A Semana 1922 - Dezembro v5 n 244

Oicto , o camareiro, julgando– se victima de uma distracção de mau gosto, por parte do serviça l. -O senhor não viu os meu-, sapatos? - Ora se os vi! Até os en· graixei hoje cedo ! . -Explique então como é que só encontrei estas duas irnrnun– dicies ! O camareiro olhou os rebru– talhos e soltou um grito de es– pànto : . . -São os chinellos do men– digo que vem peJir esmola, de A SEMANA manhã. O rnalan.iro deve ter approveitado a distracção do pessoal, pa ra \'ir ;ité aq11i e tro· car as botinas. Que meFante ! Mas deixe estar, que havemos de avisar a polic··a. Magra consolaçã;J ! Furioso cdm a vida, o Si ,não entrou no ' . quarto a resmunga r . -Vão se fia r e rn sonhos! E pensar que certa gente vive a ,1eduzir palpites dos sonhos ha vid os. . . PADRf. OU BOIS. pode ~nstar de creaturas femi– ninas, e que tinha uma syrnpa• thia muito antiga, intensa e oc• culta por urn a das bellezas da terra, o te..i amigo, repito, não cabia de contente mesmo den– tro do seu terno mais folgado. Fiquei satisfeitissimo com o con• curso. Avalie você, aqu i na in– timidade, que a minha louca paixão por uma certa joven tor– turava-me ho rri,·elmente. E o que mais me fazia soffrer era não possuir um retrato da elei– ta do meu coração. Chegára, Í'orem, a occasião ha tantos an– nos esperada-o jornal estam~ paria nitidamente .o di to. Com que anciedade eu · aguardava o final do concurso ! Hoje, ama· nhã, depois! E os rapazes do jornal, como se. tivessem adivi· nhado a minha sofreguidão, adi· aram a apuração final! Horrível I Conformei-me, po·. rem. O concurso, como todas as coisas, havia de ter um fim, Gastei um dinheirão cornpran· do exemplares do j ornal. O ga· roto já sabia, deixava-me nas mãos todos os qÚe trazia. Era eu talvez ·o seu melhor freguez. Não fazia caso do arame, gastava-o, a bom gastar, e sorridente. Ore– trato da menina me não sahia da imaginação. Dois vastos callos'já s e haviam formado no pollégar e no indicador da minha mão direita, detarito cortar os . pedaços do jornal, escre· ,·er o nome da mfnlia d va e as variadas assignatu: ras dos pseudo-votantes que eu ia creando. Um horror! Eu todo suppor· · tava, porem, heroicamen– te, resignadamente. Era um sacrificro, s im, mas a victo ria f,nal seria na cer– ta, ine\'itavel-o retrato, an~iosamentedesejado, ha· \'Ía de ornar a parede cto meu glbinete de estudos. Hav ia de o'hal- o, toJos os dias, antes do café, e en• feital-o com as flores mais bellas que pudesse conse– guir. ToJos esses pensa– mentos eram um balsamo divino pnra a tortu ra da espera dilatada. Comprei urna bellissi• ma mo ldura muito cara, e mui• to rloirada. Eu estava, mesmo, de uma prodi ga lidade extraordinaria! Não encarava preços! Comprei tambem, um fo rmoso prego de metal ama rello com cabeça de porcellana orlada d'oiro. Você está vendo, meu caro, a gran· de despeza que eu andava a fa• zer. Um dinheirão! Emfim, chegou o dia da apu• ração final dos rotos, Como

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