A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.169
-1 'ALVORADA -Que horas são ? medo. Até hontem, á tarde, eu tinha dores cor– t~ntes. De repente tudo cessou. E' a granàe càl– ma. No momento do crepusculo ha u~ la rgo si lencio : as arvores aquietam-se, as aguas de– rivam sem murmurio, calam-se os animaes. Pouco a pouco vão dt>sappa recendo do céu os -Quatro. -Não é possí vel. rinhos. -São quatr o. Sempre dormiste um pouco. -Não, não dor– mi. Não posso ~or– mir, ou antes-não quero dormir. -Porque? -Emqua nto :. gente dorme as ho_.– ras correm, a pro– veitam-:,e do nosso somno para fugir. Eu ouvi todas as horas da noite, to– das. E como vihram no silencio da casa! Parece que sahcm de um g rande sino. As horas da meia ·-noite precipitam!s e 'atropelladas. São as ultimas ven ci da s· que abafam, ~~ ro!: ! dão, deixando o es- ~ ' paço li','.re ao novo t~Qipo. ; Dão -'a im– p1essão1 dt'- uí-,1 gru– l fJo 1.que se h1,u.ves- 1se refugiado no vão obscuro de uma ca· verna e .que, des-. coberto pelos inva– f ores, arrancasse em tropel · desa_bri– do, escapao.do á morte, com terror aos g ritos. Depois Estou ouvindo os pas sa- ul tirnos lampej os e uma g rande, uma infinita m el a n c o· lia, feita de sauda· de, levanta -se de 1 udo. Não é assim ? - Ha tardes t!io alegres. - Não ha. Todas as tardes são tris– tes. -Quando se está tris te: - Que braços são aquelles? -E' uma som- ,,. bra que t. eme com · os va!:'quejos da lamparina. Essa a– gonia da luz im– pressiona-me. . Eu estava a ve r aquel· le braceja r sinistro ha muito tempo. "E' a s ombra do · ca– bide? -E'. - Parece um vul· lo que avança e re· cüa, · a:neaçador e mau. - Sentes fepr..e ? - Não. f'orq·u~ perguntas? Julgas que estou dcltran· M a ria do Céo , gala nte f ilhinha d o pro fes s o r J oym e N o - do? Talvez esteja', b r e e app licad a a lum n a d a E s co la A nnexa. porque continuo a começa a rónda rngarosa-uma ras , tres, qua tro. S ão _quatro ? .- Sim, quatro. ouvir os p a ssa ri· hora, duas ho· nhos. Não é poss ivel que sejam apenas _quatro hora_s. _Emfi n,. . . E esse a rrastar .. . ? Que será que a ndam a arras tar lá fóra? · -Não tarda a manhã. estou com medo. Parece tempo de ver o sol. Não imaginas como · '- E' " o ·ve11 to nas a rvores ... Deita-te. Deves que não . chegarei a es ta r can~ada. Se €.U sentir alguma coisa, cha· mo- te. Deita- te. ' . - Que sentes? . -Nada. E' justamente por· isto ·que estou com -Não te 9reoccupes commigo. -E' o ven to nas ·a rvores 1.. ?
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