A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.169
01:10 zou a perna e disse em tom tranquU– lo: ~sempre compraste 11.lgumn coisa?... dl:i:e. I -Eu? Qual! Abalei. A cnsn treslLD• dav1L 1L suor e 1L gentalhlL _como um1L tlLVerna. -E o Jellilo contlnOo.? -T1Llvez estejo.m, 1L esto. horn, no quarto de dormir. -Devias ficar com esse qu1Lrto, AI· berto? -Eu? ,Porque? Tu ê que o devias. disputar a ouro. Riram e, repoltJ'CaD• do-ee com volupln, as milos cruzndns, rolando os pollegares, emmudecer.,m. -Uma desgraça ! suspirou, por nm, OctaVl!o; tomando no cinzeiro o charu– to. Qubres n minha oplnlilo? Allce foi vlctlma dlL boÇ1Llldade e dn Inercia do marido. O Arouca.... e quedou pensa· tivo. -Que queres dizer? . -Umo. coisa simples. Tomo .Jlm gole do ollar'treuse e, quebrando a cinzo. do cha ruto á borda do cinzeiro, disse com 111.. tldilo: Os maridos, meu caro. AJ. berto, silo, em ger1L!, como os h1Lbltnn· tes de umn linda cidade, que nascem, °l'lvem e morrem sempre fieis a um bairro, sem curiosidade do resto. Ra– ros silo, os que 1 nrlam de caminho, sc– gulodo sempre o d1L marcha dlnrln: /ln casa pnr11, o emprego e vice-versa. Os nmru1tes alio como os éxtrnngelroe que chegam e · logo, apres~ damentc, com a,ncln de VP.r, procurnm~s sltlos plttores,cos, os arrabaldes grnclosoe, os recantos mais bellos. Vilo 4 montanha, entram 4 floresta, percorrem os l'Ur• qucs; almocam em frescos boteis cam– pestres, sob lntadns verdes, n beira ' d'agua, sobem a oscnrpns, com risco de vida, por umn puraslta ; perseguem lnsectos e, _chegando a uma nl>erta, en– tre rochas, descortlunndo um ' trecho amplo dn cidade longl,iqun, l>ranca, ful– gurando n l>elra d 0 mnr dormente, a– longam olhares de extase e rompem nos hurrahs ! em expo11tn11e11, lrrepdmi– Tel glorlflcaçllo da bclleza. Eu, sa– bes? foi 11a Europa que comrc~I a interessar-me pela Tljuca - - e nasci 4 sombra da serra mns:nl– flcn.' Pois sõ a visitei este unno porque, eDI Paris, certo lnglez que aqui esteve, descreveu-m'a com tad enthu– slasmo que, apenas retirei a; malas da alfandega, corri 4 montanha a gozar, n t nrtnr-me de gozo. j SIio assim os maridos. Vivem ao ln• do de mulheres béllae, cheias de en• cnntna aubtls, graça. eleganclu, esplrl– to, melgulco... e' ardor e sõ as co11l1e– cem pelo que vêem no bairro bnnnllasl– mo do chamado "dever conjugal". São ' 01:10 01:10 • Incapazes de uma excursão 4 lntelll- gencla, no capricho, á tnntns,n; lato é : Dilo procuram un mulher o que jOstameo·te constitua o "dolicloso fe– minino" que é. . . como direi? os me– andros dn frivolidade. A natureza at· trnhe q entrega-se no que 1L expJorn– o seu .mag11etlsm 0 my,sterloso é uma st!ducçll.o. l!JJ!n dd-se toda, sem reser– va, IL quom lhe desvenda os segredos. Dá-se nn ngnn da fonte e 110 ouro das mJnas, nn ,flor do ramo e nos thesou• ros dos rios, na voz do pnssnro, no frescor das som"brns, em tudo ! Assim n mulber. O Arouca, se nlguem alludln 4 ln– t-elltgencla vivaz de 1Alice, encolhia, com desprezo, os hombros quadrados. Nunca pousou um beijo nnquelles olhos violetas; nunca desprendeu, pnrn admirar, sentir, alumiar-se no seu egplendor ,nquelles fulgurantes cn– beHos louros, que silo n medida dlL al– tura nlro.sn daqueHn deus1L cnnal. Nunca procurou decifrar o enygma dn• qun!las melnncolla11 enervantes; nuncn percebeu que as mais lindas milos, que jamais remataram pulsos temlnl· <nos, 0 ernm na dn sua mulher; nun·cn desceu os olhos até ·a pequenina, mimo– sa galanteria daquelles pés. Llmltuvn-~~ a pngnr-lbe as co11tns, n offerecer-lhe o bral)O para ncompa·uhal-n no Lyrlco ou nos s-nlõea, cumprindo um dever do marido_ com