A Semana 1922 - Julho v5 n 222

-onto~r=~,;..,– d'.d~emano l:JI ~ ~ SONHO Ot OUTOf~NO [ De Alfredo Plm• nta li Xo Palacio encantado do Principe das ChJ•meras longín– quas, fechado entre largos rios que o abra~am e o estreitam, · ha na noite triRte e fria, uma ' . - vida. e uma ammaçao que en- chem (}e espanto as estrellas distantes, e tornam mais vapo– rosas e assustadas as aguas indolentes dos rios. Xas torres altas do Palacio, longas bandeiras franjadas de oiro, e lJeves pendões de neve e purpura batem as suas asas em movimentos que são quen– tes como palmas. Pendem das rai,gadas varan– da e_; de pedra, cochas de da• masco vermelho, debruadas de prata, por meio das quaes des– cem grinaldas de rosas e de lyrios. :Milhares de folhas de açuce– nas branl'ns atapetam as esca– darias de marmore. Pelas jancllas abertas, sáe a doce e suave claridacl_e das lu– zes veladas..Jl<+t"! candelabros de oiro. Uma brnma lactea luminosa envoh-e 10110 o Palacio, como se ele toclo ellc irraâ iasse pa1·a ai"mol'phera, a alegl'ia qne, de11- t1·0 ch. 1 1Je, faz pasi-;ea1· i-;eus so1·– risos. ~OH Salõel-l do Pnlario qne os perfumes tor11:1u1 lll,YHterio– so~· e re<·oihiilos tomo témplos e divin<laclei-: sC'cn ln1·eH, <' que ;1:-: flol'es, e o:-: :,:et in:-:, e as Jnzcs, e o,; c>spC'lho:,, e os t1·.n,taes, ,, as tnp<'<;a1·i.1:,; e11ea11fa1n <' en– f<'i t i1:a 111, mis sa Jiws do J'a ln- cio~ ha qualquer coisa de mui– to belJo que se não entende bem, e qualquer coisa de muito grave que nos deixa pensati– vos. O )?-rfo(\ipe erra como so– nambulo pelas salas desertas, com -seus olhos profundos cheios de uma ansredade eni– gmatica. Ha nos gestos das suas mãos . invejadas, que a solidão em• magreceu e afinou, lentas cur– vas interrogativas e infinitas. Ha nos seus passos, os vagos pa-ssos das ,iombras. As horas deslisam devagar, nas mudas ampulhetas die bron– ze ... E o Principe das Ohymeras longínquas approxima-se da rnranda maior do Palacio, e olha com manifesta inquieta– ção, a paizagem callada da noite fria. , Primeiro,-a sua bocca te– ve uma contracção ligeira de enfado. Os reus olhos ficaram mais tristes. Parecia até que a alegria do a r o magoava. Depois---'Os seus olhos fixa– r am-se 11um ponto distante da noite, e a. sua face encheu-se de uma gelada pallidez. E mais a mais a sua atten• ção se fixava no ponto distan· te da noite, luminoso e cl'es– cente. E aos seus otn-i1los chega- 1·a111 rnuito tennes, como o pas- 1-lflJ' <le 11111 sonho, muito doces, <·orno o coração de nm espil-ito, 111eloilia extra nhas de vozes que 11i11gne111 ouvil'a. Xão se snl>ia s<' c1·:11u as a~uas <los l'ÍOH llllll'llllll'U!Hlo sr11s ,·a11(n1·(>s, ~e as rsl1·el1;1i; dos <·t; lls tl izendo i-c11s so11lio,.: 1·pligiusos, A !>10:IAKA Mas o ponto distante da noi– te era j á um clarão luarento como alvorada caminhando . .. E o Príncipe, os olhos illu– minando-se, a bocca contente, retirou-se para o Salão, para o Salão das esmeraldas e espe– rou... ,Já não são melodias indis– tinctas: todo o Palacio vibra m·ergulhado eru sons de vozes de prata, cantantes, acompa· nhadas de harpas e de violas. E' um oceano de rithmos que invade e alaga os -salões, envol– ve -as bandeiras, beija. as flo: res, afaga as aguas dos rios, e commove as estrellas dos céus. E' ô sonho do Orpheu 1najesJ tatico e surprehendente... O Príncipe, na sua sala de ies~neraldas, espera ... . A luz do Palacio é o clesluru, bra.mento maximo. A-s flores dão o seu mais intenso perfu– me. As bandeiras agitam-i::e em alegrias doidas. Os damascos resplandecem. As luzes avj. vam-se. E' o d·elirio elos sons-dos sons. das luzes, ela c:ôi~ e dos perfumes. E pela grande porta do Sa– lão da'S esmeraldas,-'EllL'l, a Princeza qll'e O Príncipe agual·· dava, entra . . . Partfra, um dia. pm•a igno– radas terras, levada por igno– rados motivos, em uma hol'a ignorada e trii,te. Deixara, no abandono e na .magua, o Prindírie, 1seu i-e– .uhor. Deixara , na tristeza • e no desconsolo, os olhos <lo P1·iuci– ])f), seu senhor. Deixara, no frio e na viuvez, as mão:-: <'n riciosas <l•} Princi– pe, seu i,enhor. ~)eixa1·a nn. nma1·ga R:~mlnde, e na 1le~espel'Hcla <\e~olai::io. a bocca ,·ol11ptuo1<u elo P1•ifü•ipc•, sen Renh01·. Deixara 1m incerteza ·e na ca ncei r·a. 11 ;i 11Hir infinito ,10 J)1·in<ipP, :-t'U .·enhor. E e11t1·a1·:1 a agoui.1 do vive,•, 1108 :<;J li1t•s rlo P.il :i <:io. l~'l'Ji • r-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0