A Semana: Revista Ilustrada - 1921, Maio. v4 n.164
0/ C0NT0/ ,.. • MINHA · AVO' E LLA morava, ha ma is• de trinta annos, uuma dessas ruas que commun icam o CattetP. com a Praia do Flaurno go. A casa e~a P.spa çosa, de doi s andare~. Em (la1 · xo dua s ~ala s de vi Hitas, a de Jan· ta;, e uma comprida varanda 011~0 havia um bilhar-hagatella q_ue fazia as minhas delicias de me_n1no. Em cima os quartos de dormir e out1:a vara,;da qu e servia de sala de reurw ão para todos os ~ia8. Na fr ente um j.irdim bem cu,_dad~, com duas palmeiras, uma muito vi çosa e alt~ , passa11do o telhado, a outra rai:-h1 · tica, ameaçando 1~orrer. · No fundo havia uma pPquena horta, a cosinb a e outras depe_n· d,rnci as, a coch eira e a es trebaria. O servi ço era fP.ito por escravo_s cre· ado~ na familia ;a vtt lha Supho~1sma, que salJia preparar gostoso! q111tutes; a Juauna, rapariga de dezo ito an~o~, quA comia terra e usava- por isso uma m&scara de folha de flandr es ; o Gabri el, prrto mioa,excel! ente cu· ziuheiro e esperto coch eiro, e o Fern ando, mol equ e intelligente, q_ue accumulava as fu ncções de copeiro e la caio. . . Esse mundo vi via na mms-cordial harmo11ia soh o severo po~ém íll~ · tPrn al dPs potismo da Ba, idosa aia li , !Joeta tra zida de al ém mar quan– do o s n: . Dom João Sexto ~mi_gron para o Brasil . Ella era mrudrnh~ , tiuh:.t a pelle secca como perg amr · ui10, o qu e não ol)~la~a a qu ~ pos· sui ssse urna e1rnrg1;r _rntra11 s1ge11l~ 11 0 ma11Pj1 da casa, oao supporlan 110 Cl•nlravenção ao me~llOdo e~ta· llPIPcido, nP. m dos 1~ropnos pat, oes. Na cocheira relu ziam as la1.'ter na_s de prata de uma velha por.em cur dada berli11da , ainda conhecida pe!o 11ome anti go de sege. Na estre hari a pas~a vam IJôa vida dua s besta s _rn s· sas qu e não prPlfrndi_a m se r bou1tas, mas eram j!ordas e v1g drosas. Qu and,J Eli a sa hia 11a sege, com o 11e 11 ri co vP.slido de broca do, e sua ttJu ca de fi11a rend a qu e dP. ix ava: apparecer us caracoes de al vo~ ca· bell os relidos por pequ enos µentes de tartal"J ga, i11do &OIP11tO P: rn 11 11to sr. utado11 na bo lPia o Ga l>rr fl l e o Fe rn ando, dP. fa rdas azul fl ~a rm e: si m, tud o li mpo, co n ecto ~ 11npre. gn:>do d;iqu_Pll e ar de an ti ga e se _ vera fida lguia, os transeun tes sa u davam a sua passag~m com sorriso de ~y ,npat hi co re~1rn1to. . Mas a SPge não sahi~ por q,ua lque1 mo tivo. Servia para ir ao I aço tres ou qu a!ro VP.ZflS ao :rnn n ; par!! as recP. pÇOP.S semaoaes de Dona RP.sti· lula da Maria Elisa ou alguma outr~ vi ~ila. Du:is vez11s ao mP.Z uma das lias ia nella á cidac!P. compr:ir os ohj rctos necflssari os. Os visinhns apro vP.iLa vam essa viagem para fa• zeras suas f: ncomrn end as. A partida da sP.ge dava P.ntão luga r a um rnovimAntn inu sil ado na pacifica. rua . De ca sa do Ferreira, cio Leão , do São J'lrg11 vinham pedir oue troU XP.SSe qu a lq11 er r.0118a; até OPll' gP.11h eiro fr·anCP7. Lenoir, q11 e mo· rava na ca~a ao lado, m:rnd ava a sua li slioha . Nr.ssa époc a 11 ão havia bonds A a gond ola passa va ra rarn pn • te e quasi semp l'P. ch eia. Tamhem as casas de negocio eram r.scassas no Cattete e vendiam' muito caro. Quando a sega voltava, lá pt• las du as horas, rPpPlia -sA a mesma aníma ção e descarrnga vam ·se os embrulhos no meio de urna aleg re rnzeria . O ai moço era ás oito horas, frll' gal e suhslanci al. _T~rmin a~a 8r. m· prn com um d11 l1c1oso _cha ve rd_P– cuja escolha era da s mai s compl1 · cadas e dava lugar a frr.rprn 11tes _e demorad as- questões com º. 11 Pgoc1· ante da rua da Cancl 11 lana qu e o vendia . Alm()c;ava·se 11a va randa de ci111a, ond e, depois, Ella e as tias Pntrega'va m·se aos s11 us a{fa ~~ res d? di a, costuras, leitura~ ou 1n~erm1 · naveis pac iencias qu e enchiam a mesa de cartas. .Janta va·se em baixo com solPm· nidadr, todos já \'eSlidos para o pa ~se io da tarc! P. O sr.rvi ço P-ra de ri ca porce lana da l11cl ia; os talh eres dP. anli :.ta pr:i ta, as ra cas ga~tas e afiadas como o ava lh as pelo exagw ro da limp PZa. O Fern:; ndo ser via a ml:lsa r.om a vi stosa lihré e dr. luva!! brancas. Üll J1o is do jantar Elia jo· ga va nma partid a. de gamã,o na vara nda crirn urn a <l as lia~; Pll estud ava a l>agatPlla . Ess>' concPrto de d:,cl os, 1wdra s de gamão e bolas de bilhar não es torvava a co11 ver· saçào qu e ve rsa va ge ralrnPnle sohre os assumpto s da gaztt tilha ou dos aa pedido» do «Jornal do Cnrnm t-> r· cio»; tamhem se fa zia innocAntes comme11tari os sob re a vid a da ma esse pPqu eno mun do da qu e Ell a !1 1'3 a sol>eraua por un anlme acc la · mação. Ma is .a rde, quando os ardo res do sp l dimiu uiam , nM M11lavamos á porta do jardim. Uma das li as r.ntre ti nha ·se li mpando ou rPgandn a~ 11 lan tas predilec tas. Com11çavam eulão a apparecer os viainhos : o FP. rl'Hirn , a ~lagdalPna , a filha Fio· re11ti11a , o Leuoir. Pal P.s trava·:<e um nouco e dPpois comPçava o :,iraude pass,do pi:, Ja ro a, desde ., CattPle até a praia r vic<.i· v11 rsa, _r~crutau_do p11lo caminho as fa1111l1 as Lt>a o, Cos ta, Torreq, S. Jorge ~ outr_as. Al gumas VP.Zt'S 0 rarn 11s mais de c1u– COP. 11ta ,e occ upavamos toda a lar· j! Ura da rua , os maiores conversan· do, 116.~, as criança ~. correndo, bu· lindo com o tio Caetano qu tt Pra mu ito travesso e judiava comnosco, ri11d o·se com Pslro11dosas garga· lhadas que contagiavam a alegria em lodo o bando. Quando ch e~avamos per t ~ da pra ia pedi amos licPnça a' 1 M1111.Ja Avó . (a ssim a chamavam todos OQ µeq11 P. 110s e Eli a a todo s amava como se fo ssem do se u sangur.) para ir pescar ciris. Tira vamos_os sapa· l.fl• e as meias e no s mP. llramns 11a ag ua :i té os joelh os, oão se11do raro qu e al oum rtisval a~se A lomassA 11 i11 ba~l10 in P.s peradn. Elia então ra lh ava e prnn, ellia não d_ar mai s licP11 <;a, ma s d.. pois esquPc1a·se. Q11 ando cansav am de pas~ear SPO' ta\'arn-sa tpdos outra vez a porta do jardim. O Gabri el. _o FP. rn audo traziam cadeiras e se nao bastavam as dH casa vi11ham tamlw rn as" 1 do FerrPira . Nó~, os pequ ennR, cn11ti· 1111ava1110s as 11ossa~ corre rias e trav essuras. lnvadi a1110s a ca sa do Lenoir, re mexiamus os se u~ dese· nho • O:< Stoll S JIÍII CP iS e compit~SOS, bulia 1 mos com tt ve llrn co11sinh eira, 11 Pg ra l>ahi ana qu e nos dava docPs da ~na lavra, persPguiamos o gato e só Cflssavanws quando o Lenoir, por ord,..111 dP Minha Avó, vinha pô1" 11os para fóra às palmadas cor· rendo alraz fi e nós pPlns qu artos, 110 meio de gritos e ri sadas delle e 11ossas. o~ grand es co nversavam , Eli a do· mi11 a11d o sr. mpre 11 Pla sua clara intel li gPn cia, )JOI' um ÍPClllldO P,S' pirito e pelas suas int,.ressa11le~ !1 opportun os rerer11 11ch1~ ao p_a~,a do . A's 9 ho r;is cad a am s,i rPl1ra~a para a su :i casa . 'l'u 11wvn ~1 os e!' La? chá na sal a de cima i l~ll a .3111 ~~ faiia algumas pac iPncr~s e 111 111 ·. durrn ir com a conscie11 c1:1 levf''. SPfi l indo- nos feli zes 11 e~sP _a mli~et~~~ Jl ll l'O e ca lmo, so h 3 l>enPhca encia daq u.,Jl a alma sa •~(ª· ra•i· A terça·feira Prn, 1'º 1em, o_g ' , . de dia. Depois do almoço de1\a1J
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