o ~elo, c~m a pontuallcln· de com que um nmn1111ense faz jQs 4 ablclonad1L promoçilo. Alice ,era uma mnravllhu lnêdH'a, á espera de nlguem que n descobrisse. E Leonel nppnreceu. A mulher ex-bi– be sempre os seus dotes e revoltu-se despeitada se os ·11ilo apreciam. Bu tollottcs que silo o rxngger, !ln nudez pelo renice que dilo 4s llnbns do col1J)o, accentun11do-ns, como o co– lorido anima e faz resaltnr o desenho, e usam-nas ns mais reservadas affrou– •tnn,lo. com vaidoso a•prumo, todos os olhares. garantidas pela ~..,n,·,m~ão 11· nlvorsnl dn moda que Impõe o umorel• lo e. . . 0 lh11mdor. • Arouca nno conhecia Alice. Em um Instante de amor Leonel, que era o o~trn,ngeiro, descobriu mais encantos 1 do quo o bruto em quatro annos e melo de vida commum. GarRnto-te que se lhe f alares de certo slgnnl, run "tormn de lentllbn, que IL mulber tem nn es111Ldnn, ello fl, caro pasmado porque nunca o viu. A pobreslnha peccou por iudlsrr:~i!o da ,•aldade--tl11h11 encantos, querh1 que 011 vissem; o marido era ln<lltfe- ro11te. olln entilo. . . ' O Arouca nílo nos mettln li cnrn n sua hedionda collecçilo de moodne? - cobres antigos com garntujns corro1. 01:10 oâõ das, ourlLIDn muito n-llsada, pratas Bll· jns, até couro e buzlos, uma metallur– gln lmmundà que nos deixava os de· dos nzlnho.vrndos e niilmá um ~rande ·nojo pelo dinheiro? A mulher tinha mnls preciosa coll~ cçllo e, poNJUe IL moe~ ou, 0 ldlotlL, numa robentl111L tyranlcn, erpulsou-n de casa. a escnndalo explodiu, fez epo· cn e pnrecla esquecido quando o lellílo, nnnunclndo jlm todos 011 jornnes e cnr• tnzes 11ttlxados noe muros e nos nn• d.n1mes, velu, de novo, trazei-o 4 bnl• la. Pulha I Amnnhíl andará por' ahl rasn:en,ndo o que o lelloelr 0 hoje dis– persa para romonta-r n casa que des– mantelou. Con,•once-te de que ainda havemos de tomar chn entre na orchldons d1L ga• leria de cry.stnl, ouvindo o rleo prima– veril de Alice e os coanmentnrlos rn• soe de Arouca. -Isso é lá posslvel, homem ! ? De– pole do que houve•.. -Se é passivei? VerGs! Elia partiu no Aragon; clle j4 tomou passagem no Ol1[de. V'ae encontrnl-a em Par)s e, juntos, percorrerilo lugares amavels em lenta viagem de... segundas nu– pclns. Agora é que elle v• nprecinl-n, depois do escnndnlo que poz em evlden· cln a belleza, qu~ o Leonel descobriu. Nilo foi um lnglez, em Pnrls, que me i'nlou dn maravllhosn Tljucn? Leonel tpl o lng<Jez do Arouca. -Só o Leonel? accentuou Alberto mo.Jlcloso. -O Leonel... Voltou-se, de repen• t e, para n noite: Homem, ..parece que estlou. . . Se fossemos no Pa1>ill1ao Motiriacor Entrenbrlu<"a porta. Rija lu· if11dn levn11tou 1mpetuosamente o re– posteiro, vonra-m papeis dn I mesa e o grosso jorrnz dn chuva ucrou11. - Noite d'ngua ! -Chove ho-rrendnmente. Reslgnemo- nos. Ha ah! champag11c. Vamos tomar wn p111101' e ler versos. E, estirando-se no tliva11, com a ulruotladn de seda so– bre o peito, Octavlo ~usplrou. -Dollclosn noite pnrn ouvirmos uma mcloclln d 'hn11pa. --Ou simplesmente n hnrplstn. Se– ria, tulvez, melhor. - ~iio, pnrn ouvir n harpista ... ha– vl!t um de mais. Rlrnm e, estlrauclo, c::-m volt11>ln, os bra!:i)s, Octavlo suspi– rou : DellcloS1l crlnturn ! Foi 4 cam– palnhn, fel-a sonr. Do novo merg11Jho11 no dh·n11, em longutclo obnu,)•)110 ~– co.uio o crlndo nppnrecesse á portn, en· commendou: -Um 1>111101' de chmnpaonc. Ólha !... e. charutos. COELHO NET'l'O. (Da ÂC&fomia B . de L~ttMB). Cartões de .visita Osmais finos, os mais artísticos, e de preços modices, sãb preparados nas Olficinas Graphicas d'A SEMANA Trav. 7 de Setembro, 33 Telephone, 278 - ,Pará
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0