouvILLE.) Leitora. Julgas-te só; e, fechada no teu quarto de dormir, scismas. A tampada apagada; as flores murchas; os espelhos cobertos pelo véo da noite. Uma morti– f,cação mysteriosa, inexplicavel, opprirne a tua vigília e os teus pensamentos. O silencio é bu– lhento e quebra-o, por vezes, o estalido de uma braza que se apaga, emquanto tu sentes o perfume ~ubtil das tulipas a,na– rellas E~se silencio não é re– gulado por um sopro monoto– no, um passo cadenciado, por qualquer coisa de imperceptivel e de implacavel a um tempo? Quem é que urde assim, capri– chosamente, ao redor de ti, as teias da sombra, co!l1 o fim de te envolver nellas como presa? Quem é ql!e te observa e te ameaça, apesar de seu aspecto familiar, honesto, paciente? Oh! tu o sabes agora, leitora ami– ga: é o teu relogio, a odiosa pendula, a pendula aborninavel que te encurta a vida, mez a mez dia a dia, hora a hora. 1 • E' o tic tac habitual do . relo- gic, que tu ouves, com irr.itação intima. Sua rnachina arredon– da-se e aug,1enta, tal a teia de uma insac avel aranhn; fia, córta e mata; reus ponteiros ~ão duas fl échas, a mais comprida das quaes se assemelha ~ uma foice imperfeita, ttndo a í~rma de um fuso; séu duplo movimento, em certos minutos, é como a thc– zoura das Parcas, e as roJas invisíveis rwda mais são do que teáres, onde o pas sado se en– róla e o presente se enovéla. E ~e:npre o som d0 ty rnpa· 110 , me1 hodico e terrível, echo– ará implacavel. Isso te ensina– rá qut: n,ai-; uma hora soou, q:.ie mais uma hora dt: menos te separa do lllOlllen~o _supremo de teu repouso defin1t1,·o, Jo teu afastamento eterno paia o seio da morte. ·· ••• Oh ! Como eu vos oc;leio, re– logios insacia,·eis ! Quer sejaes de madeira, de tartaruga, de porcellana ou de lacca; de pre– ciosos bronzes, palacianos ou rusticos; relog ios feios ou lin– dos, pequenos ou grandes, en– genhosos ou simples, odeio– vos, odeio-vos ! E não ha casa, humilde ou sumptuosa, on ,le não esteja a vossa figura diabolica; perto do espelho, sobre uma rneza, em cima do fogão, onde tudo fica em cinzas, como o s ymbolo da Morte, da decrepitude, da mise– ria humana! Não eram jci bastantes o dia e a noite, para nos mostrar que tudo acaba e nada perdura? Era preciso ainda ouvir o tympano soar de noite ~ de dia, seguin– do a marcha inflexivel do Tem– !JO? A' luz do sol ou ao cla– rão da lua, o homem se com– praz em harmonisar os vossos mostradores, em aperfeiçoar as - •~J1 mejamos ! "Que horas sao . Oh! phrase tremenda n~ sua ba– nalidade e inevitavel na su!l re– petição! - "Que horas são?" Será, porventura, a hora de ser velho, de ser feio, da nossa morte? E a hora passa, passa e sôa, e resôa, matando as alegrias, eternisando o tedic, prolongan– do o supplicio... Hor-t inimiga! Inimiga dc,s amantes. dos sabios, l10 negli– gente e do trabalhador, tu s_ôas satanicamente, com um estndor magico e cruel. Não é em vâ_o que . nos contos antigos o di– abo toma a fórma de um re– lojoeiro! Quizera nunca saber a hora... para que? Veria o sól. ou a pri– meira estrella da ·noite, e diria commigo: ''A tarde cáe''. Isto não teria a precisão insuppor– tavel desta constatação conster– nadora: ' 'Oito horas, já!" (Continúa) j ACQUES RoLLA. ,eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee @~VOL[JVEL..h-- Fiojc, fazes-te cega ao 'meu carinho, vira~-me o rosto, indifferenteniente, e, qual passm·o ern busca de oufro ninho, f óges do nien olhm· sincero e ardente. Sempre és mulher. Jlentiste-me um pouquinho, crm,:.;e_quiste en_qanar-me, ~. de repente, . esquiva e louca, dei.ras -me sosinlw~ saudosa du teu beijo redolente. Crnrto a folha dos álamos voluv el ' vuluvel como as doudas borboletas ·z ' mio te prendeste a urn e o indissoluvel. Partiste-o. Vou ~,i.zer_ aos rr:nZmequeres, Vou contor aos .7asm,ins e a s violetas que tu és como todas as mulheres! JosÊ S1M.õE:s. ,

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