A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.169

-E'. -,-Os que morrem de repente são bem felizes. -Porque? . - Não pensam na morte. Não imaginas como tenho soffrido ! Ha uma semana que soffro. Vejo-me morto, acompanho o meu proprio en– terro . . . Sinto-me encerrado no caixã0, ouço o bater soturno dá terra que os coveiros atiram its pasadas e o ar me vai faltando, é uma ago– nia in~narravel, Heloi:.</l. E tu ? que ha de ser de ti '? Eu preoccupo-me muito mais com a tua vida sõlitaria do que com a minha morte. Não pensas no teu destino? •-Eu?. . . Se tenho a certeza de que não morres. Isto é uma crise, lia de passar. A inda havemos de ser muito felizes, verás. Que estás sentindo? -Ap11ga a lamparina. Essas sombras impres- sionam-me. -Queres que ac· cenda o gaz ? · -Não, uma vela. Uma ve la, aqui perto. · -Estás sentindo alguma coisa·? •, · - Ancia :-:-•. _Não será ' hora do' r'em~-,- - cl i o 7. . i :., ' • .~ : .;_N·ã~: 1 é ·-á~\iri:;-,, Cu. ,. -~,~ ,(- ,' ,. . __:.A's O; cirJCO.•.', ',.''. Cob1e-,me',01:r pés. --~ão fale.;,.tanto. ·Nuhca ,'-,-áú~ V es: sa:-tes,.1:1111:i flhresta, á noite; ~ ~ po,r i.sJJill que nJ e-· r5\ç:~n.:" · das que -nij. 1 ) ·:rc1 le. -Porqi:Je? ·~ -Porque_?Quan- do .·os ' :se'.(úinejos atra vessam a~ flo- ,.,,.. .. ·. E' .. res tas,, G·an ta.lJ.) . um meio .tJe;:·aoum· panha;ern.-sê" cte_ il– lu,iirem o ·me,10':..As– sim ~est6u ,eu .:..:pre:,.,.· •J • ~· ... e. , • " · ciso .ouvií--,rne, -sen-~. '-Não os sinto. Estás chorando? - Não. -l'fão chores. Vamos pas~ar contentes os ultimos instantes. Quero levar a impressão dos teus olhos luminosos. E, coisa estranha-não acredito na morte. Parece impossível que eu morra. Desapparecer para nun·ca mais! ... Em· fim . . . Sempre vivi de esperanças, foi o meu erro e foi a minha grande força. Nunca olhei para a terra, caminhei sempre de olhos levan· tad os, filos no céu, no longínquo, olhando o azul, as nuvens douradas, as estrellas radiantes. Foi um erro. Ha tão pouco ar aqui dentro ... Com que esfor.;:o respiro . Sinto, de quando em quando, um vivo calor no peito como se uma chamma se accendesse e morresse no mesmo instante. Que será? - Queres que mande rhama r o medico ? - Para que ? ~ São qu~cro e meia, o sol não tarda. Os medi~os pedem tanto quan• do são chamad(\s á noite... ! Cobram o somno interrom- pido. Esperemos , que . amanheça, é ·1 uma eçqnomiá. D~– . l me Ull) pouco d'a- . gua. . · , -Com assucar? · -E' indifferente. . : Sinto saibo de san· ..' gue: , -Não te levâ11- te~. E' um peso .. . ! J;>arece que me es– tão comprimindo, espremendo o pei· to para · fazer sal– tar o coração. -:-Queres escar· rar .. . ? -Tenho medo Ah! Heloisa . .. . h . _., ' h ' ' · t1r- ,e acompan _a- .- ' :.. ·. • •1 , . do pç,r • m.i,nh'alfüa.·., Q .efliln(lt•el <:<walhei,:_ri ,;I"'· JosJ ,l!cle_ro. Ca,·,·cro, memh1·~ P!'º~n!rn e.711~ E t · t n · d <lo nosso ali o com111e1·cw, e sua d19111ssw1r, esposo se11ho1 a_Em1lrn (,m · -Não fales. Vê se pódes dorm.ir um boccado. O lenço? é o lenço que pro– curas? Está aqui. ••••••• 1 • • •• • •• • . s ou a r,.ve~sa~ u ,:el'o,· (_/IIC ser,11e}1 J)a\~a a /:'u)•opo (t bó1•do do pnquele u , (10 Jol'9e... . uma fl oresta assom- . . -Não, para que has de ver ? E' um bocadinho de sangue. Foi do .esforço que 62:estt:i;. Queres mais um tra– vesseiro ? Ah! minha . Nossa Senhora l Meu pobre Luiz . . . Eu bem queria manda~ chamar um medico. Queres levantar-te ? Espera. Enco!:.· ta-te a. me1,1 br.aço. Que sentes ? Minha_ Noss! . S enhorn . .. ! Mas, meu Deus! Tanto sangue• Vê _se põdês cbn_te~-t~•. - 0r.o.sa .· Chégar~i . a9 ·(lm,? não creio. ·Foi _o .relo· gio que ..ba.teu?., . , . ~ , . ,, .. , ·Quatro e meia: . . . ._:-Aind.c1 cãrninhei meia hora.~ Parece-me que, se chegasse a ver Ô sÔI. :": o· s·Õl 'me salvaria, mas .. ...quatro e m~ia_ ... Os pés, agasalha-me os pés. - Estã9 beru çqberto~.

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